O projeto de extensão Estudos de Sertania para Pesquisadores em Educação, do Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação (DFPE), vinculado ao Centro de Educação (CE/UFRN), retoma as atividades, interrompidas em 2020 devido ao impacto da pandemia de covid-19. Iniciado em 2017, o projeto ressurge impulsionado pela publicação da coletânea O Ser-tão na pesquisa educacional, em 2023, obra coletiva dos membros do grupo de pesquisa Sertania e Educação.
Sob coordenação dos docentes Rossana Pinheiro e Walter Pinheiro Jr., ambos do DFPE, o objetivo da atividade de extensão, destinada a estudantes de licenciaturas, professores da educação básica, pós-graduandos e docentes da UFRN, é a qualificação de pesquisadores em educação.
A abordagem sertania propõe um novo olhar sobre a educação, fundamentado na riqueza cultural e natural do Sertão e da Caatinga. Inspirado por autores como Guimarães Rosa, Paulo Freire, Antônio Bispo dos Santos e Conceição Evaristo, o Sertania busca construir uma nova lógica de pensamento educacional enraizada na brasilidade a partir dos pilares itinerância, vastidão, antropofagia e pessoa, oferecendo uma alternativa teórica e metodológica à base epistemológica europeia.
Sertania, termo sugerido pelo professor Adailson Tavares de Macedo, origina-se de um poema de Nivaldete Ferreira e carrega em seu significado uma carga poética de simbolismos que realçam as características do Sertão nordestino. Representa um estado de ser que atravessa a filosofia, a poesia, a musicalização e a escrita, buscando retratar o modo de sentir e viver dessa região.
Segundo a professora Rossana, os estudos sobre sertania são uma abordagem construída no grupo de pesquisa homônimo e têm uma importância única para os pesquisadores. “Talvez a maior importância que ela carrega é o fato de ser uma abordagem que vem contribuindo, ao longo dos 14 anos de existência como grupo de pesquisa, para a desconstrução da matriz epistemológica do colonizador (europeu). Essa matriz é fundada na tríade branco, burguês e masculino, que exclui boa parte da população do nosso país e da nossa América do Sul. Por isso, é importante que pessoas que objetivam a construção de uma nova perspectiva se envolvam com essa abordagem”, comenta a coordenadora.
O perfil dos integrantes que compõem o projeto é majoritariamente formado por profissionais da rede básica de educação, com vários anos de carreira, que atuam nas secretarias e fundações do estado do Rio Grande do Norte e do município de Natal. O grupo também conta com parcerias de professores de outras instituições como Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e Universidade Regional do Cariri (URCA). Os docentes Miguel Zacarias, Walter Pinheiro e Amon Evangelista Paiva, que está prestes a se tornar o primeiro professor surdo a obter a titulação de doutor no estado, são os mediadores.
Sobre a retomada do projeto, Rossana comenta que o grupo já está junto há muito tempo e, apesar dos desafios enfrentados desde a interrupção em 2020, há um compromisso renovado em estudar mais e melhor os pilares que movem Sertania. “A expectativa é agregar novas forças ao nosso esforço para trazer uma abordagem para pesquisadores da educação que carrega em si as marcas de uma brasilidade, de uma nordestinidade e de um Ser-tão em todas as dimensões que a condição humana dá a conhecer”, frisa.
Com esse novo ciclo de atividades, o projeto pretende continuar contribuindo para a formação de educadores comprometidos com uma visão decolonial e enraizada na riqueza cultural do Sertão. O projeto está estruturado com um plano de estudos organizado em 10 encontros e as atividades serão realizadas em formato híbrido com início em 13 de agosto.
Confira abaixo o poema de Nivaldete Ferreira, 1979, que inspirou o nome sertania:
“Quis um nome
Que não fosse mania
Que dissesse um dito
Que fosse um estado
Veio Sertania”
Fonte: Agecom/UFRN