Pesquisa sobre leptospirose sugere métodos para aprimorar estudos epidemiológicos e desenvolvimento de vacinas

Representando um desafio de saúde pública em regiões com fortes chuvas, inundações e más condições socioeconômicas, estima-se que a leptospirose seja responsável por afetar mais de um milhão de pessoas e contabilizar cerca de 60 mil mortes anualmente em todo o mundo. A diversidade sorológica das espécies patogênicas do gênero Leptospira, bactéria conhecida por causar a doença, representa um desafio significativo para a criação de vacinas abrangentes. Pesquisa desenvolvida na UFRN sugere que métodos moleculares podem ser utilizados para melhorar a identificação sorológica, um avanço que pode auxiliar na criação de vacinas eficazes contra múltiplos sorovares.

A pesquisa, publicada no Life Science Alliance, destaca que a estrutura e os padrões genéticos do locus rfb são de fundamental importância para entender a diversidade sorológica da doença e poder chegar a uma vacina universal. O pesquisador Tetsu Sakamoto, do Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN), afirma que o locus rfb é uma região do genoma da leptospira composta por genes responsáveis pela biossíntese do lipopolissacarídeo (LPS), o principal componente reconhecido pelo sistema imune. Diferentes composições gênicas do locus rfb geram LPS de estruturas distintas e, consequentemente, sorovares de leptospira diversos. O pesquisador destaca que essa diversidade gênica apresenta padrões que permitem identificar o sorogrupo de uma amostra.

Para Tetsu, a classificação sorológica é importante tanto para os estudos epidemiológicos da doença quanto para direcionar planos de prevenção por meio de vacinas. “Conseguindo entender melhor esses aspectos genéticos da diversidade sorológica dentro da leptospira, poderíamos propor metodologias baseadas em métodos moleculares, como Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ou PCR em tempo real para poder realizar essa classificação sorológica”, acrescenta.

Organização genética do locus rfb em amostras representativas de cada sorogrupo

É importante destacar que na Leptospira existem dois tipos de classificação das amostras: classificação taxonômica, que envolve o aspecto evolutivo do organismo; e a classificação sorológica, baseada nas propriedades antigênicas das leptospiras. Segundo Tetsu, é a partir dessa última que é possível verificar se uma vacina de leptospira é efetiva ou não à amostra. Para os pesquisadores, não existe uma vacina que seja efetiva para a prevenção da doença devido à ampla diversidade sorológica.

O estudo revelou que as variações genéticas do locus podem ajudar a identificar quais amostras produzem antígenos mais similares. A identificação de semelhanças genéticas e funcionais entre diferentes sorogrupos pode indicar a possibilidade de reatividade cruzada na resposta imunológica do hospedeiro, gerando o desenvolvimento de vacinas que sejam eficazes tanto contra um sorovar específico quanto contra sorovares relacionados. Isso indica que a pesquisa sobre o locus rfb e sua relação com a diversidade sorológica é um passo importante para a criação de prevenção mais eficaz e abrangente contra a leptospirose por meio da vacina.

O pesquisador menciona que os resultados obtidos da pesquisa se basearam em dados genômicos de sequenciamento do genoma de 722 amostras de leptospiras. Tetsu comenta que todas as amostras foram retiradas de um banco de dados público do National Center for Biotechnology Information (NCBI), e que obteve os dados sorológicos de parte dessas amostras de um banco de dados também público do Institut Pasteur, na França. Também foram utilizados servidores do Núcleo de Processamento de Alto Desempenho (NPAD/UFRN) em uma parte do trabalho, servidores do Centro Multiusuário de Bioinformática (BioME/IMD/UFRN) e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFMG).

Professor Tetsu Sakamoto e discente de Doutorado Leonardo Cabral, pesquisadores do artigo

De acordo com Tetsu, o progresso do trabalho forneceu um grande material para ser desenvolvida uma metodologia alternativa para realizar a classificação sorológica baseada em métodos moleculares. “Estamos em busca de parcerias vinculadas a laboratórios de biologia molecular para poder realizar o desenvolvimento dessa metodologia”, finaliza.

Imagens: Divulgação

Fonte: Agecom/UFRN

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