A dificuldade em iniciar ou manter o sono constante e restaurador está entre os distúrbios mais comuns da população. Um dos tratamentos terapêuticos para essa condição utiliza sedativos-hipnóticos, que podem causar efeitos colaterais adversos como amnésia, alucinações, tontura, vômitos e potencial dependência. Para preencher as lacunas na produção de estratégias mais eficazes, um estudo desenvolvido por pesquisadores da UFRN concluiu que a melatonina, um hormônio natural, é uma opção eficaz e segura para o tratamento de insônia e outros distúrbios.
A pesquisa, publicada no Scientific Reports, tem implicações significativas para o desenvolvimento de novos fármacos e intervenções terapêuticas com efeitos mais promissores. Ao observar as interações moleculares entre receptor e ligante da melatonina, amplamente utilizada como suplemento alimentar para tratar distúrbios do sono relacionados a ritmos circadianos, como insônia, os pesquisadores defendem o uso do hormônio como uma opção menos problemática em comparação aos sedativos benzodiazepínicos (BZD) e não benzodiazepínicos (n-BZD), devido ao seu papel crucial na regulação dos ciclos biológicos que influenciam o sono e a vigília.
O professor Umberto Laino Fulco, do Departamento de Biofísica e Farmacologia (DBF) do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CB/UFRN), explica que estudou a interação da melatonina e seus análogos, como ramelteon (RMT) e 2-Phenylmelatonin (2-PMT), com os receptores MT1 e MT2, acoplados à proteína G (GPCRs), utilizando o método de docking molecular. Essas informações permitem compreender como os ligantes se ligam aos receptores para aumentar a eficácia e a seletividade de novos compostos.
De acordo com o pesquisador, foi necessário realizar a avaliação bioquímica por métodos quânticos de diferentes ligantes, com o objetivo de otimizar moléculas já existentes nos bancos de dados e propor novas, utilizando dinâmica molecular. O trabalho propõe essa estratégia com o objetivo de descobrir medicamentos baseados em estruturas (SBDD), potencialmente mais eficazes do que medicamentos baseados em ligantes (LBDD), como é o caso dos BZDs e n-BZDs. A compreensão das interações moleculares entre melatonina, análogos e receptores pode levar ao desenvolvimento de novas terapias que abordem condições relacionadas ao ritmo circadiano, como transtornos afetivos sazonais e distúrbios do sono em populações específicas.
“A gente modificou a melatonina e, mesmo assim, conseguimos resultados de afinidades receptor-ligante muito satisfatórios”, diz Umberto, pontuando que os resultados obtidos pelas simulações computacionais forneceram entendimento para novas interações, observadas com aminoácidos-chave. Essa descoberta oferece potenciais alternativas seguras para o desenvolvimento de novos medicamentos, pois permite identificar quais características estruturais dos ligantes são essenciais para minimizar os riscos relacionados aos fármacos tradicionais.
A pesquisa propõe a identificação de novos compostos com maior afinidade pelos receptores, e estudos futuros poderão incluir avaliações in vitro para confirmar a eficácia da molécula em relação aos resultados disponíveis na literatura. Segundo Umberto, a nova molécula será avaliada em próximos passos da pesquisa, visando a proposta de um novo medicamento para o tratamento de transtornos do sono, com redução de efeitos colaterais e menor potencial de dependência.
A pesquisa contou com a colaboração do Núcleo de Processamento de Alto Desempenho (NPAD) nas simulações quânticas e dinâmicas, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) e da Universidade Federal de Jataí (UFJ).
Imagem de capa: Reprodução
Fonte: Agecom/UFRN