Quando alguém morre, imediatamente surgem pensamentos do tipo: “o que aquela pessoa deixou para seus entes queridos?” ou “que legado ficará na memória das pessoas que a conheciam?”. De acordo com a psicóloga especialista em luto do cemitério, crematório e assistência funerária Morada da Paz, Alexsandra Sousa, o que pode ser deixado para quem fica vai além de bens materiais caros, como dinheiro, imóveis ou veículos.
“O legado ou a herança deixada também podem ser reconhecidos nos ensinamentos, emoções e valores que essa pessoa transmitiu a todos com quem conviveu”, acredita Alexsandra. A psicóloga também defende que a importância do legado vai muito além dos bens materiais.
Sobre isso, a assistente social Cristina Olivar Mariano, que perdeu seu esposo Alexandre Mariano, explica que na convivência com alguns objetos e lembranças deixadas por ele, encontra ferramentas para lidar com o luto e a saudade. “Os objetos que encontrei, após chegar em casa, depois da despedida, do velório e sepultamento, de início foram motivos de muita tristeza”, lembra.
“A certeza de que ele não vestiria mais a camisa do seu time do coração, que não daria continuidade à leitura do livro do momento, a série que ficou pausada, entre outras coisas que representavam a presença de Alexandre em casa, me traziam lembranças dolorosas. Mas, com o tempo, esses mesmos objetos também acalmaram a saudade tão presente nos primeiros dias”, explica Cristina.
Quem compartilha de sentimentos semelhantes é a enfermeira Vera Magalhães Braga, que em 2020 se despediu de seu esposo José Braga. Para ela, alguns objetos são sinônimos de conforto nos dias de maior saudade. “Resolvi manter alguns itens como fotos, cartas que recebi e algumas peças de roupa”, detalha.
A psicóloga do Morada da Paz explica que no processo do luto, com o passar do tempo, é natural que a dor da perda vá dando lugar à saudade. Por isso, nem todos os objetos que pertenciam ao ente querido falecido são mantidos por quem fica. Para Cristina e Vera, o processo de doar alguns dos objetos deixados, apesar de difícil, foi natural.
“Quando doei algumas roupas, senti que estava fazendo a coisa certa e que Braga estaria satisfeito com essa atitude”, comenta Vera. “Senti necessidade de me despedir da maior parte das coisas que ficaram e quando fiz a doação de parte dessas coisas foi difícil, mas ao mesmo tempo senti um alívio”, complementa Cristina.
Herança imaterial
Em meio ao processo do luto, as lembranças do ente querido são outro tipo de herança que tem grande valor para quem fica. De acordo com Alexsandra, “a herança emocional para os enlutados serve como uma ferramenta de suporte, pois se trata de uma marca que diz respeito à relação com o ente querido que partiu”. Ela ainda acrescenta: “em meio à dor, a possibilidade de conviver com essas heranças emocionais enquanto ferramentas é algo de grande valor, e pode sim ser um caminho de elaboração assertiva no processo de todo enlutado”.
“Nos dias de muita saudade, as lembranças do que foi vivido, do cheiro, das conversas dividindo o sofá da sala, as risadas na mesa do café, tudo isso é motivo da certeza de que tudo que foi vivido valeu a pena”, relembra Cristina. “Apesar de saber que o vazio deixado será uma companhia diária, ter na memória tantos momentos vividos e, especialmente, a personalidade de Braga e a forma como ele enxergava a vida, me conforta um pouco e me faz sentir que ele não está tão longe”, finaliza Vera.
Imagens: Reprodução
Fonte: Assessoria de Comunicação/Morada da Paz