Goiaba, jabuticaba, pitanga, uvaia, cambuí e araçá. Esses são alguns frutos da família Myrtaceae, foco de um estudo científico que reconstruiu a história evolutiva de diversas espécies desse grupo. De 2.200 espécies do neotrópico, 712 tiveram o parentesco estabelecido, marcando uma das famílias mais diversas que desenvolvem madeira da região. A pesquisa, cujo título é Towards a species-level phylogeny for Neotropical Myrtaceae: Notes on topology and resources for future studies, foi publicada no American Journal of Botany.
Vanessa Staggemeier, do Departamento de Ecologia, do Centro de Biociências (Decol/CB/UFRN), uma das coordenadoras do estudo, aponta que reconstruir os relacionamentos filogenéticos das espécies permite a identificação de plantas com propriedades semelhantes, de acordo com o parentesco. “Por exemplo, se eu quero uma fruta mais rica em vitamina C do que a goiaba, eu olho onde ela está na linhagem e pego espécies próximas para estudar”, disse. De acordo com a pesquisadora, espécies ricas em antioxidantes, com propriedades antimicrobianas ou anti-inflamatórias podem ser rastreadas na filogenia para serem aplicadas na medicina e na produção de cosméticos em estudos futuros.
A pesquisa oferece uma árvore calibrada, que além de esclarecer o relacionamento entre as espécies, estabelece quando surgiram as linhagens que deram sua origem. Os dados são importantes para os estudos de macroevolução, por exemplo, utilizados por alunos de pós-graduação em Ecologia no projeto Desvendando o tesouro da biodiversidade: explorando genes e coleções de museus para conservar a diversidade na Floresta Atlântica e promover a ciência-cidadã, coordenado por Vanessa. Os pesquisadores conseguem analisar questões ecológicas, como o papel dos animais que se alimentam dos frutos dessa família. “Esse é o primeiro estudo de uma série de trabalhos que a gente vai publicar nos próximos meses e anos, tentando esclarecer por que essa família é tão diversa no neotrópico”, explica. “É como se a gente usasse essa família como um guarda-chuva. Ao contar a história dela, a gente extrapola a história da floresta toda”, completa.
No artigo, a análise do DNA extraído das plantas e o sequenciamento genético permitiu que várias espécies não identificadas fossem descritas como novas para a ciência, e as identificadas erroneamente, fossem corrigidas. Vanessa explica que foram mais de mil sequências de DNA geradas por esse estudo, e que a reconstrução foi feita a partir da combinação de nove marcadores moleculares, que podem contar diferentes pedaços da história genética das espécies. A avaliação consegue dar um direcionamento para estudos futuros, focando o recurso financeiro na análise dos marcadores mais informativos e para preencher lacunas taxonômicas ou geográficas na amostragem das espécies neotropicais.
O estudo foi desenvolvido ao longo de cinco anos, sob a liderança de Vanessa e Thaís Vasconcelos, da Universidade de Michigan. Ao todo, foram 24 pesquisadores, e teve participação de 15 instituições nacionais, principalmente federais, duas universidades dos Estados Unidos, uma universidade da Colômbia, e o Jardim Botânico de Kew no Reino Unido. Quase todo ano, o grupo participa de um simpósio no Congresso Nacional de Botânica, que ajuda a construir essa rede de colaboradores. “Meu interesse nisso é para ajudar na conservação dos mais diversos ecossistemas, pois sabendo onde que surge essa diversidade, temos mecanismos para atuar na conservação das espécies”, finaliza Vanessa.
Imagem: Divulgação
Fonte: Agecom/UFRN