Construída para atender diariamente cerca de 2 mil pessoas na Região Metropolitano de Natal, a Linha Roxa, que conta com três estações de trem que vão contemplar moradores de Extremoz e São Gonçalo do Amarante, sequer entrou em operação, mas já precisa de reparos, conforme a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). A justificativa, explicou a CBTU, são “as chuvas que vêm ocorrendo em Natal desde novembro, as quais ocasionaram diversos danos à estrutura ferroviária”. A Companhia não indicou nenhuma previsão para início das operações.
Desde julho do ano passado, existe a falta de perspectivas em torno dos prazos para que a linha comece a funcionar. À época, sem informar sobre datas para operação, quando procurada para tratar do assunto, a Companhia informou que “a empresa responsável tinha feito “a entrega provisória da obra” e que a equipe da CBTU analisava “se todos os pontos do contrato foram cumpridos”. A reportagem, então, retornou às estações em janeiro deste ano e voltou a questionar a Companhia sobre os prazos, uma vez que, as estruturas, aparentemente, estavam em condições de funcionar.
Como resposta em janeiro, a CBTU disse que, em agosto do ano passado, testes chegaram a ser realizados nas estações para o início das operações da linha. No entanto, chuvas ocorridas meses depois, em novembro, provocaram o “carreamento de material na drenagem da via”, o que fez com que a Companhia notificasse a empresa executora das obras. Desta vez, a CBTU Natal justificou, mais uma vez, que as chuvas são as responsáveis por travar o início das operações.
“As chuvas que vêm ocorrendo em Natal desde novembro ocasionaram diversos danos à estrutura ferroviária. A empresa que executou a obra iniciou a correção de parte destes danos. A administração central da Companhia, com sede em Brasília, continua em tratativas junto à empresa para que todos os serviços apontados pelo corpo técnico da CBTU sejam executados”, explicou a Companhia.
Questionada quais danos foram provocados pelas chuvas, quais reparos feitos até agora e quais ainda faltam, a CBTU Natal pediu que a central da Companhia em Brasília fosse consultada, mas não houve respostas até o fechamento desta edição. Nenhuma expectativa de prazo foi divulgada. “Somente após a conclusão de todos os serviços necessários, pela empresa responsável, e a realização de novos testes operacionais, é que a via será liberada para operação”, informou a CBTU Natal.
Para os moradores das regiões que irão se beneficiar com a operação, fica o sentimento de frustração, especialmente diante da oferta precária de transporte público local. “Trabalho nas Quintas, em Natal. Pego o ônibus da linha 121, que está muito cheio pela manhã e às vezes passa direto, não para. Nossa dificuldade com transporte é grande por causa da demora e da superlotação nos horários de pico”, reclama a costureira Patrícia Gonçalves, que mora nas proximidades de uma das estações da linha Roxa, no bairro Jardins, em São Gonçalo do Amarante.
“Gostaria muito que a gente tivesse o trem aqui, mas, na verdade, essa estação é um elefante branco, que está aí só de enfeite”, completa a costureira. A operadora de telemarketing Gislaine Maria também sofre com a escassez de transporte na região. “Eu perco compromissos em Natal e chego atrasada todo dia no trabalho, em Parnamirim. Se a gente tivesse uma linha de trem que fizesse uma integração, as coisas ficariam bem menos difíceis e seria mais uma opção para os moradores”, afirma Gislaine.
A Linha Roxa, com três estações (BR-101 Norte, Guararapes e Vicunha), faz parte da ampliação da malha ferroviária da Grande Natal. A nova ferrovia se liga à antiga, entre a Estação Nordelândia e Extremoz. A estação da BR-101/Norte, portanto, será o início da Linha Roxa e funcionará como uma plataforma de transferência, tanto para descida de passageiros que vêm de Natal ou Extremoz e seguirão para as estações da Guararapes e Vicunha, na divisa da zona Norte da capital com São Gonçalo do Amarante, e vice-versa.
As obras tiveram início em setembro de 2021, com previsão inicial de término em fevereiro de 2022. Com aporte de R$ 18,7 milhões do Governo Federal, o empreendimento contemplou a instalação de 4,1 quilômetros de trilhos e a construção das estações.
Imagem: Magnus Nascimento
Fonte: Tribuna do Norte