“Negligente é o secretário”, rebate presidente do Sindicato de Policiais Penais do RN após fuga de Alcaçuz

Presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Rio Grande do Norte (Sindppen-RN), Vilma Batista rebateu a declaração do secretário da Administração Penitenciária do Estado (Seap-RN), Helton Edi Xavier, sobre haver indícios de negligência que podem ter contribuído para a fuga dos detentos da Penitenciária Estadual Rogério Coutinho Madruga, em Nísia Floresta, no dia 30 de abril. Para a representante da categoria, foi o titular da pasta que agiu com negligência.

Antes da fuga, os detentos Ricardo Campelo da Silva e Gustavo da Rocha Dias estavam na chamada “oficina dos trabalhadores”, um tipo de cela onde os apenados ficam no horário do almoço. De acordo com o secretário, eles escaparam da unidade por volta das 12 horas, durante o almoço. As imagens apontam que os dois fugitivos não tiveram dificuldade para abrir a porta dessa cela, cuja porta deveria estar trancada. “Eles ficam trancados no horário de almoço e o que a gente percebe, pelo menos nesse primeiro momento, é que não houve dificuldade (de abrir a porta)”, disse Helton Edi.

Em entrevista nesta sexta-feira 3 ao Jornal da Cidade, da 94 FM, Vilma Batista disse que a fuga ocorreu em decorrência do efetivo deficitário de policiais presentes na penitenciária. “O secretário sempre foi consciente e nada fez para aumentar o efetivo daquela unidade, onde temos 602 presos, três organizações criminosas se digladiando todos os dias”, pontuou ela.

Para ela, o secretário foi negligente ao não aumentar o número de policiais na unidade. “O secretário coloca vários presos para trabalhar sem a devida vigilância, porque esses presos que fugiram estavam em uma oficina sem a devida vigilância porque não tem como 20 policiais penais, que estavam em serviço, ficar um só no monitoramento olhando 80 câmeras”, disse.

A Seap informou que afastou quatro policiais penais e que abriu uma sindicância e um processo administrativo disciplinar para apurar se houve negligência por parte dos policiais. Vilma, por sua vez, pediu o afastamento de Helton Edi Xavier.

“O secretário não tem conhecimento algum do sistema prisional, muito menos de segurança pública. Com certeza ele iria dar essa satisfação política do que aconteceu, quando na verdade o negligente sempre foi e é o secretário. Eu acho que o afastamento [dos policiais] foi uma forma administrativa que ele encontrou de tentar camuflar a ingerência da gestão. Nós, inclusive, pedimos que a governadora afaste o próprio secretário. Porque se os policiais estão sendo afastados para apurar o que aconteceu, ele também deve ser afastado para saber porque ele não tomou as providências”, afirmou.

Há ameaça de novos ataques nas ruas, afirma Vilma Batista

A representante do Sindppen-RN afirmou ainda, durante a entrevista nesta sexta-feira 3, que existe uma “ameaça real” de novos ataques criminosos nas ruas – assim como ocorreu no RN em março de 2023, quando ações orquestradas por uma facção causaram terror à população, com incêndios e tiros contra prédios públicos, veículos, comércios e até residências.

“Há uma ameaça real de ataques nas ruas, o secretário sabe disso e mesmo assim não compartilhou essas informações com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), ele está negligenciando”, reiterou Vilma Batista.

De acordo com ela, a fuga poderia ter ocorrido em qualquer outra unidade. “Porque está sendo recorrente nessa gestão brincar de segurança pública. Aí o secretário vem enganar a população dizendo que é negligência [dos policiais], mas é dele. Até quando a governadora Fátima Bezerra vai passar a mão na cabeça dessa gestão? É inadmissível que esse secretário continue perseguindo os policiais penais”, questionou.

Investigação

O secretário Helton Edi Xavier enfatizou que as câmeras de monitoramento mostraram, ao vivo, toda a movimentação dos detentos dentro da unidade prisional e até mesmo fora dela, criando diversas oportunidades para que a fuga fosse notada por algum agente de segurança, o que poderia ter impedido o sucesso dos prisioneiros.

A facilidade de abrir as portas, a circulação dos presos desacompanhados e a falha no vídeo-monitoramento acumulam uma série de falhas que contribuíram com a ação dos fugitivos.

“Primeiro, a cela deveria estar fechada. Segundo, deveria ter gente acompanhando. O monitoramento, será que ninguém viu? A gente tem dois níveis de monitoramento: o local, da unidade, e o da nossa central de unidade. No curso das investigações, essas perguntas terão que ser respondidas”, reforçou o secretário.

Mesmo quando conseguiram escapar da Rogério Coutinho Madruga, os fugitivos ainda poderiam ter sido vistos pelos agentes responsáveis pelo vídeo-monitoramento da penitenciária, conforme explicou Helton Edi. “Na parte de fora, tem um (detento) que entra (e se esconde) na mata, mas outro caminha na rua (exposto às câmeras). Eu volto a perguntar: Será que ninguém viu isso?”.

Imagem: José Aldenir

Fonte: Agora RN

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