Análise: A Ascensão do Ronin (PS5) traz muita ação e aventura em um Japão rico e encantador

Conforme já visto nas suas primeiras impressões, A Ascensão do Ronin demonstrava ser um jogo de ação incrível. Agora, depois de mergulhar mais fundo no seu rico e desafiador mundo, posso afirmar que o produto completo confirmou as expectativas. Na realidade, ele conseguiu se superar em alguns elementos, apresentando uma experiência envolvente, radical e divertida. Vista seu melhor quimono e traga a sua katana favorita, pois a análise vai começar!

Em terra de samurais…

De maneira geral, o título da produtora Team Ninja pode ser classificado como um RPG de ação, com algumas pitadas soulslike aqui e ali. A história se passa durante o Período Tokugawa (ou Período Edo), um momento crítico japonês em que o país começou a receber a chegada de países ocidentais, como os EUA e a Grã-Bretanha. Dono de fortes tradições culturais, o Japão estava em polvorosa nessa época, o que abre várias possibilidades para o enredo se desenvolver.

Antes de interagir com todos esses elementos, A Ascensão do Ronin tem uma espécie de capítulo introdutório. Nele, customizamos os dois protagonistas, escolhendo dentro de uma variedade adequada de cabelos, olhos, portes físicos, etc., além de um estilo básico de luta e armas iniciais (falarei mais sobre elas em breve). Conhecemos, então, a origem desses personagens: eles pertencem a um clã secreto de guerreiros, que por sua vez têm como política treinar e agir somente em pares, como “lâminas duplas”.

Evitando spoilers, incidentes envolvendo os dois heróis e seu grupo cria uma separação, levando um deles a se tornar um ronin, um guerreiro anônimo e sem mestre. É aí que o game realmente começa, com o jogador adentrando um grande território do Japão para explorar, tudo em meio ao momento histórico turbulento. Com direito a nomes, locais e fatos baseados na realidade, a história oferece pontos em que uma decisão pode mudar o enredo, tal como um RPG clássico.

Deixo uma crítica ao ritmo da introdução do game, algo que farei de forma semelhante em outro ponto dessa análise. A dinâmica em dupla é divertida para os combates, permitindo combinações muito interessantes, mas foi fracamente explorada em termos pessoais. Não consegui criar uma ligação com os protagonistas e seu grupo, o que daria o devido peso aos incidentes que citei.

… quem domina a katana é rei

Desde o princípio, A Ascensão do Ronin deixa clara a sua proposta principal de jogabilidade:  combates intensos e radicais, que exigem decisões rápidas e análise constante do desenrolar das lutas. Cada ataque gasta uma certa quantidade de ki, assim como bloqueios, esquivas e contrafulgores (parries), um empréstimo do estilo soulslike. Portanto, cadenciar os movimentos é fundamental para ter sucesso, sobretudo para diminuir o ki do oponente e deixá-lo com a defesa aberta.

É nesses pontos que o elemento soulslike fica mais evidente, incluindo inimigos que ressurgem após salvamentos e perda de recursos no caso de derrotas repetidas. Ressalto que aqui o gênero aparece em doses moderadas, algo que julgo ter sido acertado. Determinados inimigos, por exemplo, não reaparecem mesmo após serem derrotados; já os recursos não são perdidos em profusão, sendo limitados a uma barra de experiência.

Além disso, o game oferece diversas mecânicas alternativas que, não somente reduzem o elemento punitivo, mas tornam-o único e mais divertido. É possível realizar ataques furtivos, envenenar e incendiar inimigos, usar ataques à distância com rifles e shurikens, usar um versátil gancho com corda e até contar com aliados durante certas missões (mais sobre eles no final da análise).

Obviamente, as mecânicas de luta mais efetivas fazem uso de armas. Elas pertencem a categorias como odachi (espécie de espada gigante), espadas duplas, lança e katana. Cada uma delas conta com características próprias, assim como estilos de combate únicos, que alteram a velocidade e os combos executados. Inclusive, é possível alternar entre duas armas e seus estilos durante as lutas, aumentando a flexibilidade nas horas difíceis.

A Ascensão do Ronin oferece momentos memoráveis ao jogador disposto a aprender seu timing e particularidades. Acertar um contrafulgor com a vida quase zerada ou finalizar um inimigo após um longo combate são ótimas experiências. É possível notar uma boa dose de aperfeiçoamento nessas mecânicas, que são o ponto mais alto de um título voltado para a ação.

Produção competente

Mas não é só de violência que vive o game: a exploração tem papel fundamental, inclusive com alguns elementos de plataforma simples, mas bem utilizados (uma versão light de Assassin’s Creed). O protagonista pode subir em telhados e parapeitos, assim como usar um gancho com corda para escalar rapidamente em pontos específicos. Além disso, temos o planador, uma ótima ferramenta tanto para conhecer novas paragens, quanto para sobrevoar inimigos.

Eu também não posso me esquecer dos fiéis equinos, que permitem deslocamentos mais rápidos nos vastos territórios japoneses. Aliás, visualmente esses ambientes estão entre os destaques do título, com campos de plantação, bosques vistosos e prédios fidedignos. Gostei muito do nível dos detalhes proporcionado em diversos elementos, como por exemplo das inúmeras telhas que formam um telhado ou folhas de uma árvore.

Parece um comentário tosco, mas realmente me impressionei com algo que normalmente é apenas uma textura simples em outros jogos. As cutscenes são bem produzidas, assim como as animações de combate e seus efeitos. Nem todos os elementos estão no nível gráfico esperado da nova geração, tais como corpos de água e animações faciais (sobretudo fora das cutscenes), que pouco demonstram emoções. Ainda assim, dado o dinamismo e escopo do game, a produção geral é mais do que adequada.

Os tempos de carregamento são aceitáveis, embora eu esperasse um pouquinho mais (ou menos) de um título exclusivo para o PS5. Quanto ao trabalho de som, temos dublagens competentes em inglês e japonês, mesmo que a primeira por vezes entregue algumas vozes repetidas e “preguiçosas” (textos estão disponíveis em português brasileiro). Efeitos e músicas estão ótimos, ainda que eu tenha sentido falta de baladas mais radicais para os combates mais importantes.

Talvez o leitor tenha notado que fiz diversas pequenas ressalvas nesses últimos parágrafos, mas não é porque não gostei do jogo; pelo contrário, pois adorei (e ainda adoro, pois há muito a fazer além do que escrevi nesta análise) A Ascensão do Ronin. Justamente por isso gostaria de ter visto algum esmero extra nesses elementos, algo feito nos combates, por exemplo. Quem sabe atualizações futuras corrijam ou minimizem esses probleminhas.

Cultivando o corpo e o espírito

Além de explorar e lutar, espere muitas outras ocupações interessantes. Não quero ser exaustivo — até porque algumas delas são mais legais descobertas sozinhas —, mas vamos a alguns exemplos: é possível dar uma de fotógrafo, encontrar gatinhos perdidos, afagar cachorros aventureiros, enriquecer em jogos de azar e treinar o uso do planador em desafios aéreos.

Ufa! Confesso que por vezes quase esqueci de avançar na história visitando templos, caçando tesouros e enfrentando bandidos em encontros aleatórios pelo caminho. Nada fora do comum em jogos de mundo aberto deste gênero, destacando um bom balanceamento na quantidade e variedade das tarefas. Certamente elas foram pensadas para equilibrar os combates frenéticos, que, apesar de justos, podem ser bastante exigentes.

Voltando para as tarefas secundárias mais “mundanas”, podemos derrotar fugitivos da lei, derrotar vilões que ocuparam vilarejos e retorná-los aos habitantes (como conquistar bases em Far Cry), encontrar tesouros escondidos e fortalecer relacionamentos. Essa última, inclusive, relaciona-se diretamente com a campanha: determinadas escolhas irão fortalecer amizades com certos personagens e facções, representadas pelas forças pró e anti-xogunato.

Ou seja, respectivamente, aqueles que apoiam a independência e a tradição japonesa ou aqueles que querem mudanças no regime. Aqui volta aquela crítica ao ritmo da história de A Ascensão do Ronin, pois eu não me senti devidamente familiarizado com os dois lados para escolher. Talvez uma missão extra com cada facção tivesse sido suficiente para conhecê-las melhor e dar mais peso às decisões ao longo do caminho.

Vastidão que cativa, customizações criativas

Como deve estar ficando claro, este título tem uma boa quantidade de conteúdo inclusa nos seus vários aspectos. A liberdade do jogador em avançar na história ou explorar o mundo e seus desafios secundários, embora não seja inédita, é equilibrada em relação a outros games. Temos avisos de desafios perigosos, que podem ser encarados no futuro, e a campanha naturalmente nos leva a conhecer o Japão e as maravilhas, por exemplo.

O mapa de A Ascensão do Ronin é enorme e repleto de pontos de interesse, mas não chega a ser tão lotado quanto alguns RPGs de ação contemporâneos. Existe uma distribuição mais esparsa, que permite aproveitar o mundo ao redor e completar desafios sem tornar a tarefa árdua. Conforme descobrirmos novos territórios, é possível liberar estandartes que funcionam como pontos de viagem rápida e pontos de salvamento, além de recuperarem itens para recuperar a saúde.

Eles facilitam a exploração, mesmo que boa parte dela se justifique pela curiosidade em conhecer o mundo bonito e vasto, que inclusive permite salvamentos instantâneos via menu. Falando neles, é preciso aprender a usá-los para manejar os inúmeros itens, habilidades e configurações do game. Por vezes, sobretudo quanto a itens e equipamentos, o jogo chega a ser um pouco sufocante, fornecendo grandes de quantidades de opções pouco úteis em meio as opções realmente boas.

As customizações das habilidades são vastas, com todo tipo de melhoria, com várias delas favorecendo determinados tipos de abordagem. Por exemplo, é possível reforçar o uso de remédios e/ou do arco e flecha, aumentar o dano de ataques usando ki, adquirir lábia para mentir em diálogos, habilitar o gancho para amarrar e arremessar inimigos, etc. Também é possível personalizar os equipamentos usados, cada um deles com suas características próprias, mas sem abrir mão de escolher suas aparências.

Em outras palavras, posso equipar um quimono ou lança com efeitos poderosos escolhendo o visual que acho mais legal. Algo simples, mas que nem todos os games propiciam, reforçando minha avaliação de um título bem pensado e implementado. Mais exemplos: a tela inicial de Ascensão do Ronin muda conforme avançamos na história — refletindo o progresso atual da campanha — e o clima dinâmico afugenta transeuntes quando começa a chover.

Por fim, quero comentar sobre o elemento cooperativo do game. Lembra-se da referência às duplas de guerreiros? Determinadas missões podem ser concluídas em grupos de até quatro membros, seja com outros jogadores de forma online ou com bots. A ideia é boa, mas pode ser uma lâmina de dois gumes: colegas sem muita experiência ou boa vontade podem prejudicar, enquanto os prestativos podem tornar a experiência ainda mais divertida. Inclusive, fomentar bons relacionamentos proporciona, entre outras recompensas, vantagens no trabalho em equipe.

Um legítimo pacote completo

Após muitas horas jogando A Ascensão do Ronin, é inegável que ele guarde muitas semelhanças com títulos como Ghost of Tsushima, Sekiro Shadows Die Twice e Nioh. Ele até pode ser inferior a eles em determinados pontos, mas ele também supera seus pares em diversos aspectos. Mais do que isso, ele oferece uma experiência original e farta, repleta de elementos únicos e competentes.

Não somente a aventura é envolvente, mas ela pode ser moldada de acordo com as decisões do jogador. A jogabilidade é ainda mais flexível e satisfatória, com muitos tipos de armas, combos, projéteis, itens e equipamentos para obter e dominar, todos eles bem implementados. São muitas as atividades para se entreter, desde fotografia até caçar bandidos poderosos. Os poucos defeitos são (muito) superados pelas qualidades positivas, tornando o título uma adição praticamente obrigatória para a sua biblioteca.

Prós

  • RPG de ação com pitadas soulslike oferece uma experiência única, sólida e abrangente;
  • Visuais em geral são bonitos, com destaque para as animações das lutas e detalhes nos cenários;
  • Jogabilidade afiada, com combates radicais e divertidos;
  • Liberdade para a tomada de decisões e condução do enredo;
  • Grande variedade nos desafios, incluindo campanha, missões secundárias e tarefas das mais variadas;
  • Muitos recursos para customizações estéticas e funcionais, com inúmeras armas, itens e combos diferentes.

Contras

  • Certos pontos do enredo deveriam ter sido melhor desenvolvidos, como a introdução e a escolha de facções;
  • Alguns aspectos do game não receberam o mesmo cuidado que a maioria, como certas animações, excesso de itens pouco úteis, tempos de carregamento e trilha sonora.

A Ascensão do Ronin — PS5 — Nota: 9.0
Plataforma utilizada para análise: PS5

Análise de Matheus Senna de Oliveira

Fonte: GameBlast

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