Para onde vai a fumaça expelida por caminhões e soprada pelo vento? Por que alguns bairros de Natal têm uma pior qualidade do ar? Como evitar inundações ou calor exacerbado? Mudanças climáticas têm um impacto poderoso no mundo todo, e no Brasil podemos observar esses efeitos em forma de ondas de calor, secas e inundações. As cidades grandes são particularmente vulneráveis, sendo o lar de 87% da população brasileira. Nas cidades litorâneas como a capital potiguar, o avanço do mar é mais um desafio a ser solucionado. No enfrentamento de todos esses problemas, é necessário desenvolver e planejar soluções sustentáveis. Essa é a missão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Klimapolis (INCT Klimapolis), criado no início de 2023 com a participação da UFRN.
O instituto surgiu a partir do laboratório brasileiro-alemão Klimapolis, uma colaboração que estuda os efeitos das mudanças do clima e da poluição urbana no Brasil e como combatê-los. A parceria foi estabelecida em 2018, graças ao financiamento do Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF), e é vigente até o final de 2024, por meio de um acordo entre o Instituto de Meteorologia Max Planck (MPI-M), de Hamburgo (Alemanha), e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP). O recém-fundado INCT Klimapolis foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em dezembro de 2022 por um período de cinco anos, de 2023 a 2027, tendo como principais focos as regiões metropolitanas de Natal e São Paulo.
Segundo Judith Hoelzemann, vice-coordenadora do INCT Klimapolis e professora do Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas (DCAC/UFRN), os objetivos do novo projeto são preparar as áreas urbanas brasileiras para as mudanças climáticas, sanar problemas ambientais e melhorar a qualidade de vida da população. De acordo com a docente, com o avanço do aquecimento global, é necessário que as cidades enfrentem melhor a crescente frequência de eventos extremos como ondas de calor, enchentes e secas.
Além disso, a cientista alerta que cidades litorâneas, como a maioria das capitais do Nordeste, devem lidar melhor com o perigo do avanço do nível do mar. “A gente está perdendo a área costeira. As praias ficam cada vez menores, têm cada vez menos areia, prédios próximos à orla ficam prejudicados, comunidades de pescadores perdem o seu local de atuação e o setor de turismo é prejudicado”, explica. A mudança do nível do mar é causada pelo derretimento de geleiras e pelo aumento da temperatura da água, ambos fenômenos provocados pelo aquecimento global, muitas vezes em conjunção com impactos ambientais instigados pela atuação humana.
Segundo Venerando Amaro, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (Decam/UFRN) e pesquisador do Klimapolis, não é mais possível reduzir a erosão do mar, mas o instituto vai focar em melhorar a qualidade de vida da população litorânea. “O projeto tem a intenção de trazer uma abordagem transdisciplinar, buscando discutir quais seriam as soluções mais relevantes para aumentar a resiliência da comunidade costeira, sobretudo daquelas pessoas que vivem diretamente na orla marítima”, afirma.
Na avaliação do cientista, Natal tem tido diversos problemas relacionados às mudanças climáticas, como alagamentos e chuvas intensas, e por isso é um dos principais focos do projeto. “Natal vai ser um grande exemplo de trabalho, de esforços na busca por essas soluções de enfrentamento”, completa o professor.
Com o intuito de combater problemas assim, o Klimapolis emprega uma metodologia transdisciplinar, indo além do contexto acadêmico, dialogando com líderes de comunidades e gestores municipais, estaduais e federais para investigar maneiras de cultivar gestões sustentáveis. As chaves para alcançar esse objetivo são os Experimentos do Mundo Real (EMR), que vão permitir ao instituto, junto a órgãos públicos, trabalhar com algumas das comunidades mais vulneráveis de Natal. Os locais mais afetados por eventos extremos e pela poluição serão escolhidos como alvos do projeto.
Atualmente, os EMR estão em fase de planejamento e campanhas-teste vão ocorrer ao longo deste ano em preparação para os experimentos completos, que serão em 2025. O Klimapolis vai trabalhar com movimentos civis e ONGs locais no estudo da situação atual de cada local escolhido e planejar soluções sustentáveis de combate aos efeitos das mudanças climáticas. Inicialmente, serão usados sensores de baixo custo para monitorar o ar, enquanto o instituto se empenha na aquisição de uma estação de monitoramento padrão.
Capa: Cícero Oliveira
Fonte: Agecom/UFRN