Tecnologia recente e com perspectivas de ampliação de mercado no Brasil, o interesse por carros elétricos no Rio Grande do Norte disparou num intervalo de um ano. É o que apontam dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), que registrou crescimento de 277% no Estado em janeiro de 2024 em relação ao mesmo mês em 2023, o maior do Brasil. Segundo a ABVE, o RN fechou janeiro de 2024 com 171 novos carros vendidos contra 46 em janeiro/2023. O aumento supera o índice nacional, que foi de 167% no período. Em 2023, o Estado fechou o ano com 854 novos elétricos.
Além do aumento, a infraestrutura de carregadores têm se tornado cada vez mais popular e disseminada, com pontos de recarga em todos os bairros de Natal e em cidades do interior do Estado. O mercado potiguar estima que em 2024 as vendas possam crescer entre 17 a 20%, mais que o dobro do crescimento registrado no ano de 2023 em relação a 2022, que foi de 9%.
Segundo especialistas, interlocutores do setor de carros elétricos e entusiastas da área a popularização dos carros, o aumento na informação e o desempenho dos elétricos têm atraído cada vez mais usuários a migrarem dos convencionais carros a combustão para os eletrificados. No RN, há ainda o benefício de isenção em 100% de pagamento de IPVA para estes carros.
Em Natal, duas empresas promovem as vendas dos carros elétricos: a PG Prime, que concentra as marcas GWM, BMW e Volvo, e a BYD, empresa chinesa que tem ampliado sua participação no mercado brasileiro. No entanto, há perspectiva de abertura de lojas da BYD e Volkswagen em Mossoró e da Land Hover para carros híbridos.
“O carro elétrico tem 2.200 peças a menos em relação aos de combustão. São 2 mil possibilidades a menos de quebrar. Hoje tenho clientes que me relatam que veem o preço da gasolina e não se preocupam. Com o elétrico, você carrega em casa, se tiver solar, o custo é zero. Caso não tenha, o custo de uma carga dessa gira em torno de R$ 57. Se pegarmos um carro de 400cv e gastar R$ 57 para ter essa carga completa e pegarmos um a combustão gastaríamos R$ 350 a R$ 400 para encher o tanque. Na conta anual, a economia no combustível já valeria muito a pena”, aponta Vanderson Oliveira, gerente da PG Prime e um dos responsáveis pela parte de venda dos carros elétricos do grupo.
Outro ponto que tem favorecido o crescimento do uso de carros elétricos é a popularização e preços mais acessíveis. A média de preços atualmente varia entre R$ 150 mil a R$ 200 mil, com modelos podendo ultrapassar os R$ 500 mil. No entanto, a empresa chinesa Byd, que ultrapassou a Tesla como líder mundial no ramo, promete oferecer modelos no Brasil na faixa de R$ 99 mil, popularizando ainda mais os elétricos.
Segundo a ABVE, os benefícios dos elétricos são diversos, incluindo redução de emissão de CO2, maior eficiência energética, diminuição com custos de manutenção de 20 a 30%, silêncio e desempenho amplificados além de menores cobranças tributárias. O RN e outros seis estados brasileiros possuem isenção em 100% de IPVA, enquanto que em outros estados a isenção chega a 50%.
Brasil
Os veículos leves eletrificados seguiram ganhando mercado em 2024 no Brasil, confirmando a tendência de 2023. Em janeiro, foram 12.026 veículos emplacados – quase o triplo, ou 167% acima do mesmo mês do ano passado (4.503).
Foi o melhor janeiro e o segundo melhor mês de toda a série histórica da ABVE, apesar do aumento do Imposto de Importação de veículos elétricos, que entrou em vigor no primeiro dia do ano (10% para BEV, 100% elétricos e 12% para elétricos híbridos).
Os números indicam a continuidade do forte crescimento das vendas de eletrificados leves nos últimos anos no Brasil, especialmente em 2023, quando chegaram a 93.247 unidades.
Desempenho e economia são atrativos nos elétricos
Levando em consideração, em especial, itens como desempenho, economia com combustível e autonomia na estrada, potiguares têm apostado nos veículos elétricos como alternativa aos convencionais carros movidos à combustão. Apesar dos preços ainda considerados altos para maior parte da população brasileira, a economia no médio a longo prazo é um dos principais motivadores de motoristas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE.
Quem adquiriu um carro elétrico há dois anos foi o estudante Lucas Goes, 26 anos. O potiguar cita que gastava em torno de R$ 2,5 mil/mês com gasolina, custo que foi reduzido a praticamente zero com o carro elétrico, visto que a energia da sua casa é um sistema solar sustentável. Com uma única carga ele consegue andar mais de 350km, por exemplo.
“Não pago gasolina nem IPVA do carro. A Volvo me ofereceu uma manutenção até 120 mil km, mas o elétrico quase não tem peças, então são reparos fáceis. Me apaixonei pela ideia. O gasto com energia, que eu não pago pois é gerado pela placa solar, mas diria que o aumento seria de R$ 700 no consumo. Estou satisfeito, a liberdade de andar pela cidade sem sentir que paga-se um absurdo de gasolina”, comenta.
O empresário Gabriel Guerra, 28 anos, também resolveu mudar para os carros elétricos recentemente, há pouco mais de um ano. Mesmo com um modelo mais caro que o seu antigo carro, ele aponta uma economia substancial nas suas finanças com a adoção do elétrico. A carga do seu carro permite andar 400km.
“Sempre gostei de tecnologia e via que os elétricos eram superiores, mais econômico e mais potente. Compensava tanto pelo valor do combustível, revisão, performance, economia com manutenção e o incentivo do IPVA. Estou extremamente satisfeito até aqui, não me preocupo mais com preço da gasolina”, acrescentou. “A única atenção é que não temos tantos carregadores quanto postos de combustíveis. Então nas viagens precisa-se fazer um planejamento maior”, acrescenta.
Senai terá cursos para manutenção e conversão
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Rio Grande do Norte (Senai-RN) terá, ainda em 2024, dois cursos profissionalizantes para formação de mecânicos/as em conversão de automóveis elétricos. Segundo o diretor regional do Senai RN, Rodrigo Mello, a instituição aguarda peças e infraestrutura que estão chegando ao RN para viabilizar a estrutura para os alunos.
“Desenvolvemos um laboratório para tratar de eletromobilidade, com conversão de veículos, estamos finalizando a aquisição de equipamentos. Os cursos estão formatados e prontos. Vamos lançar cursos para preparação de eletricista de carro para conversão de carros a motor explosão para elétricos e manutenção de elétricos”, disse.
Mello acrescenta ainda que a questão relacionada à infraestrutura de manutenção de carros elétricos não é necessariamente um gargalo para essa nova indústria, uma vez que as montadoras têm oferecido garantias consideráveis aos motoristas e pelo fato de que os veículos em si não quebram com tanta facilidade. “A manutenção de um carro elétrico é mínima, muitas vezes menor do que um carro a combustão. As empresas que estão vendendo têm seu corpo técnico treinado nas autorizadas. Realmente, no mercado de oficinas abertas, ainda trabalha pouco ou quase nada com os elétricos”, finaliza.
Infraestrutura cresce e RN tem 35 pontos de recarga
O RN já possui pelo menos 35 pontos de recarga públicos para carros elétricos disponíveis para os usuários, que têm crescido a cada dia no Estado. De acordo com a plataforma PlugShare, que monitora dispositivos de carregamento no Brasil, a maioria dos espaços são em Natal, que conta com 20 pontos públicos.
Já é possível carregar os carros elétricos em supermercados, lojas de construção, postos de gasolina e também em shoppings. No Natal Shopping, por exemplo, já há dois pontos para carros, assim como no Midway. Há ainda pontos pagos, como é o caso de um na PG Prime, feito para veículos Audi, mas que aceita outros modelos e marcas.
Além disso, a Neoenergia está estudando inaugurar a maior a maior eletrovia do Nordeste com eletropostos de carga rápida, que conectará as capitais de Salvador e Natal, passando pelas cidades de Aracaju, Maceió, Recife e João Pessoa.
No entanto, na maioria das situações, os donos de carros elétricos instalam carregadores próprios em suas residências, com custos que variam de R$ 4 mil a R$ 400 mil, a depender da voltagem e potência dos dispositivos. Esses com valores mais altos, segundo especialistas, são voltados para estabelecimentos comerciais. As baterias dos elétricos, na maior parte dos casos, possuem 8 anos de garantia.
“Para quem roda na cidade, o carro é perfeito. Mas para quem viaja muito, para interiores e precisa de carregamento, aí não é o ideal, porque a infraestrutura em interiores é escassa. Algumas marcas vêm fazendo investimento no Brasil”, acrescenta Vanderson Oliveira.
Imagem: Alex Régis
Fonte: Tribuna do Norte