Um grupo de quatro cientistas da área de odontologia desenvolveu uma tecnologia inédita para a área. Denominada Dispositivo para registro das relações maxilomandibulares de arcos edêntulos para um fluxo de trabalho digital e seu uso, a ferramenta teve seu depósito de pedido de patente realizado no último mês de novembro. Trata-se de um aparelho para ser utilizado em um fluxo de trabalho digital com escaneamento facial para a confecção de próteses dentárias destinadas a pacientes totalmente sem dentes. No desenvolvimento da pesquisa que deu origem ao invento, participaram Adriana da Fonte Porto Carreiro, Lucas Cavalcante de Sousa, Ana Larisse Carneiro Pereira e Anne Kaline Claudino Ribeiro.
A coordenadora do grupo, Adriana Carreiro, identifica que o equipamento auxilia no registro das relações maxilomandibulares, etapa essencial para a confecção de próteses dentárias. “O dispositivo apresenta como vantagens menor tempo necessário para a realização dessa etapa, menor gasto de materiais e possui esferas na região anterior que facilitam a sobreposição de imagens digitais em softwares odontológicos”, explica a professora do Departamento de Odontologia da UFRN.
A característica é alcançada, pois o dispositivo conta com uma haste horizontal mais longa, importante para apoio durante apreensão e manuseio do cirurgião-dentista, além de concavidades superior e inferior, que servem para reter o material de registro de ambos os arcos dentários. Completa a engenharia da invenção, um conjunto de esferas na porção anterior da base, as quais são importantes como pontos de referência na etapa de sobreposição de imagens com o escaneamento facial em softwares. “Apesar de trazer características facilitadoras para algumas atividades de um dentista, o produto é simples, de fácil apreensão e manuseio, o que permite apresentar custo relativamente baixo, alta reprodutibilidade e baixo consumo de material”, ressalta Adriana Carreiro.
Também coordenadora do Programa de Pós-Graduação de Ciências Odontológicas (PPGCO), programa ao qual o estudo que deu origem ao pedido de patente está vinculado, ela defende que o dispositivo apresenta uma relevância para a área odontológica por ter o potencial de reduzir o tempo clínico. Isso pode implicar, consequentemente, em um menor custo financeiro e na maior satisfação do paciente, com a confecção de próteses dentárias mais fidedignas. Carreiro pontua, ainda, que o grupo de pesquisa tem um protótipo desenvolvido e que foi aplicado na etapa clínica de registro das relações maxilomandibulares para a confecção de próteses dentárias testes, as quais apresentaram resultados estéticos e funcionais satisfatórios.
“Agora, já com um grupo adicional de doutorandos e mestrandos, estamos desenvolvendo uma pesquisa clínica sobre reabilitação oral de pacientes totalmente desdentados, com próteses dentárias totais confeccionadas em um fluxo de trabalho digital com escaneamento facial, no qual a etapa de registro das relações maxilomandibulares é realizada com o dispositivo desenvolvido”, salienta a docente.
O trabalho contínuo, além de artigos em revistas conceituadas, é percebido pela quantidade de pedidos de patente do grupo – alguns dos quais foram objetos de reportagens anteriores. Um exemplo foi o Moldando Sorrisos, um dispositivo capaz de registrar as medidas necessárias para a confecção de dentadura, com tecnologia digital ou convencional, que substitui por medições uma das etapas atuais de elaboração, a de esculpir planos de cera, considerada complexa.
Essas tecnologias não estão distanciadas, já que uma das características do grupo é a sinergia. Recentemente, a equipe recebeu a sua primeira carta-patente – a mais rápida concessão da UFRN até o momento. É um caso do esforço coordenado das pesquisas. “Esse dispositivo patenteado auxilia na obtenção do modelo de trabalho digital para confecção da prótese. Já o nosso novo pedido refere-se a um dispositivo para auxiliar na determinação da posição dos dentes artificiais da prótese, respeitando a estética e a função. Ambos se aplicam à confecção de próteses totais com fluxo de trabalho digital, porém em etapas clínicas distintas, que, somadas, possibilitam a execução do fluxo de trabalho completamente digital. “Acredito que, talvez, a principal relevância do processo de patenteamento é estimular o desenvolvimento recorrente de novas invenções em nossa área”, defende Adriana Carreiro.
A invenção é uma das mais de 600 que compõem a vitrine tecnológica da Universidade, grupo de ativos desenvolvidos na instituição, entre patentes e programas de computador. A lista completa pode ser acessada no site da Agência de Inovação (Agir). Os ativos de propriedade intelectual representam as invenções decorrentes das atividades de pesquisa e inovação desenvolvidas pelos pesquisadores da UFRN. As empresas interessadas nessas tecnologias podem firmar contratos de transferência com a Universidade, de modo a obter o direito de usar ou explorar comercialmente os ativos de propriedade intelectual da UFRN por um determinado período. Isso melhora seus processos produtivos, diminui custos e aumenta seu portfólio de produtos e serviços no mercado.
“Nosso objetivo é fazer com que as tecnologias criadas na UFRN alcancem as pessoas, melhorando a qualidade de vida da população e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do país. Para isso, a Agir estimula que sejam firmados cada vez mais contratos de transferência de tecnologia com empresas já atuantes no mercado ou que os pesquisadores e alunos elaborem novos negócios. O licenciamento é realizado após um processo de negociação com a empresa interessada, que se compromete a remunerar adequadamente a Universidade por esse acesso. Os recursos obtidos, por sua vez, são uma importante fonte de financiamento para novas pesquisas básicas e aplicadas, além de proporcionarem maior aproximação entre a UFRN e as empresas, gerando novas oportunidades para nossos alunos e pesquisadores”, defende Jefferson Ferreira de Oliveira, diretor da Agir.
A Unidade é também a responsável por promover e acompanhar o relacionamento com empresas, em especial aquelas interessadas em criar novas tecnologias em parceria ou em transferir as já desenvolvidas pela UFRN.
Imagens: Cícero Oliveira
Fonte: Agecom/UFRN