Pelo menos 70 animais marinhos – entre tartarugas e golfinhos – morreram após serem encontrados encalhados no litoral do Rio Grande do Norte entre o fim de dezembro e este mês de janeiro.
Esse registro é o maior em 25 anos no chamado litoral oriental do estado, de acordo com o projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade Estadual do RN (UERN), que monitora as praias potiguares desde 1998.
O litoral oriental abrange uma faixa costeira que vai do município de Baía Formosa ao município de Caiçara do Norte.
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (24) e mostram um recorte que começou a ser contabilizado no dia 24 de dezembro de 2023, quando animais mortos começaram a aparecer em maior número na costa do estado.
Ao todo, neste período, foram encontrados 72 animais marinhos, sendo:
- 63 tartarugas marinhas; e
- 9 golfinhos
Desse total, duas tartarguras sobreviveram.
“É um número que supera, e muito, todos os nossos registros de 25 anos de estudos que a UERN realiza no litoral do Rio Grande do Norte”, disse o biólogo Flávio Lima, coordenador do projeto Cetáceos.
O professor relatou que o projeto chegou a atender, em um único dia, cinco animais encalhados em praias do estado.
Um dos golfinhos, da espécie boto-cinza, (foto acima) apresentava uma mordida de tubarão, apontou a necrópsia feita pela equipe do projeto. Ele se tornou presa depois de se enroscar em uma rede de pesca.
“Possivelmente emalhou-se numa rede, foram feitos cortes no corpo pra liberar o animal da rede, e, na sequência esse animal foi predado. A necropsia aponta essa sequência de fatos”, disse o professor.
A Associação Tubarões da Costa do RN explicou que o tubarão é um predador oportunista e se aproveita de golfinhos enfermos ou filhotes, o que ocorreu neste caso. A associação diz que o caso não indica que haja qualquer desequilibrio ambiental e nem riscos à população.
Animais mais próximos da costa e mais gente nas praias
Para o biólogo Flávio Lima, entre os fatores que contribuem para o aumento no número de casos neste período do ano estão a aproximação de algumas espécies da costa e o maior número de banhistas nas praias.
“Nessa época do ano nós temos de fato um período em que alguns animais, como as tartarugas marinhas, se aproximam mais da costa, mais das praias, para reprodução”, explicou.
“O outro fato é que nós temos um número maior de pessoas fazendo um uso das praias na temporada de veraneio. Isso leva ao maior número de lixo sendo jogados ao mar, infelizmente, o que representa na maioria da morte desses animais”, pontuou.
Além disso, o biológo cita que alguns animais resgatados apresentam sinais de interação com pescas e também de atropelamento por embarcações.
O biólogo Flávio diz que historicamente o aumento de casos neste período do ano é normal, mas “o que está chamando a atenção é uma elevação em relação aos anos anteriores”. Para ele, “isso muito provavelmente se deve ao maior uso dessas áreas costeiras do nosso estado”.
O lixo descartado incorretamente nas praias também aumenta esse número, reitera o presidente do Centro de Estudos de Monitoramento Ambiental (Cemam), Daniel Solon. “Os animais acabam por ingerir esse lixo e encalham”, explicou.
Imagens: Projeto Cetáceos
Fonte: G1 RN