Jornalismo em Quadrinhos: Um gênero expansivo que busca novas formas de comunicar, sendo distintivo e afetivo

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Apesar de pouco difundido à grande massa, o jornalismo em quadrinhos tem ganhado não apenas as publicações independentes, como os grandes veículos de comunicação como forma de aprofundar e envolver o leitor sobre temas variados, o gênero tem influenciado e ganhado notoriedade no mercado editorial e jornalístico.

Uma das maiores referências do jornalismo em quadrinhos, o maltês Joe Sacco, foi um dos maiores propagadores, sendo referenciado como o primeiro autor do gênero no mundo. Sua obra mais notória é a HQ Palestina (1993), uma história em quadrinhos de não-ficção escrita e desenhada pelo artista, que traz suas experiências na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

No Brasil um grande influenciador do jornalismo em quadrinhos, e um dos pioneiros no país, é o jornalista Alexandre de Maio. Autor do livro Raul (2018), ele ainda produziu diversas reportagens em quadrinhos para diferentes veículos de comunicação, como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Catraca Livre, Veja, Revista Fórum e Agência Pública, e também ganhou o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, pela reportagem Meninas em jogo sobre exploração sexual infantil.

Ainda podemos citar outros nomes que são referências para o jornalismo em quadrinhos, como Art Spiegelman, autor de Maus, além de Robson Vilalba, que realizou diversas matérias para os veículos Le Monde Diplomatique, Folha de S.Paulo, Plural e Gazeta do Povo, e disse “que o desenho aproxima as pessoas por conta da afetividade na vida delas“.

Um veículo que têm ganhado força nos últimos anos, e é totalmente nacional, é a revista independente, criada pela jornalista Gabriela Borges, Mina de HQ. Uma mídia autoral, que busca em sua perspectiva abranger diferentes formas de trazer a informação, reunindo jornalismo, pesquisa, curadoria e divulgação de histórias em quadrinhos feitas por mulheres e pessoas não-binárias, sendo um gancho categórico para desenvolver debates sobre temas diversos, com representatividade e diversidade ao gênero.

O jornalismo em quadrinhos é uma forma de arte que vem ganhando espaço a cada dia e tornando a notícia mais engajada e envolvida ao público, com um diferencial significativo que traz afeições e sentimentos inerentes, com ilustrações imprescindíveis através de ilustrações, que algumas vezes a câmera não pode ou consegue registrar.

Assim, afirma a jornalista e quadrinista, Carol Ito, que “o diferencial do jornalismo em quadrinhos é criar imagens a partir dos fatos que não tem registros, usar para trazer memórias e lembranças do passado, ou ilustrar situações vulneráveis, que apenas o desenho pode captar a essência, com total acessibilidade e sem grandes equipamentos“.

Já a quadrinista e jornalista Helo D’Angelo completa ressaltando que o gênero pode “ser mais transparente sobre o fato de que não existe jornalismo imparcial. Uma foto, um vídeo, uma aspa podem dar a falsa impressão de serem imparciais (embora nunca sejam), mas um desenho mostra diretamente seu viés. E nesse sentido, acaba sendo mais honesto“.

Uma variação de conexão entre a reportagem com o algo diferente, aos leitores mais abertos, trazendo-os a conhecer assuntos distintos e nada habituais, adentrando num novo universo informativo e particular, assim confirma a jornalista e quadrinista Cecília Marins, com seu livro Parque das Luzes, aonde muita gente foi atrás dessa leitura por causa dos quadrinhos, e acabou conhecendo uma história da qual não havia costume e nem percepção sobre o tema em questão.

E assim, o gênero vai tomando seu espaço e ganhando novos leitores, seja na mídia convencional ou nas produções independentes, ajudando a consolidar dia após dia esse tipo de narrativa, que embora seja algo novo, mas já há alguns autores que têm conquistado o gênero, tendo seu reconhecimento dentro da cena do jornalismo em quadrinhos.

Como por exemplo Helo D’Angelo, que conquistou por dois anos consecutivos o Oscar dos quadrinhos, HQ Mix de 2022 e 2023 respectivamente. Assim como Carol Ito, que ganhou o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria Arte, em 2022, e também Cecília Marins, que foi uma das vencedoras Prêmio Cásper Líbero por seu livro-reportagem, Parque das Luzes e ainda, foi indicada ao Emmy Internacional pelo documentário do rapper Emicida, AmarElo – É Tudo pra Ontem, por suas ilustrações referentes ao projeto.

O jornalismo em quadrinhos não é um caminho fácil, “porque além de todas as etapas que existem dentro do jornalismo, o jornalista ainda tem que passar por todas as etapas da HQ, que são complexas, então acredito que seja um processo de dupla e até tripla checagem dos fatos, de modo que uma informação errada por acidente fica“, completou Helo sobre a árdua dedicação deste gênero, que apesar de estar ligado aos fatos, a ilustração mostra veementente a perspectiva na reportagem, tendo que ter uma apuração mais rigorosa e cuidadosa sobre o tema abordado, “é uma forma de comunicar que atinge mais pessoas, pois facilita a compreensão no combo ‘desenho+texto’, e atrai pela relação afetiva que muitas pessoas“, esclarece a jornalista.

Em suma, o jornalismo em quadrinhos busca desenvolver novos conhecimentos, fortalecer a memória afetiva dos leitores, que muitas vezes começaram a ler por causa das histórias em quadrinhos. No entanto, não basta apenas escrever uma reportagem e adicionar alguns desenhos, tem que comunicar propriamente com o fato, para que ele possa ser compreendido, praticando uma empatia mútua, aplicada com plena precisão, ética e responsabilidade, além é claro de muita dedicação e leitura.

Mas lembre-se sempre; “Você não nasceu sabendo desenhar, e nem escrever então é ir atrás e procurar aperfeiçoar. As pessoas não esperam a perfeição, e sim sinceridade, honestidade e um trabalho que você sente orgulho em entregar, e claro, um jornalismo bem feito“, conclui Cecília.

Fonte: O Barquinho Cultural

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