Apesar de pouco difundido à grande massa, o jornalismo em quadrinhos tem ganhado não apenas as publicações independentes, como os grandes veículos de comunicação como forma de aprofundar e envolver o leitor sobre temas variados, o gênero tem influenciado e ganhado notoriedade no mercado editorial e jornalístico.
Uma das maiores referências do jornalismo em quadrinhos, o maltês Joe Sacco, foi um dos maiores propagadores, sendo referenciado como o primeiro autor do gênero no mundo. Sua obra mais notória é a HQ Palestina (1993), uma história em quadrinhos de não-ficção escrita e desenhada pelo artista, que traz suas experiências na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Ainda podemos citar outros nomes que são referências para o jornalismo em quadrinhos, como Art Spiegelman, autor de Maus, além de Robson Vilalba, que realizou diversas matérias para os veículos Le Monde Diplomatique, Folha de S.Paulo, Plural e Gazeta do Povo, e disse “que o desenho aproxima as pessoas por conta da afetividade na vida delas“.
O jornalismo em quadrinhos é uma forma de arte que vem ganhando espaço a cada dia e tornando a notícia mais engajada e envolvida ao público, com um diferencial significativo que traz afeições e sentimentos inerentes, com ilustrações imprescindíveis através de ilustrações, que algumas vezes a câmera não pode ou consegue registrar.
Já a quadrinista e jornalista Helo D’Angelo completa ressaltando que o gênero pode “ser mais transparente sobre o fato de que não existe jornalismo imparcial. Uma foto, um vídeo, uma aspa podem dar a falsa impressão de serem imparciais (embora nunca sejam), mas um desenho mostra diretamente seu viés. E nesse sentido, acaba sendo mais honesto“.
Uma variação de conexão entre a reportagem com o algo diferente, aos leitores mais abertos, trazendo-os a conhecer assuntos distintos e nada habituais, adentrando num novo universo informativo e particular, assim confirma a jornalista e quadrinista Cecília Marins, com seu livro Parque das Luzes, aonde muita gente foi atrás dessa leitura por causa dos quadrinhos, e acabou conhecendo uma história da qual não havia costume e nem percepção sobre o tema em questão.
E assim, o gênero vai tomando seu espaço e ganhando novos leitores, seja na mídia convencional ou nas produções independentes, ajudando a consolidar dia após dia esse tipo de narrativa, que embora seja algo novo, mas já há alguns autores que têm conquistado o gênero, tendo seu reconhecimento dentro da cena do jornalismo em quadrinhos.
O jornalismo em quadrinhos não é um caminho fácil, “porque além de todas as etapas que existem dentro do jornalismo, o jornalista ainda tem que passar por todas as etapas da HQ, que são complexas, então acredito que seja um processo de dupla e até tripla checagem dos fatos, de modo que uma informação errada por acidente fica“, completou Helo sobre a árdua dedicação deste gênero, que apesar de estar ligado aos fatos, a ilustração mostra veementente a perspectiva na reportagem, tendo que ter uma apuração mais rigorosa e cuidadosa sobre o tema abordado, “é uma forma de comunicar que atinge mais pessoas, pois facilita a compreensão no combo ‘desenho+texto’, e atrai pela relação afetiva que muitas pessoas“, esclarece a jornalista.
Em suma, o jornalismo em quadrinhos busca desenvolver novos conhecimentos, fortalecer a memória afetiva dos leitores, que muitas vezes começaram a ler por causa das histórias em quadrinhos. No entanto, não basta apenas escrever uma reportagem e adicionar alguns desenhos, tem que comunicar propriamente com o fato, para que ele possa ser compreendido, praticando uma empatia mútua, aplicada com plena precisão, ética e responsabilidade, além é claro de muita dedicação e leitura.
Fonte: O Barquinho Cultural