Excelência em pesquisa biotecnológica

“Excelência constatada em nível internacional”. É assim que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) qualifica o Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da UFRN (ProgBio/CT/CB), lhe  conferindo conceito 6. Integrante da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), o programa forma doutores (profissionais) capacitados para a pesquisa em inovação biotecnológica que também podem atuar em mercados distintos, incluindo a prestação de serviços e a indústria.

Credenciada pela Capes em 2006, a Renorbio é uma rede composta por 13 instituições Nucleadoras de ensino e pesquisa de todos os estados da Região Nordeste, além do Espírito Santo, agregando cerca de 200 pesquisadores atuantes nas diferentes áreas da Biotecnologia. Com projeto desenhado em consonância com a estratégia definida no 5º Plano Nacional de Pós-graduação (V-PNPG), o programa busca aumentar a taxa de formação de doutores, sem prejuízo de qualidade. Essa união permite utilizar a infraestrutura de ensino e pesquisa das diferentes instituições para atender aos objetivos da iniciativa.

O intercâmbio entre os participantes é igualmente fomentado, bem como a elaboração e a execução de projetos de pesquisa em rede. Na UFRN, 15 docentes de vários departamentos e dois professores da Universidade Potiguar (UNP) fazem parte do corpo docente permanente da Renorbio. O programa fornece ferramentas que possibilitam a formação de profissionais com bases técnico-científicas sólidas, fomentando o desenvolvimento da pesquisa na área biotecnológica e oferecendo um amplo currículo de disciplinas relacionadas a quatro áreas de concentração.

Cada uma dessas áreas engloba diferentes linhas de pesquisa, sendo elas: Biotecnologia em Agropecuária, com três linhas de pesquisa que incluem genética e transgênese, sanidade, conservação e multiplicação de germoplasma; Biotecnologia em Saúde, cujo estudo se enquadra no desenvolvimento de agentes profiláticos, terapêuticos e testes diagnósticos; Há, ainda, Biotecnologia em Recursos Naturais, com as linhas de pesquisa em bioprospecção, biodiversidade e conservação, purificação, caracterização e produção de insumos biotecnológicos em sistemas heterólogos; e Biotecnologia Industrial, com a linha de pesquisa em bioprocessos.

Susana Moreira é pesquisadora da área biotecnológica há mais de 15 anos

Coordenadora da pós-graduação em Biotecnologia da UFRN, a professora Susana Moreira conta que os docentes que fazem parte do programa mantêm parcerias com empresas em função das pesquisas que realizam, além de relações com outras instituições, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “É o caso do professor do Departamento de Bioquímica da UFRN Daniel Lanza que mantém parcerias com as empresas Samaria Camarões, DNA fértil e Genaptus, além da Maternidade Escola Januário Cicco, no âmbito de trabalhos desenvolvidos por alunos do programa”, comenta.

O programa também promove várias ações focadas na obtenção de produtos biotecnológicos, bem como no apoio à criação de pequenas empresas. Exemplos disso são as atividades promovidas junto à Associação Nacional de Biotecnologia (Anbiotec) desde 2019, tendo como objetivo a apresentação de iniciativas desenvolvidas pelos discentes do Renorbio que estão aptas a serem negociadas com o setor empresarial.

Em ações anteriores, apresentações foram realizadas em modelo de rodada de negócios a empresários ligados à Anbiotec. “Além dessa parceria, outras atividades extracurriculares são desenvolvidas em conjunto com a Biominas Brasil, as quais têm como objetivo principal incentivar os alunos a desenvolverem novas startups”, relata a docente. Os discentes também são incentivados a participar de editais lançados pelo Programa Centelha, iniciativa promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Pesquisas

Devido ao caráter multidisciplinar com várias linhas de pesquisa, muitos são os projetos desenvolvidos pelos discentes do programa na UFRN. “Vários produtos de teses ganharam destaque devido à inovação e aplicabilidade na resolução de problemas concretos na sociedade”, conta Susana Moreira.

Professora Lucymara Fassarella (à direita) orienta a pesquisa que investiga a presença de patógenos em águas residuais de Natal

A professora cita o desenvolvimento de um método para estimulação mecânica cardíaca transtorácica com função de marcapasso. Esse feito é produto da tese de Nestor Oliveira Neto, orientado pelo professor Guilherme Fregonezi, do Departamento de Fisioterapia (DFST/UFRN), com patente depositada em 2022. O produto desenvolvido pelos pesquisadores destaca-se por sua aplicação que, de acordo com a pesquisa, apresenta vantagens sobre as alternativas usadas atualmente, como a relativa simplicidade técnica do equipamento e a possibilidade de reduzir a utilização de analgesia para o procedimento de instalação do marcapasso.

A doutoranda Júlia Freitas é colaboradora na pesquisa desenvolvida no âmbito do programa que tem como objetivo investigar quais são os patógenos presentes nas águas residuais de Natal. Ela participou de coletas semanais das águas de esgoto das estações de tratamento de Ponta Negra, Beira Rio e Baldo, durante junho de 2021 e maio de 2022. As amostras foram unificadas (das estações e das semanas) em registros mensais, e foi realizado o sequenciamento do DNA e RNA ambiental, permitindo a identificação dos patógenos (bactérias e vírus).

Os resultados apontam quais patógenos estão mais presentes em determinada região em cada mês do ano, possibilitando a realização de ações no sentido de prevenir possíveis endemias, epidemias e pandemias. “Acredito que esse estudo pode fornecer muitos dados para auxiliar diversas áreas, tais como a saúde pública, agricultura e veterinária”, comenta a pesquisadora.

Júlia Freitas é doutoranda no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da UFRN 

O projeto tem coordenação da professora Lucymara Fassarella, do Departamento de Biologia Celular e Genética (DGB/UFRN). A docente também é responsável por outro estudo, contando com a colaboração da startup Microciclo Biotecnologia LTDA, que obteve o registro de patente em 2021. A pesquisa investigou a junção de espécies de bactérias na preparação de um inoculante biorremediador, com finalidade de uso na remoção de óleo mineral e hidrocarbonetos derivados do petróleo em água contaminada.

Susana Moreira destaca outro estudo que está em andamento na UFRN. Mais focada na área da medicina regenerativa, a pesquisa envolve a avaliação dos efeitos de compostos extraídos de algas verdes (no caso de açúcares sulfatados) na diferenciação de células-tronco humanas isoladas de cordões umbilicais. Os estudos têm mostrado que, dependendo da composição das amostras, elas podem promover a diferenciação de células-tronco em osteoblastos (células do osso) ou inibir a diferenciação em adipócitos (células de gordura), indicando que podem ser candidatos para o desenvolvimento de novas terapias voltadas à regeneração óssea ou à obesidade. “Esses são estudos que realizamos no meu grupo de pesquisa, e, atualmente, tenho um aluno do Renorbio trabalhando nisso”, afirma a professora.

Startups

Mais de 30 empresas já foram criadas por doutores formados pela Renorbio, a maioria delas está sediada no Nordeste, demonstrando a relevância do programa para o desenvolvimento da biotecnologia na região. “Enquanto Nucleadora, observamos um avanço da interação da UFRN com o setor produtivo. Nesse quesito, destacam-se startups fundadas nos últimos anos, com a participação de discentes, egressos e docentes da nossa Universidade, como exemplo da Microciclo Biotecnologia e da Z-safe Biotecnologia LTDA”, conta Susana Moreira.

Susana Moreira destaca a criação de startups, com a participação de discentes da UFRN

A Microciclo Biotecnologia LTDA foi idealizada, em 2019, pelo grupo formado por pesquisadoras do Laboratório de Biologia Molecular e Genômica (LBMG/UFRN), liderado pela professora Lucymara Fassarella Agnez Lima, e realizou o desenvolvimento de um produto voltado para a biorremediação ambiental. Esse método é definido por utilizar processos biológicos para degradar, transformar e remover contaminantes de uma matriz ambiental, como a água, por exemplo.

Desde então, a startup tem aprovado diversos projetos e conquistado várias premiações nacionais e internacionais. A biorremediação é um estudo de extrema importância não só a nível nacional como internacional, prova disso foi a seleção da startup para integrar a delegação brasileira que participou da 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-27), que aconteceu, entre os dias 6 e 18 de novembro de 2022, em Sharm El-Sheikh, no Egito.

Já a Z-safe Biotecnologia LTDA presta serviços de biossegurança, utilizando o zebrafish como modelo experimental in vivo e realizando testes variados que permitem a avaliação de parâmetros de toxicidade, embriotoxicidade, neurotoxicidade, marcadores moleculares, estresse oxidativo e genotoxicidade.

O zebrafish é, atualmente, a espécie mais utilizada para pesquisas experimentais devido à semelhança genética com seres humanos, apresentando-se como modelo alternativo aos roedores, o que representa um avanço da ciência nas pesquisas da área biomédica e nos estudos comportamentais, genéticos e toxicológicos. Como resultado desse trabalho, a Z-safe foi premiada em diferentes editais, além de estar em processo de pré-incubação no Inova Metrópole, na qual pretendem desenvolver um software de rastreio de larvas de peixe.

Imagens: Cícero Oliveira

Fonte: Agecom/UFRN

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