Muitas pessoas pensam que o ensino musical, artístico e cultural só pode ser realizado após uma certa idade. Não é o caso dos docentes e monitores do Laboratório de Práticas em Educação Musical Infantil (Lapemi) da UFRN que, por meio de seus programas, lecionam para crianças antes mesmo de completar um ano de idade. Além disso, introduzem-nas no universo da musicalização, chegando a realizar apresentações, confeccionar instrumentos e, até mesmo, a compor peças musicais.
O Curso de Iniciação Artística (Ciart) é o mais antigo oferecido pela Escola de Música (EMUFRN), sendo ofertado desde a década de 60. Inclusive, é o único curso vigente desde a abertura da EMUFRN. Ao longo de sua história, já foi voltado para artes, como o teatro e a dança, contudo atualmente dedica-se a introduzir a musicalização a crianças entre 4 e 5 anos de idade.
A professora Carolina Chaves Gomes, criadora e coordenadora do Lapemi, conta que em 2020, durante o ápice da pandemia de covid-19, criou um programa de musicalização para crianças ainda mais novas, entre 0 e 3 anos de idade, denominado Primeiras Notas. O projeto, além de introduzir crianças na música, ajuda graduandos no curso de Licenciatura em Música a adquirirem experiência de sala de aula, uma vez que o programa está vinculado à disciplina de Estágio Supervisionado em Educação Infantil.
Em 2021, com a retomada das aulas de maneira remota, os projetos de inclusão do Esperança Viva, programa de extensão que viabiliza ações inclusivas na EMUFRN, ampliaram a faixa etária para atender também crianças maiores. Assim, o Lapemi atualmente oferece o Musicalização UP, destinado a crianças com síndrome de Down, e o Som Azul, para crianças com transtorno do espectro autista, ambos atendendo entre 5 e 9 anos de idade.
Sobre os benefícios e necessidades desse tipo ensino para os pequenos, a professora da EMUFRN Carolina Chaves explica: “a aula de música nas infâncias atua numa fase da vida em que temos grandes mudanças, não apenas do desenvolvimento, não apenas do crescimento, mas principalmente da compreensão de mundo, da interação social, da atuação no mundo, da apreciação e compreensão estética. O que é legal, o que não é, o que é belo, o que me cabe, o que é do outro. Não há compreensão de mundo sem arte, sem música”.
“As crianças se desenvolvem cognitivamente muito mais rápido”, aponta a coordenadora do Lapemi. O reconhecimento de fonemas e outras questões auditivas e fonoaudiológicas, além do estímulo ao raciocínio matemático, bem como a percepção da execução de movimentos corporais e o aprimoramento da motricidade são alguns dos avanços adquiridos nas aulas.
Contudo, para Carolina Chaves, o ganho dessas habilidades se torna secundário quando comparado com a vivência adquirida pelos pequenos em sala de aula. “Eu acho que o principal é isto: a música, a arte, elas são importantes porque elas são construções nossas, humanas, que, inclusive, começaram e existem no mundo muito antes da nossa linguagem escrita, da nossa linguagem oral”, reflete. A professora complementa: “a gente faz música e arte antes de falar na nossa história da humanidade. Então, por que essa arte não estaria num patamar de importância a ponto de estar ali juntinho da gente desde a infância? Por que a gente não pode aprender sobre essa arte, sobre os diversos fazeres dessa arte? Por que a gente não pode vivenciá-la?”
Rebeca Ramos Campos de Oliveira é professora do Departamento de Fisioterapia da UFRN e mãe de uma criança de cinco anos de idade que frequenta as aulas do Ciart. “Achei que seria uma experiência importante para meu filho, por introduzi-lo no mundo das artes e por favorecer o seu desenvolvimento cognitivo, social e de linguagem. Meu filho tem gostado bastante, principalmente no que se refere ao contato e ao conhecimentos dos instrumentos, seus sons”, afirma. “Recomendo, sim, a outras famílias. Inclusive, penso que poderiam estender a idade de participação nesse projeto”, complementa.
O Primeiras Notas e o Ciart trabalham com crianças de diferentes faixas etárias. Idealmente, a criança inicia no Primeiras Notas. Cleide Cavalcanti Albuquerque testemunha como o cronograma é eficaz, uma vez que seu filho mais velho foi contemplado pelo Ciart aos 6 anos, e, agora, com a criação do Primeiras Notas, sua filha caçula foi introduzida à musicalização ainda mais cedo, aos três anos de idade.
Para Cleide, os ganhos no desenvolvimento da filha são nítidos: “a experiência tem sido única, totalmente diferente do que foi para meu filho no Ciart com seis anos. No Primeiras Notas, minha filha dança de acordo com o ritmo, sentindo os instrumentos e estimulando todos os sentidos. O que mais chama a atenção dela são os instrumentos. No dia que a professora tocou violino, ela amou. Ficou encantada”, relata.
Os músicos mirins dos cursos ofertados pelo Lapemi não são os únicos beneficiados pelos projetos. “Os alunos monitores do Ciart, Primeiras Notas, Som Azul e Musicalização UP se destacam tanto pelo envolvimento com a vida acadêmica e universitária, participando e usufruindo melhor de espaços e ações da UFRN, como pelo protagonismo da prática docente orientada que realizam em contato com crianças e famílias, orientados pelos professores e técnicos que coordenam esses cursos”, enfatiza Carolina Chaves.
Na visão da professora, os monitores têm uma oportunidade ímpar de vivenciar a confluência entre teoria e prática pedagógica “É comum comentarem, nas aulas da graduação, as experiências vividas nos cursos de extensão ou, ainda, trazerem aprendizagens das aulas da graduação nas reuniões de planejamento dos cursos”, constata.
Para o futuro do Lapemi, a coordenadora deseja alcançar o fortalecimento institucional e a integração entre projetos de extensão, pesquisa e ensino a partir da criação de um espaço específico. O núcleo interdisciplinar seria destinado a cursos de extensão para infâncias, investigações decorrentes deles, oferta de formação inicial e continuada e maior diálogo com ações de ensino na graduação e pós-graduação.
Os cursos de extensão oferecidos pelo Lapemi têm ingresso anual, após a divulgação dos resultados dos editais da Proex. Como requisito, a idade da criança deve estar de acordo com a faixa etária específica para cada atividade. A seleção para o Primeiras Notas e o Ciart é conduzida por meio de inscrição e sorteio público. Já para o Musicalização UP e o Som Azul, o critério de admissão é por ordem de chegada e de inscrição.
Maiores informações sobre os cursos de extensão do Lapemi podem ser obtidas nas redes sociais do Ciart, Primeiras Notas e Musicalização UP e Som Azul ou na Secretaria de Extensão da EMUFRN, pelo telefone 84 9193-6429.
Imagens: Cícero Oliveira
Fonte: Agecom/UFRN