Música improvisada

Para muitos, a improvisação é um verdadeiro desafio ou mesmo considerada um ato de desorganização. Quando aliada à música, torna-se mais difícil e complexa. Mas, e se a improvisação fosse, na verdade, uma habilidade? É dessa forma que o Grupo de Improvisação Livre (GIL) da Escola de Música da UFRN atua: com melodias criadas na hora, de acordo com as emoções do momento. Nascido em 2012, o grupo transita entre a música erudita e a música popular de forma suave e natural, a fim de criar novas possibilidades musicais. Tudo isso de forma improvisada.

“Ao contrário do que se pensa, a improvisação requer um conhecimento prévio. Exige muita preparação para improvisar e fazer uma música interessante para o público”, explica Anderson Pessoa, professor de saxofone na EMUFRN, além de coordenador e idealizador do Grupo. Apesar de carregar o título da improvisação, o que os músicos do GIL buscam passar para o seu público a cada apresentação é a sensação de que a música está bem preparada. Segundo Anderson, os concertos geram bastante curiosidade da plateia, por causa da exploração que os músicos fazem do próprio instrumento. “É normal em concertos nossos você ouvir um ruído, um arranhar de corda, porque buscamos expandir as possibilidades instrumentais”, destaca.

O Grupo de Improvisação Livre atua desde 2012 na Escola de Música

Fugindo da ideia convencional de uma orquestra ou de uma big band, dispensando partituras, o GIL é composto apenas por cinco músicos: Felipe Ribeiro (guitarrista), Naldo Silva (pianista), Luana Pereira (violinista), Paulo Fernandes (contrabaixista) e Anderson Pessoa, que, além de coordenador, é saxofonista. Entre eles são feitas inúmeras combinações instrumentais, e, com isso, surgem novas melodias contemporâneas. A regra principal é não ocultar o som do instrumento ao lado, isso porque o objetivo é possibilitar uma harmonia.

Luana conta que a convivência com o grupo mudou sua visão acerca do instrumento tocado por ela. “No meu primeiro ensaio, conheci melhor meu instrumento brincando, ignorando tudo que foi dito sobre ele antes. As experiências que tive dentro do grupo com o violino me mostraram que, independente do lugar que eu esteja tocando, seja numa orquestra ou no GIL, a subjetividade precisa ser aplicada”, comenta. O pianista do grupo, Naldo, compartilha que sua primeira apresentação foi cheia de ansiedade. “Pra mim, ainda era algo novo, estranho. Não sabia o que esperar do público”, lembra.

Outra forma de atuação do grupo com a musicalização livre é no cinema mudo. Todas as últimas segundas-feiras do mês, o grupo apresenta um filme mudo para o público e faz a musicalização, do curta ou longa metragem, ao vivo. Para essa ação, os músicos escolhem filmes clássicos famosos, como O Corcunda de Notre Dame, por exemplo. Além disso, é necessário que a produção seja legendada para que o público possa acompanhar o desenrolar da trama não só pelo som, mas também pela composição audiovisual. No mês de outubro, o filme apresentado foi O Gabinete do Dr. Caligari, um terror de Robert Wiene, em celebração ao dia das bruxas.

Toda última segunda-feira do mês, o grupo apresenta musicalização ao vivo de um filme mudo

De acordo com o grupo, para transmitir as sensações do filme, é preciso mergulhar na cena e musicalizar a sua percepção sobre o que está sendo exibido no momento. “Na improvisação, é impossível acompanhar o tempo do filme, um bater de porta, por exemplo. Mas, nós buscamos captar a essência da cena e transmiti-la pelo som”, menciona Anderson. As composições da música durante a exibição do filme surgem a partir de um dos integrantes, e os que desejam acompanhar aquela ideia entram na brincadeira. É nesse momento que surge o maior desafio da improvisação: saber a hora de entrar ou sair de cena.

O coordenador explica que essa comunicação de entrada e de saída não é preestabelecida, mas que cada músico sente ao longo da apresentação. “Se meu colega tem uma ideia, ele pode executar. E, se eu consigo acompanhar a ideia dele, ótimo. Mas, se não, prefiro esperar um próximo momento para entrar com a minha melodia”, explica o coordenador. Esta é uma das habilidades desenvolvidas dentro do grupo: a capacidade de ouvir atentamente o conjunto de instrumentos.

Mesmo atuando na área musical, há outras formas de participar do GIL, seja com dança, teatro ou qualquer outra forma artística. O grupo acolhe qualquer aluno, professor ou servidor que esteja interessado na arte da improvisação. “Já tivemos apresentações com grupos de dança, que também usam da improvisação. A gente fazia um som ali no momento, e o grupo interpretava com passos”, destaca Anderson.

São muitos os benefícios do domínio sob a arte da improvisação, e os músicos que passam pelo GIL possuem uma formação musical diferenciada, não só porque dominam todas as possibilidades do seu instrumento, como também estão preparados para lidar com imprevistos durante uma apresentação convencional. A subjetividade explorada na atuação em grupo permite que o estudante encontre seu estilo musical, trazendo sentido e objetivo em sua jornada.

Imagens: Cícero Oliviera

Fonte: Agecom/UFRN

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