Ciência psicoativa

Produtos naturais psicoativos são estimulantes de serotonina capazes de desenvolver funções cerebrais, como a cognição e a memória, carregando potencial terapêutico para tratamento de enfermidades mentais. Uma dessas substâncias é a N,N-dimetiltriptamina, conhecida como DMT, produzida em plantas, animais e até no ser humano. Pesquisa da UFRN, com coordenação de Norberto Monteiro, doutor em Química pela UFRN, buscou esclarecer os pormenores do processo que gera a substância psicodélica: a dupla metilação da triptamina. Com apoio do Núcleo de Processamento de Alto Desempenho (NPAD/UFRN), o estudo colaborou com o aumento de trabalhos relacionados à síntese do DMT e possibilitou compreender a intensidade do alucinógeno dentro do organismo humano.

O estudo de fenômenos psicodélicos ainda é recente na ciência hegemônica, especificamente a investigação química das moléculas relacionadas às experiências sensoriais causadas pelos alucinógenos. As análises sobre o tema existem desde a década de 50 com o crescimento do ácido lisérgico (LSD) e da mescalina, que levaram a questionamentos e uso médico, mas, por conta das legislações antidrogas, houve empecilhos nas investigações científicas. Atualmente, mudanças sutis permitem o retorno de pesquisas relacionadas às substâncias em ensaios clínicos e no tratamento de depressões resistentes e transtornos de estresse pós-traumático.

Exemplo de dupla metilação da triptamina que possibilita compreender os níveis endógenos de DMT nos seres humanos – Norberto de Kássio Vieira Monteiro

Na pesquisa, a equipe foi capaz de fornecer informações sobre o mecanismo da reação enzimática da biossíntese da DMT endógena humana. Isso foi possível com a utilização de metodologias de química computacional e Our own N-layered Integrated molecular Orbital and Molecular mechanics (Oniom), que visa atingir diferentes partes de uma molécula ou sistema. Ademais, a investigação explora caminhos biológicos com o intuito de sintetizar esse composto para uso humano.

De acordo com Norberto Monteiro, a pesquisa possibilita uma possível biorredução, visto que o atual processo de síntese não é ambiental. Dessa forma, usam-se princípios naturais como agentes redutores e estabilizadores. “Com esse trabalho conseguimos como resultado quantificar as energias necessárias para a síntese do DMT e uma possível síntese verde”, afirmou.

Grupos de pesquisadores responsáveis pelos estudos envolvendo o DMT – Foto: Arquivo Pessoal

A pesquisa contou com o suporte do NPAD que, segundo Monteiro, foi essencial. “Com ele conseguimos calcular todas as moléculas, assim como seus estados de transição necessários para esse estudo. Sendo assim, sem o recursos computacionais, essa pesquisa não seria possível”, pontuou. O Núcleo de Processamento de Alto Desempenho é responsável pelo supercomputador da UFRN e viabiliza a ajuda necessária para projetos científicos, tornando o uso de recursos em pesquisas mais eficientes.

Os cálculos computacionais possibilitam ter os estados de transição da via de reação de dupla metilação, bem como a quantificação das barreiras de ativação envolvidas e, principalmente, o esclarecimento do mecanismo da síntese.

DMT na saúde

O DMT é associado em estudos à prevenção de hipóxia (ausência de oxigênio nas células do corpo) e também está em plantas como a Psychotria viridis (chacrona) e a Mimosa tenuiflora (jurema preta), presentes em rituais religiosos de grupos indígenas da floresta amazônica. Na década de 90, foi constatado que o psicodélico poderia ser utilizado como uma sonda de serotonina em estudos com pacientes psiquiátricos.

Fonte: Agecom/UFRN

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