Potencializar e transformar a ciência enquanto agente mobilizadora da sociedade e ampliar os horizontes da pesquisa ambiental. Esses são alguns dos objetivos do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFRN (PPGEco/UFRN), primeiro programa de pós-graduação do Nordeste na área de biodiversidade a conquistar nota máxima, conforme avaliação quadrienal (2017-2020) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
No ano de 2022, foram publicados, por professores e por alunos do programa, 138 artigos científicos em revistas indexadas internacionais. Esses estudos trazem metodologias e soluções que trilham caminhos múltiplos e que contemplam, além de aspectos ecológicos, contextos históricos, sociais, econômicos, entre outros que, por vezes, envolvem características que vão além do impacto acadêmico. Uma pesquisa realizada em 2020, por exemplo, revela que lagos e represas precisam de áreas de conservação da sua vegetação de entorno maiores que as definidas pelo Código Florestal brasileiro de 2012.
Para chegar à conclusão, pesquisadores analisaram 98 lagos e reservatórios do Rio Grande do Norte para entender como o uso do solo em regiões próximas e distantes de suas margens afeta a qualidade da água. Além disso, utilizaram dados de estações meteorológicas do estado para calcular a variabilidade e a magnitude de chuvas, analisando os dados a partir de modelos estatísticos. A pesquisa, publicada na revista científica Science of the Total Environment, conclui que o uso do solo em distâncias superiores a 100 metros da margem, também, afeta a qualidade da água dos lagos e das represas de menor porte, e o regime de chuvas no local pode intensificar ou atenuar esses efeitos.
Formando mestres e doutores desde 1995, o Programa é segmentado em duas áreas de concentração: Ecologia Aquática e Ecologia Terrestre. Dentro delas, existem pesquisas em linhas como Ecologia da Conservação, Ecologia da Restauração, Economia Ecológica, Limnologia e Ecologia Humana, nas quais são explorados diversos aspectos que vão desde os efeitos das mudanças climáticas até as alternativas de manejo e de uso sustentável de recursos naturais.
Na temática da Ecologia da Restauração, a Caatinga é uma das protagonistas. Único bioma exclusivamente brasileiro, além de majoritariamente nordestino, é tema de diversos estudos que surgem a partir do PPGEco e que buscam promover o uso sustentável e, ao mesmo tempo, estabelecer o processo de restauração como forma de engajar comunidades pertencentes à Caatinga.
Exemplo disso são pesquisas derivadas do Projeto Caatinga Potiguar, liderado pelos professores Carlos Fonseca e Eduardo Venticinque e composto por outros pesquisadores do Programa. Entre os frutos do projeto, estão os estudos do pesquisador Paulo Marinho, voltado para definir as áreas prioritárias da Caatinga no Rio Grande do Norte; e da pesquisadora Marina Antongiovani, que aprofunda a discussão acerca da restauração dessas áreas. Ambas pesquisas foram usadas como base pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) para definir ações de restauração no bioma. Além disso, essas áreas prioritárias têm sido usadas pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos para priorizar as compensações das eólicas no estado.
“Ainda nesse exemplo de estudos sobre a Caatinga, adiantaria muito pouco, do ponto de vista prático, compreender todas as funções do bioma e seus serviços ecossistêmicos sem entender os motivadores socioeconômicos de sua degradação e mecanismos que poderiam mudar as formas como a Caatinga é utilizada. E é exatamente isto que buscamos sempre que possível: engajar a teoria ecológica à ecologia aplicada”, explica Priscila Lopes, vice-coordenadora do PPGECO e professora do Departamento de Ecologia.
O mesmo pode ser dito para projetos direcionados aos ambientes aquáticos no aspecto do retorno e da participação social. O pesquisador João Victor Campos-Silva, egresso do PPGECO, avaliou, durante seu doutorado no Programa, as consequências ecológicas, sociais e econômicas da proteção de lagos amazônicos, com o objetivo de se ter uma pesca sustentável do pirarucu. Hoje, em parceria com outros egressos da UFRN, lidera o Instituto Juruá, no estado do Amazonas, que maneja milhares de quilômetros do rio Juruá em cooperação com comunidades locais.
Para Priscila Lopes, os resultados são notáveis do ponto de vista ecológico (aumento de peixes, tartarugas, aves, entre outros) e social, por incluir desde um maior desejo das pessoas em permanecerem na zona rural e cuidarem do ambiente em que vivem até um aumento do empoderamento e da participação feminina no local. Como um dos resultados de seu trabalho, João Victor Campos-Silva foi premiado com o prêmio Capes de melhor tese de doutorado.
Reconhecimento pioneiro
“Há décadas, há um esforço em se mostrar que a nossa região faz pesquisa de ponta nas mais diversas áreas, mas leva tempo para concretizar um resultado como este. Para isso, contamos com o investimento do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do Ciência sem Fronteiras, do fomento da Capes e CNPq e dos muitos esforços de nossos pesquisadores em buscar financiamento externo”, conta Priscila Lopes.
O pró-reitor de Pós-graduação da UFRN, Rubens Maribondo, vê com êxito a atuação do PPGEco e enxerga o reconhecimento da nota máxima da Capes como um reflexo da competência científica reforçada entre os professores e na instituição. “Estamos formando mestres e doutores de elevada condição técnica e científica, com uma infraestrutura adequada para realização de pesquisas de nível internacional que resultam em impactos na nossa região e, também, globalmente”, pontua o pró-reitor.
A vice-coordenadora explica que, devido ao tempo de desenvolvimento e concretização de uma pesquisa e ao processo de financiamento, que também pode não ser célere, são necessários um esforço e um planejamento conjunto para delinear as potencialidades e os desafios do Programa para o futuro. O investimento em parcerias com outros países e o trâmite de projetos de cooperação internacional também são, segundo Priscila, essenciais para alavancar as pesquisas que ainda não saíram do papel ou que estão em processo de conclusão.
“Também é importante investirmos na atração e retenção de bons estudantes de todo o país, mas, particularmente, nos estudantes da região Nordeste. Para isto, não somente as bolsas de estudo são essenciais, como também o investimento para a manutenção da experiência destes alunos em campo e em laboratórios”, conclui a professora Priscila Lopes.
Fonte: Agecom/UFRN