Na UFRN, um grupo de pesquisa na Educação Física, com forte pendor para a extensão, busca contribuir na recuperação e na adaptação de pessoas com coordenação motora e com desenvolvimento muscular prejudicados. A frase “é o núcleo que move as ações do Atividade Física e Saúde (Afisa)” é a base de sustentação das atividades de uma equipe que tem desenvolvido estudos voltados para a avaliação das variáveis biodinâmicas e tecnologia assistiva, agregando graduandos em Educação Física, em Fisioterapia e em Nutrição, além de mestres e doutores em Educação Física e em Ciências da Saúde.
O atual coordenador da equipe, Paulo Moreira Silva Dantas, conta que a aura do grupo é, por meio do atendimento, entrelaçar pesquisa e extensão e, dessa maneira, não fazer cessar o serviço oferecido aos beneficiados. “Quando encorpamos a iniciativa de intervenção junto a um grupo de pessoas, colocamos os alunos da pós-graduação para aplicar os seus estudos nesse ambiente. São estudos que objetivam, efetivamente, beneficiar a comunidade”, frisa o professor do Departamento de Educação Física.
Ao lado de mais de 30 outros membros, o docente realça que o desenvolvimento de estudos e de pesquisas sobre a atividade física, na perspectiva da biodinâmica do movimento humano, norteia os quase 20 anos de atuação do Afisa. Essa perspectiva é distribuída por ações em diversas frentes, uma das quais é a assistência a pessoas que vivem com HIV, a qual busca, por meio do exercício físico em si, promover melhoria das condições físicas e psicoemocionais.
Outra via de atuação acontece por meio do Grupo de Estudo em Tecnologia Assistiva (Geta). Nele, os pesquisadores conseguem, entre outras iniciativas, desenvolver novas tecnologias que têm o alcance de propiciar possibilidades de tratamento direcionadas e, até mesmo, personalizadas. É o caso do Dispositivo remo para auxílio da manutenção postural, muscular e óssea, um aparelho que possibilita uma maior independência em pessoas que têm alguma patologia ou que sofreram algum acidente que a impossibilite de realizar alguns movimentos por falta de força muscular nas pernas.
Outra tecnologia é a Manopla Funcional para Cicloergômetro de Braço, pesquisa cuja novidade, atividade inventiva e aplicação industrial foram reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) quando houve a concessão da patente para a invenção, no ano de 2019. Esse dispositivo consegue medir a capacidade funcional dos membros superiores, mostrando informações cardiorrespiratórias, de comportamento elétrico dos músculos ou sobre gasto energético.
“As patentes depositadas e as concedidas em tecnologia assistiva do Afisa possuem como eixo norteador comum a diminuição de custos, na perspectiva de atender um maior número de pessoas com qualidade e eficiência”, destaca Leonardo Dantas Rebouças da Silva, doutorando envolvido em quatro depósitos de pedido de patente. Um exemplo é dado quando se fala do Dispositivo para Avaliação Funcional de Discrepância de Membros.
O equipamento permite, de maneira simplificada, avaliar a discrepância de tamanho dos membros inferiores. Assim, quantifica a diferença, o que seria possível por métodos mais custosos e menos cômodos, como a realização de uma radiografia. Os resultados não são à toa. Eles vêm, segundo Paulo Dantas, de uma forma de pensar e de agir que leva em consideração o entrelaçamento do ensino, da pesquisa e da extensão com a inovação. Esta é tomada pelo grupo como um quarto pilar: “A inovação é um caminho que pensamos a mais para propor outras saídas, que beneficiem a sociedade que nos cerca”, salienta o professor.
Ele cita, como exemplo dessa postura conceitual, o Dispositivo de quantificação de tensão de bandagem elástica, patente cujo pedido para proteção foi feito em 2014. Essa tecnologia permite guiar e, assim, evitar o erro técnico dos profissionais que fazem o uso de bandagens elásticas na prática profissional. A bandagem é um recurso de larga utilização na fisioterapia, sendo aquelas fitas com capacidade adesiva usadas recorrentemente em quadros de dores musculares. Tal situação de mau uso ocorre, usualmente, em virtude da incerteza da tensão aplicada nela durante a sua utilização, o que pode causar efeitos fisiológicos indesejados.
“O que desenvolvemos é um dispositivo em formato de pinça, posicionado na extremidade da bandagem durante a aplicação. Quando for acionado, emitirá um feixe de laser capaz de mensurar quanto o tecido está sendo alongado. O valor gerado é transmitido para um microcontrolador, que calcula o resultado da deformação do tecido e o transforma em valores de tensão. Após esse processo, esse valor será transmitido para o profissional por meio de um display. Com a aplicação desse dispositivo, pode-se conhecer, com precisão, a tensão aplicada às faixas, contribuindo, assim, para a eficiência do método. Com isso, entendemos que o paciente pode ser beneficiado por um melhor tratamento terapêutico”, circunstancia Leonardo Dantas Rebouças.
O rol de novas tecnologias assistivas se alargou a ponto de despertar o interesse de grupos europeus pelas pesquisas desenvolvidas. O Afisa, que tem na coordenação Paulo Moreira Silva Dantas e na vice-coordenação Breno Tinoco Cabral, tem como base de sustentação seis linhas de pesquisas: saúde e indicadores biofísicos e culturais na motricidade humana, atividade física e qualidade de vida em portadores de necessidades especiais; atividade física, qualidade de vida e estilo de vida; descoberta de talentos esportivos; herdabilidade e aptidão física; e bioquímica da nutrição no contexto do exercício.
“Os 19 anos de atuação na temática proporcionou inúmeros avanços, que vão desde os trabalhos exclusivamente de mobilidade articular e força, que foram os iniciais entre 2007 e 2009, passando pelas diversas estratégias de treinamento de força e treinamento funcional, entre 2010 e 2018. E, atualmente, estamos com estratégias de eletroestimulação transcutânea auricular do nervo vago na função autonômica cardíaca, parâmetros metabólicos, bioquímicos e neurocognitivos e os estudos com treinamento mais intensos. O momento agora, de pós-pandemia e de diminuição do investimento na pesquisa vivenciado nos últimos anos, é o de sedimentarmos a nossa estrada”, salienta Breno Cabral.
O material sobre o Grupo de Pesquisa Atividade Física e Saúde (Afisa) é o segundo do projeto “A gente faz inovação”. A ação foi criada pela Agência de Inovação (Agir) e idealizada por Wilson Galvão e Mônica Tavares, jornalista e publicitária, respectivamente, da Agir, com o objetivo de dar visibilidade ao ecossistema de inovação aos grupos de pesquisa ou laboratórios que trabalhem com inovação tecnológica na UFRN, bem como incitar a transferência das tecnologias criadas pelas equipes.
Imagens: Cícero Oliveira
Fonte: Agir/UFRN