Mesmo tendo uma presença imperceptível, os Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA) desempenham importante papel ambiental. Esses microrganismos estimulam o crescimento e resistência de várias espécies de plantas sem prejudicar o ambiente ao redor, promovendo uma interação útil para, por exemplo, substituir produtos químicos na fertilização e recuperação de solos degradados. No Rio Grande do Norte, os FMA também estão presentes e representam um potencial neste sentido. É o que evidencia a pesquisa de doutorado da bióloga Juliana Lima, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Sistemática e Evolução da UFRN (PPGSE/UFRN), que explora regiões remanescentes da Mata Atlântica potiguar para saber mais sobre a ação e comunidade biológica desses fungos.
A pesquisa reconhece as espécies de FMA presentes na serapilheira e detalha o potencial de revitalização e preservação ambiental desses organismos presentes em abundância em vários ecossistemas. Com apoio de outros pesquisadores, a bióloga foi a três locais remanescentes da Mata Atlântica no RN: a Reserva Particular do Patrimônio Natural da Mata Estrela, no município de Baía Formosa, a Floresta Nacional de Nísia Floresta e a Fazenda Sapé, ambas localizadas na Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra. A partir disso, investigou a presença, a abundância e a variação de fungos em diferentes espécies vegetais e a influência da qualidade da serapilheira, bem como de fatores químicos do solo na presença e abundância dos fungos.
“Já conseguimos documentar a ocorrência desses fungos em folhas em decomposição da serapilheira em áreas de Mata Atlântica do Rio Grande do Norte e identificar algumas espécies que estão ocupando essa matriz biológica. A serapilheira mostra-se como uma fonte pouco explorada para estudo desses organismos e, pela primeira vez, foi possível identificar, a nível de espécie, quais são os fungos que estão ocorrendo nas folhas em decomposição”, explica Juliana Lima.
Um dos desafios para a pesquisa estava na limitação de técnicas para recuperar as amostras de FMA da serapilheira. Por isso, o estudo propôs uma abordagem alternativa para a coleta e análise desse material, aplicando a técnica de câmara úmida que foi inicialmente implementada para outro grupo de fungos: Ascomycota, maior filo do reino Fungi, com mais de 64.000 espécies descritas. Segundo Juliana Lima, este é o primeiro estudo a utilizar essa metodologia para trabalhar com os FMA, representando, portanto, uma iniciativa inovadora para a investigação desses organismos na serapilheira.
Os resultados referentes à nova abordagem contribuem também para a ampliação de possibilidades neste campo de pesquisa. Conforme descrito no artigo, a importância de investimento no uso de metodologias alternativas e de baixo custo está em contornar desafios de acesso à técnicas que não estão disponíveis em todo o mundo. Os dados ressaltam, no caso dos FMA, a eficácia do método escolhido.
“Nossa pesquisa fornece uma base para investigações futuras de qual é o papel desses fungos na decomposição, já que até o momento são reconhecidos por serem organismos simbiontes com raízes vegetais e não como decompositores. Além disso, trabalhos futuros devem continuar a investigação desses fungos na serapilheira não só da Mata Atlântica, mas expandir para outros biomas brasileiros”, pontua Juliana Lima.
O estudo foi publicado em artigo na revista neozelandesa New Zealand Journal of Botany. Fizeram parte, junto à Juliana Lima, Juliana Leroy, recém-doutora pelo PPGSE; Hannah Vieira e Juliana Felix, graduandas em Ciências Biológicas na UFRN; Camila Pinheiro Nobre, professora da Universidade Estadual do Maranhão; e Patrícia Oliveira Fiuza, do Programa de Pós-graduação em Sistemática e Evolução (UFRN), e Bruno Tomio Goto, professor do Departamento de Botânica e Zoologia (UFRN) e orientador da doutoranda.
Parte da equipe do estudo também compõe a Rizanálises, startup incubada no Centro de Biociências da UFRN, que tem como proposta socializar o conhecimento sobre e expandir o uso dos FMA como biofertilizantes.
Fonte: Agecom/UFRN