Cuidar e proteger: Projeto da UFRN auxilia na implementação de boas práticas e cuidado com os idosos nas ILPIs

Com o objetivo de capacitar e colaborar com profissionais que cuidam da população nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) que o Observatório de estudos em Envelhecimento Humano – Longeviver – coordena o projeto de extensão Implantando Boas Práticas na Gestão do Cuidado e Segurança em ILPIs, no qual se discutem questões de boas práticas, princípios que contribuem para a melhoria da qualidade do cuidado com os residentes. Identificação de riscos de quedas, medidas preventivas e protetivas de lesões por pressão, bem como administração segura de medicamentos são apenas algumas das ações de boas práticas realizadas pelo grupo.

O projeto atua em Natal, Parnamirim e Macaíba e oferece oficinas de capacitação em práticas seguras para gestores, cuidadores e profissionais de saúde no cenário das instituições desses municípios.

Cuidado é a palavra que define a atuação do grupo Longeviver a partir das ações com profissionais e idosos das ILPIs. Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

O Longeviver pretende enfatizar a compreensão acerca da faixa etária idosa, como forma de melhorar a prestação de serviços aos residentes das ILPIs, por meio de ações que promovem o desenvolvimento de uma política voltada ao cuidado sem riscos e um maior conhecimento dos direitos humanos e fundamentais da pessoa idosa.

O grupo Longeviver é coordenado pela professora Vilani Medeiros, docente do Departamento de Saúde Coletiva (DSC) da UFRN, que o define como um observatório do envelhecimento humano que atua a partir de atividades integradas de ensino, pesquisa e extensão com as ações de assistência. “Elas são de grande importância na prevenção de eventos adversos, erros no uso, prescrição e administração de medicamentos de alta vigilância, capacitação de cuidadores, prevenção de quedas, comunicação efetiva entre os membros que atuam na assistência, entre outros”, afirma a coordenadora.

Vilani Medeiros coordena o Longeviver e as atividades realizadas pelo grupo. Foto: Epitacio Nunes da Silva Junior

Sediado no DSC, o grupo integra a Rede Internacional de Pesquisa Sobre Vulnerabilidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do Idoso, que tem como propósito o desenvolvimento de estudos multicêntricos na área de envelhecimento e que tem parceria com universidades do Brasil, como a UFRN; de Portugal, com a Universidade de Évora; da Espanha, na Universidade de Múrcia (UMU) e a Universidade Católica de Murcia (UCAM); e da França, com a Universidade Paris Cité. O impacto social da iniciativa está inserida na prevenção de riscos expostos à população idosa e pode ser apontado como uma temática atual e de necessário debate, considerando a inversão da pirâmide etária, explica Vilani.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, entre os anos de 2012 e 2022, o envelhecimento da população brasileira teve um aumento significativo. Durante o intervalo de 10 anos, houve um crescimento do percentual de homens e de mulheres das faixas etárias não só de 60 a 64 anos, como um aumento de todas acima dos 34 anos. Por outro lado, foi observada uma redução do percentual das faixas etárias antes dos 34 anos de idade, tanto para homens quanto para mulheres. Dessa forma, é esperado que o número de pessoas idosas no país aumente ainda mais no futuro.

O Instituto Juvino Barreto, localizado em Natal, foi uma das instituições que recebeu o grupo Longeviver. Sandra Venceslau, responsável técnica e enfermeira do Instituto, ressalta a relevância da realização de ações como as promovidas pelo grupo. Ela explica que é importante aproximar as  ILPIs do ambiente acadêmico por meio da ampliação do saber de profissionais que trabalham hoje no ambiente de instituições como o Juvino Barreto. “É um elo que proporciona conhecimento aos profissionais das ILPIs e, em contrapartida, um campo para pesquisas na área do envelhecimento, ou seja, é uma troca”, afirma Sandra.

Ela conta que as ações com participação dos residentes e profissionais do Juvino Barreto foram de grande contribuição, principalmente na melhoria da qualidade da assistência aos residentes do Instituto, por meio das oficinas realizadas e na atualização da Caderneta da Pessoa Idosa, além da avaliação para risco de quedas pela qual os idosos foram submetidos.

Transformando vivências de futuros profissionais

O projeto de extensão atua apoiando as Instituições de Longa Permanência para Idosos, mas tem uma contribuição que vai além disso, e oferece experiências ricas para futuros profissionais, alunos de cursos de graduação e pós-graduação da UFRN. Angelo Maximo, discente do oitavo período de Enfermagem, é um desses estudantes beneficiados com o projeto. Ele conta que a vivência que tem no grupo Longeviver é de imenso valor para si. “A atuação direta nas ILPIs e o desenvolvimento das mais diversas atividades me proporcionam um aprendizado prático e sensível, complementando minha formação acadêmica de forma significativa”, afirma.

Para o discente, a partir das capacitações e das oficinas realizadas pelo grupo, é possível proporcionar uma formação sólida para os profissionais, dando oportunidades para os alunos aprenderem como oferecer um cuidado ainda mais humano e atencioso aos idosos, considerando individualidades e necessidades específicas, além de apoiar, valorizar e reconhecer a relevância do trabalho desses profissionais. “O trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisa Longeviver é permeado por uma dedicação profunda e um senso de propósito”, completa Angelo e enfatiza a gratidão por fazer parte da equipe e ter a possibilidade de criar um impacto positivo na vida dos envolvidos na iniciativa.

As oficinas e capacitações para profissionais promove, além do conhecimento técnico, uma abordagem mais atenciosa aos idosos. Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

“Minha atuação como membro do grupo me permite desenvolver habilidades essenciais para a promoção de mudanças positivas no cenário do cuidado aos idosos. Aprendi a valorizar ainda mais a interdisciplinaridade, a troca de conhecimentos e a importância de buscar soluções coletivas para os desafios” relata o estudante.

A vivência de Mayara Araújo, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA), não é muito diferente da experiência do colega: ela define a participação no Longeviver como enriquecedora para sua formação. “Desde quando entrei no grupo, tive a chance de conhecer pessoas, aprender coisas novas e me desenvolver profissionalmente”, explica. A discente entrou no Longeviver em 2019, e, desde o ingresso, a experiência contribuiu não só para a formação profissional, mas também para o desenvolvimento pessoal, aprendendo cada vez mais a importância de trabalhar em equipe e da multiprofissionalidade no cuidado à pessoa idosa.

“O ambiente acadêmico é muito desafiador e precisamos ter parceiros que nos ajudem a trilhar esse caminho da melhor forma possível. Eu encontrei isso no grupo Longeviver, tanto pela forma com que a professora Vilani conduz o grupo como pelas experiências vivênciadas”, compartilha Mayara. É a vivência que a aluna criou no grupo que a motivou a buscar ainda mais oportunidades de realizar pesquisas na área de cuidado e de segurança de pessoas idosas, a partir do desenvolvimento de coletas de dados e escrita de artigos científicos.

As experiências e memórias criadas a partir da atuação no grupo são de grande valor para todos os membros. Foto: Vilani Medeiros – Projeto Longeviver

Angelo e Mayara ressaltam a relevância que o Longeviver tem não só na jornada acadêmica, mas também na comunidade externa aos muros da Universidade. Abordar o envelhecimento da população significa conscientizar sobre a importância dos cuidados com a pessoa idosa e trabalhar para a melhoria de ambientes mais saudáveis para esta parte da sociedade.

“As ILPIs, atualmente, ainda não são consideradas instituições de saúde, embora sejam ambientes que reúnem pessoas que requerem cuidados de saúde. Infelizmente, as pessoas idosas institucionalizadas ainda são invisibilizadas, e o grupo Longeviver traz discussões importantes para mudar esse cenário, por isso sua atuação é fundamental para a sociedade”, conclui Mayara.

Momentos de dedicação e cuidado

No dia 5 de julho, o Departamento de Saúde Coletiva foi local de uma das iniciativas do Longeviver. O grupo realizou o 2º Seminário de Formação em Gestão do Cuidado e Segurança da Pessoa Idosa Institucionalizada e contou com a presença de bolsistas do projeto, de colaboradores e de voluntários, representantes de diversas ILPIs e participantes do Instituto do Envelhecer (IEN) da UFRN.

O Longeviver pretende realizar ainda mais ações dentro e fora do ambiente acadêmico para motivar discussões sobre cuidado e segurança com idosos. Foto: Projeto Longeviver

A ação foi realizada em dois momentos. A primeira parte do evento foi voltada para o esclarecimento do cenário do envelhecimento atual, com destaque para os desafios e para as oportunidades que surgem com o envelhecer da população. Também foi discutida a atuação do grupo Longeviver e das ILPIs na segurança e no cuidado da pessoa idosa, além do compartilhamento de informações sobre as metas de segurança preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o cuidado e bem-estar de idosos em instituições de longa permanência e como elas podem ser aplicadas de forma efetiva.

No segundo momento da iniciativa, foi realizada uma mesa-redonda com a coordenadora do grupo de pesquisa, Vilani Medeiros, que abordou as metas de Identificação Correta da Pessoa Idosa e Comunicação Efetiva entre os Prestadores do Cuidado à Pessoa idosa, em conjunto com os bolsistas e com os membros do Longeviver. Foram apresentados, ainda, os resultados da pesquisa do grupo que abordou o rastreio da Síndrome de Burnout em profissionais que trabalham nas ILPIs, a qual abriu portas para refletir sobre o bem-estar dos cuidadores e dos funcionários, além de pensar em estratégias de apoio e de cuidado para esses profissionais.

“Participar deste evento nos fez sentir que estamos contribuindo para um envelhecimento mais digno, seguro e feliz para essas pessoas e trouxe um profundo sentimento de realização e propósito”, finaliza Angelo Máximo, discente e membro do grupo.

Fonte: Agecom/UFRN

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