Esperança viva: grupo de flauta doce inclui pessoas com deficiência visual por meio da música

O palco do auditório da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN) virou oportunidade para equipes de pessoas com deficiências se apresentarem cantando, tocando algum instrumento e dançando durante o Recital dos Projetos de Inclusão que marcou o encerramento do primeiro semestre letivo de 2023. Crianças e adultos suplantaram suas limitações e foram calorosamente aplaudidos pelo público. Um desses grupos foi o projeto de extensão Esperança Viva, integrado por alunos com e sem deficiência, em sua maioria visual, que fazem dos instrumentos musicais seu meio de superação.

A professora Catarina Shin (EMUFRN) tem colaborado com o projeto desde seu surgimento, em 2011, quando as turmas dos cursos de Flauta Doce para pessoas com Deficiência Visual e Musicografia Braille se uniram para fundar o Esperança Viva. Além dos encontros semanais para ensaios, os jovens participam de aulas de instrumento, linguagem e estruturação musical, musicografia braille e vivências musicais. Os alunos também se apresentam em eventos da Escola e em lugares externos à Universidade, inclusive em outros municípios do estado.

Para Catarina, a extensão tem sido um meio pelo qual os integrantes socializam entre si, com a música e com a comunidade. “A  maioria das pessoas com deficiência está tão à margem e desacreditada pela sociedade que, muitas vezes, toma para si como verdade a ideia de incapacidade. São muitas as barreiras que ainda enfrentam no seu dia a dia, dificultando o exercício pleno de sua cidadania. Nesse sentido, o projeto contribuiu para o desenvolvimento do seu potencial, fazendo-os crer que podem fazer mais“, afirma Catarina, complementando que a sociedade também passe a vê-los como seres de potência e não de limitações.

O grupo chegou a apresentar em lugares externos à Universidade, como em Recife/PE – Foto: Cícero Oliveira

Paula Viviane integra o grupo, desde o início, tocando flauta doce soprano. A aluna possui deficiência visual e encontrou oportunidade de aprendizados inimagináveis. “Até eu entrar no projeto, achava que não tinha capacidade. Até perguntei ‘eu posso tocar flauta e, caso não conseguir, posso sair?’. Porque eu pensava que não tinha nascido para tocar, mas participando e aprendendo a tocar uma notinha, uma música, cada dia eu me sentia mais feliz e capaz”, diz a aluna, lembrando do quanto aprendeu nesses 12 anos como integrante do Esperança Viva.

Paula acredita que o retorno recebido pelo público são as experiências que mais lhe marcaram. “Onde a gente vai e leva nosso trabalho, mostrando para as pessoas o que a gente faz, ganha os aplausos, e nos sentimos tão bem. É algo de dentro para fora que dá para ver nos nossos rostinhos”, complementa. No Recital, foi nítida a satisfação no rosto da jovem ao ganhar os aplausos após realizar a leitura de um poema em braille.

Na plateia, Zanaina Lima acompanha com empolgação o evento e entende a importância de projetos como o Esperança Viva. “São pessoas que precisam dessa inclusão, e não é todo lugar que tem. Às vezes, você vai ver em outras escolas, e é uma inclusão fake, porque não há, e aqui você vê que realmente inclui, pois faz com que os alunos se sintam bem e acolhidos”, destaca a espectadora, registrando cada apresentação com o celular para eternizar o momento.

A aluna Paula Viviane emocionou a plateia ao ler um poema em braille – Foto: Jerusa Vieira-Extensão.com – Agecom/UFRN

De acordo com a professora Catarina Shin, o nome do projeto de extensão foi sugerido por Pedro Marcelino, aluno que adquiriu a deficiência visual já na idade adulta como consequência do diabetes. Segundo ele, o projeto deu mais esperança, mas uma esperança viva de algo bom que está acontecendo em sua vida e na vida de todos os integrantes. “Eu nunca havia ouvido falar em ‘esperança morta’ até ele dar seu depoimento, justificando o porquê do nome ‘Esperança Viva’”, relata Catarina com carinho e com satisfação pelo grupo e pelos alunos.

Atualmente, a equipe do Esperança Viva conta com 21 membros, sendo oito alunos com deficiência visual, um com múltipla deficiência (visual e física), 12 monitores (dois deles possuem deficiência visual) oriundos dos cursos técnicos e da graduação da EMUFRN. O instrumento principal do grupo é a flauta doce (soprano, contralto e tenor), mas há outros, como piano, baixo elétrico e percussão. Os encontros acontecem nas segundas e nas quartas-feiras, pela manhã, na Escola de Música da UFRN.

Fonte: Agecom/UFRN

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