No início de maio de 2023, o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou “com grande esperança” o fim da emergência sanitária da covid-19. Porém, os impactos negativos causados pela pandemia deixaram marcas significativas, uma delas está presente no mercado de trabalho do Semiárido Setentrional (SS) do Nordeste brasileiro. A região, caracterizada pelo clima seco e árido, além de um grande volume populacional, enfrentou desafios econômicos crescentes desde 2015 e, posteriormente, com a chegada da pandemia em 2020.
O estudo conduzido por Rislene Kátia de Sousa, durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem/UFRN), teve como objetivo analisar as diferenças no mercado de trabalho do SS antes e durante a pandemia, levando em consideração as unidades da Federação que compõem a região. Para isso, a pesquisadora utilizou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-Contínua), referente ao 3º trimestre de 2019, 2020 e 2021 que captam o cenário pré-pandemia e os dois primeiros anos da crise sanitária.
Os resultados revelaram uma piora nos principais indicadores do mercado de trabalho durante a pandemia na região do Semiárido Setentrional. No 3º trimestre de 2019, cerca de 49% dessa população em idade ativa estava fora da força de trabalho. Um ano depois, com a chegada da pandemia, houve a expulsão de 1,1 milhão de trabalhadores, levando a uma taxa de participação de 43,9%. Houve uma leve recuperação no 3º trimestre de 2021 quando a taxa alcançou 48,3%, porém ainda inferior ao observado antes da pandemia. “Esses impactos aparecem principalmente no quadro socioeconômico das famílias brasileiras, que já se encontravam em situação de aumento de vulnerabilidades”, afirma a pesquisadora.
Quanto ao desemprego, a taxa de desocupação piorou em 2020 (15,4%) e se recuperou ligeiramente em 2021 (14,6%), mas ainda permaneceu em patamar mais elevado em comparação ao período anterior à pandemia (12,4%). Embora a calamidade sanitária tenha afetado toda a região, houve variações entre os estados que compõem a parte mais ao norte do semiárido brasileiro.
RN, PE e PI
As microrregiões pertencentes ao Rio Grande do Norte (RN) e a Pernambuco (PE) foram as mais afetadas. De acordo com a pesquisa, os diferentes resultados no mercado de trabalho entre as unidades da Federação que compõem o SS indicam possíveis diferenças na eficácia das políticas públicas em atenuar os impactos negativos da pandemia. No entanto, estas diferenças são notáveis.
Nas microrregiões pertencentes ao RN e a PE, por exemplo, foram observados os mais elevados níveis de desemprego no 3º trimestre de 2020, com taxas de desocupação de 18,5% e 18,3%, respectivamente. Já a menor taxa de desocupação, no mesmo período, foi registrada na região do semiárido, localizada no Ceará.
Outro dado preocupante é a taxa combinada de desocupação e subocupação por insuficiência de horas trabalhadas. A microrregião do semiárido setentrional localizada no Piauí apresentou o pior cenário nesse aspecto, alcançando 36,1% no 3º trimestre de 2020. Esses resultados apontam para a necessidade de ações específicas e direcionadas para cada estado, considerando as diferenças em termos de políticas públicas que podem ter atenuado ou agravado os impactos negativos da pandemia no mercado de trabalho.
De acordo com Rislene, os resultados reforçam a urgência em demonstrar a importância das políticas públicas de transferência de renda para as regiões menos desenvolvidas, sobretudo em cenários de crises. “Por isso, há uma necessidade por parte dessa população de uma atenção maior quanto à implantação de políticas públicas que promovam qualidade de vida a essas pessoas”, aponta. Quanto aos desdobramentos da pesquisa, a autora afirma que continuará os estudos do semiárido setentrional, porém utilizando os dados do Censo Demográfico do Brasil de 2022, com foco apenas na população rural.
Fonte: Agecom/UFRN