Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 1% da população mundial é afetada pelo mal de Parkinson. Essa condição neurológica, descrita pela primeira vez em 1817, compromete o sistema nervoso central devido à degeneração das células produtoras de dopamina. A deficiência na produção desse neurotransmissor pode afetar os movimentos do indivíduo. Estudo realizado por Gilmara Gomes de Assis, no âmbito do Programa de Pós-Graduação de Educação Física (PPGEF/UFRN), sob a orientação do professor Paulo Moreira, analisou o impacto positivo do exercício aeróbico na qualidade de vida de pessoas com Parkinson em estágios avançados.
Os resultados revelam que a prática regular de exercícios físicos traz melhorias significativas no quadro clínico dos pacientes com doença de Parkinson quando comparado a um grupo de controle com características semelhantes, porém sem realizar atividades aeróbicas. Os participantes ativos do estudo experimentaram um aumento na força dos membros superiores, melhorias na estabilidade postural, agilidade dos movimentos, equilíbrio dinâmico, além da recuperação de movimentos voluntários comprometidos pela doença.
O Parkinson, geralmente, manifesta-se entre 50 e 60 anos de idade, embora existam casos raros de início precoce. Os sintomas comuns incluem tremores, movimentos lentos, problemas de fala, rigidez muscular e alterações na escrita. Por mais que não haja cura, os medicamentos podem ajudar a controlar os sintomas. Além disso, pesquisadores estão analisando o papel da atividade física como um complemento ao tratamento, uma vez que pode desencadear reações químicas-metabólicas que resultam em respostas adaptativas nos níveis molecular e celular do sistema nervoso central, auxiliando na melhora de distúrbios neurodegenerativos e na recuperação da funcionalidade dos neurotransmissores.
O estudo de Gilmara teve como objetivo avaliar os efeitos da caminhada aquática com dupla-tarefa na função motora de pacientes com doença de Parkinson avançada. 12 pessoas, com idades entre 59 e 73 anos, diagnosticadas com distúrbio dos movimentos corporais e atendidas no Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol/UFRN), foram selecionadas para participar do estudo.
Durante aproximadamente um mês, os participantes realizaram sessões de exercícios, com duração de 40 minutos cada, três vezes por semana. Antes de iniciar as atividades, todos foram submetidos à Escala Unificada de Avaliação para Doenças de Parkinson (UPDRS), uma bateria de exames que avalia o grau de severidade da doença, analisando aspectos como atividade mental, comportamento, humor, atividades de vida diária, execução motora e complicações no tratamento.
A UPDRS foi usada para avaliar a aptidão dos participantes por meio de testes que envolviam o uso dos membros superiores e inferiores, equilíbrio e agilidade. Os exercícios consistiram em três etapas: flexão de cotovelo, em que os pacientes realizavam o maior número de flexões, durante 30 segundos, enquanto estavam sentados em uma cadeira com um halter na mão dominante; sentar e levantar, em que eles se levantavam e sentavam o máximo possível, em 30 segundos, mantendo o corpo ereto e os braços cruzados no ombro; e levantar e caminhar, em que os participantes se levantavam de uma cadeira, caminhavam rapidamente até um cone, a uma distância de 2,44 metros, contornavam-o e retornavam à posição inicial, tudo isso com tempo cronometrado.
Os pacientes foram divididos em dois grupos com base na idade, severidade da doença e tempo de diagnóstico. Enquanto um grupo realizava o exercício aeróbico na piscina semiolímpica, o outro funcionava como grupo de controle. As atividades foram divididas em cinco etapas progressivas, começando pela travessia da largura da piscina próxima à borda; avanço para o comprimento da piscina sem ajuda; voltas completas na piscina; caminhada na largura sem ajuda; e, finalmente, atravesso do comprimento sem ajuda e longe da borda.
Ademais, houve uma fase de interferência cognitivo-motora, na qual os participantes realizavam tarefas duplas durante os exercícios aquáticos. Essas tarefas combinavam atividades motoras, como o uso de macarrões e outros acessórios, com demandas de atenção mais intensas. Essa etapa consistiu em doze sessões, com dez minutos de aquecimento, 30 minutos de caminhada na água realizando as tarefas duplas e dez minutos de alongamento, totalizando quinze tarefas duplas por sessão.
O estudo não apenas comprovou a eficácia do exercício aeróbico com dupla-tarefa no controle dos sintomas da doença de Parkinson, proporcionando um aumento nos fatores tróficos que auxiliam no desenvolvimento e conexão dos neurônios, aliviando os sintomas, mas também abriu caminho para novas pesquisas sobre o tema.
Esses resultados reforçam a importância do exercício físico, especialmente o aeróbico, como uma abordagem terapêutica complementar para pacientes com Parkinson em estágios avançados. Com mais estudos e aprimoramento das técnicas, podemos encontrar novas formas de melhorar a qualidade de vida e retardar a progressão da doença, oferecendo esperança para milhões de pessoas em todo o mundo que lutam contra o mal de Parkinson.
Fonte: Agecom/UFRN