Análise: Killer Frequency (Multi) é uma aventura narrativa nostálgica e surpreendente

Na atualidade, não é incomum vermos obras artísticas que tentam fisgar a nostalgia dos anos 1980. Algumas fracassam miseravelmente como produtos vazios, enquanto outras entregam uma experiência sólida que casa perfeitamente com sua temática oitentista.

Killer Frequency é dessas que alcança o sucesso na simplicidade sem apelar demais para os jogadores mais nostálgicos. O jogo da famosa desenvolvedora indie Team17 traz uma história clássica de filme de terror antigo: um radialista em uma cidadezinha no interior tenta desvendar uma série de crimes que têm ligação com o passado do local enquanto tenta salvar o máximo de pessoas possível.

A Noite do Assobio

Em Killer Frequency, você é Forrest Nash, um radialista que era bem famoso no passado, mas que hoje comanda a rádio noturna “The Scream” (sim, é uma referência à franquia Pânico). Depois de um incidente envolvendo o assassinato de uma pessoa importante na cidade, Forrest fica encarregado de receber as chamadas de emergência enquanto espera por ajuda.
O início da história requer certa descrença do jogador. É pouco difícil aceitar a ideia de que um agente público do serviço emergencial passaria suas funções a um simples radialista. Depois desse esforço inicial, a trama segue em ritmo crescente, sempre introduzindo um novo elemento para transformar a gameplay e trazer frescor para a experiência.
A jogabilidade é definida em dois pilares: escolhas narrativas no diálogo e resolução de puzzles, com um forte fio narrativo que instiga o jogador. O grande mistério da história é o retorno do temido Assobiador, assassino em série mascarado que faz parte do folclore histórico de Gallows Creek, cidade onde se passa o jogo. Esse elemento é algo que já de cara remete a filmes como Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado e Pânico.
O tom da campanha é uma mistura perfeita entre comédia e terror. Por vezes, é assustador ouvir alguém sendo morto ou perseguido nas ligações; em outros casos, temos cenas hilárias, como o cara que sempre liga pra fazer propaganda da sua pizzaria ou o maluco que aprendeu karatê através de fitas VHS e acha que vai capturar o assassino sozinho.
O game tem textos e legendas em português brasileiro, o que o torna ainda mais acessível ao público, mesmo que algumas palavras tenham sido mal traduzidas ou alguns escritos contenham erros gramaticais.

Entre discos e assassinatos

A princípio, a mecânica central de Killer Frequency pode parecer enjoativa ou simplória demais. O jogador passa a maior parte do tempo respondendo a diálogos, administrando a mesa da rádio e colocando discos para tocar entre uma ligação e outra. Entretanto, a velocidade com que novas possibilidades e reviravoltas narrativas aparecem tornam o ritmo do jogo perfeito, principalmente porque o título não é uma experiência muito longa, o que ajuda ainda mais a compactar as sensações transmitidas.
A cada ligação, Forrest tem que atender a um morador de Gallows Creek, seja para falar sobre assuntos mundanos como pizzas e cachorros, seja para ajudar alguém a escapar do temido Assobiador. São mais de vinte situações que exigem do jogador escolher as melhores opções para ajudar os ouvintes a sair das garras do assassino. O que torna cada ligação mais emocionante que a outra é o fato de os NPCs realmente morrerem se o jogador falhar em auxiliá-los, o que coloca te coloca no comando direto do destino de 90% dos personagens.
Não pense que as decisões para ajudar os ouvintes são opções simples como “siga para a direita” ou “pegue um atalho”: geralmente, cada ligação tem sua cota de puzzles e enigmas a serem resolvidos. Em uma das ligações, você deve auxiliar uma mulher a ligar um carro sem a chave; em outra, guiar um garoto por um labirinto de milharal ou até mesmo reunir provas em um quadro e juntar as peças do quebra-cabeça como um bom filme investigativo.
Entre uma ligação e outra, o jogo te apresenta novas oportunidades para sair das ligações e ganhar um pouco de fôlego. De início, isso é feito liberando certas partes do prédio, para mais adiante desbloquearmos todas as salas, com direito a quartos secretos e reviravoltas inesperadas na trama.
Falando em trama, só me senti limitado quando, por volta de 70% da campanha, uma pista complementou outra, o que entregou o nome do assassino e sua possível motivação. Mesmo com isso em mente, o jogo continua presumindo que você não sabe dessas informações, o que tira um pouco do impacto quando a revelação vem à tona e você fica com o sentimento de “ok, eu já sabia disso há duas horas”, mas ainda existe uma boa quantidade de revelações que surpreenderão até os jogadores mais atentos e meticulosos.
Além das ligações, outra mecânica interessante é a coleção de discos, que pode ser expandida caso o jogador encontre novos discos espalhados. Apesar das músicas terem uma vibe bem característica da época, todas são composições originais da desenvolvedora. Teria sido ainda mais legal ver clássicos como Tears for Fears, a-ha, The Police, entre outros.

Frequência Assassina

Killer Frequency mistura elementos que são amados na cultura pop, como a estética dos anos 1980, músicas características, assassinos mascarados, trama investigativa e humor pesado. Todos os elementos casam para transformar um simples indie em uma das minhas melhores experiências do ano com videogames. Para os fãs de filmes de terror slasher ou obras investigativas como as de Agatha Christie, esse título é uma porta para o paraíso.

Prós

  • Enredo que engaja e coloca o jogador para tomar decisões relevantes;
  • Personagens únicos com características que tornam cada um deles memoráveis;
  • Trabalho de dublagem excelente;
  • Puzzles criativos que te instiga a pensar fora da caixa;
  • Decisões que impactam a trama de maneira significativa;
  • Textos e legendas em português brasileiro.

Contras

  • Erros pontuais na tradução;
  • Nenhuma recompensa para quem desvenda a trama antes do momento estipulado pelo jogo;
  • Sem músicas reais dos anos 1980.
Killer Frequency — PC/PS5/PS4/Xbox One/Xbox Series — Nota 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Análise de Luan Gabriel de Paula

Fonte: GameBlast

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