Ir além do espaço acadêmico e promover uma cultura inclusiva em âmbito social. Essa é a proposta do projeto de extensão Acessibilidade e Inclusão, do Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação (DFPE) do Centro de Educação (CE), implementado em 2023 para levar ações inclusivas aos 15 municípios participantes do Trilhas Potiguares.
A ação surgiu após um convite da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da UFRN para que a professora do DFPE Katiene Symone de Brito Pessoa da Silva, atual Secretária-Adjunta de Inclusão de Acessibilidade (SIA/UFRN), criasse um projeto na área de inclusão para ser integrado ao Trilhas. “Como já desenvolvemos projetos de extensão com professores voltados para a audiodescrição e com o envolvimento de estudantes e servidores, mas não direcionados para o Trilhas Potiguares, criamos esse outro”, explica a docente.
Ela revela que já tinha sinalizado desde o ano passado a necessidade de incluir a temática da educação especial, propondo debates para o fortalecimento de uma cultura inclusiva. Diante do tema do Trilhas em 2023, Caminhando com a diversidade e a inclusão, refletir sobre a temática torna-se ainda mais oportuno.
Como já haviam projetos paralelos dos quais ela participa, voltados para a cultura inclusiva, a ideia foi organizar todos em um só, o Acessibilidade e Inclusão, no qual são trabalhadas temáticas específicas voltadas para a acessibilidade comunicacional, como libras instrumental, audiodescrição e linguagem simples – uma forma de apresentar informações para facilitar o entendimento das pessoas com dificuldade de leitura e compreensão.
Estão sendo realizadas oficinas básicas para 15 estudantes, ministradas por bolsistas. Participam do projeto alunos de diversos cursos da UFRN, como Ciências Sociais, Biblioteconomia, Matemática e as habilitações em Libras e Inglês do curso de Letras. Alguns estudantes são dos campi do interior e devem se tornar agentes multiplicadores de ações de acessibilidade em suas localidades.
“Cada aluno que vai aos municípios participantes do Trilhas irá desenvolver atividades voltadas para a acessibilidade comunicacional, a depender das demandas apresentadas em cada cidade visitada”, informa Katiene.
Após as visitas iniciais realizadas pelos coordenadores do Trilhas nos municípios, têm chegado demandas específicas que fogem à acessibilidade comunicacional, como esporte inclusivo e orientação aos profissionais de apoio em escolas. “São outras temáticas que estão aparecendo e nós estamos incluindo informações para os alunos, a fim de oferecer orientação a quem irá desenvolver ações nos municípios selecionados”, revela.
No caso de não surgirem demandas específicas na área de acessibilidade, a orientação dada pela coordenação do Acessibilidade e Inclusão é para que os estudantes do projeto possam desenvolver ações que debatam capacitismo, preconceito e estigma na formação de professores e alunos. Estão sendo desenvolvidos também jogos na oficina de Libras Instrumental com enfoque na língua de sinais para serem aplicados durante o Trilhas Potiguares. A ideia é promover atividades que possam ser inseridas em outras demandas e que tratem da temática da acessibilidade.
Katiene, que atua há mais de 20 anos na área de acessibilidade e inclusão, ainda se surpreende com informações simples a que as pessoas não têm acesso. “Ir a um município e falar sobre coisas básicas do dia a dia, promovendo a participação daquela pessoa que até então não sabia seus direitos porque ninguém a viu como alguém capaz, provoca uma mudança substancial no processo de inclusão”, afirma.
Para ela, a relevância do projeto vai além do espaço escolar, profissional e acadêmico, chegando ao âmbito social e promovendo o fortalecimento de uma cultura inclusiva, que estimula as pessoas a se colocarem no lugar do outro. “É entender que eu posso não ter uma condição de deficiência, mas eu vou ficar idoso um dia e assim ter algumas limitações, precisar de apoio, ajuda e recursos”, destaca. Daí a necessidade de propiciar a todos o acesso à informação.
Se nas capitais já existe dificuldade nesse aspecto, no interior a situação se torna mais complexa. Por isso Katiene acredita que o Trilhas é uma oportunidade de levar a UFRN até esses locais para aproximar a sociedade da Universidade. É uma imersão considerada muito relevante para os municípios e a UFRN, pois os estudantes ficam uma semana nas cidades em contato com a população, conhecendo suas necessidades e refletindo sobre o que pode ser desenvolvido para melhorar a qualidade de vida local.
“Temos a oportunidade de deixar uma sementinha de projetos que podem ser desenvolvidos depois das visitas, junto à prefeitura e entidades locais. Isso aconteceu em 2022, quando estive no município de Patu coordenando uma equipe. Foi minha primeira experiência no projeto e desenvolvemos outras ações após a imersão”, lembra.
A professora passou a coordenar no ano passado uma ação online de capacitação promovida pelo Ministério da Educação (MEC) e voltada a professores. Em Patu, diante da experiência anterior no Trilhas, foi possível contar com a adesão dos professores da rede municipal.
Para Francinaldo Soares, do oitavo período de Letras – Língua Portuguesa e Libras, participar do Acessibilidade e Inclusão vem sendo uma experiência proveitosa. “Estamos passando pela etapa de capacitação para levar aos municípios os conhecimentos adquiridos na UFRN. Acho muito bom participar desse projeto pois estou tendo a oportunidade de ampliar meus conhecimentos”, ressalta.
Ele destaca que sempre teve vontade de participar do Trilhas Potiguares, mas não sabia como ajudar nas demandas da Universidade e municípios para fazer parte do projeto. “Esse é o meu primeiro ano no Trilhas e era algo que eu já almejava. Vou levar o conhecimento que adquiri na UFRN e no projeto. Acredito que vai ser muito proveitosa essa troca com o público do Trilhas nos municípios. A gente sempre aprende. Vai agregar muito à minha vida profissional”, acrescenta.
Outro aluno da UFRN que participa do projeto Acessibilidade e Inclusão é Renan Toscano, do primeiro período do mesmo curso. A princípio, o projeto de extensão chamou sua atenção pelo tema que se propôs a trabalhar. “Está sendo possível adquirir muito conhecimento estudando sobre acessibilidade e inclusão, aprendendo e sendo transmissor como bolsista”, pontua.
Seu aprendizado acontece por meio de oficinas ministradas para os demais alunos do projeto Acessibilidade e Inclusão e do Trilhas mas também posteriormente, quando ele mesmo irá realizar oficinas para as comunidades locais. Renan acredita que dessa forma a disseminação da libras, da linguagem simples e da audiodescrição ganham notoriedade tanto dentro da UFRN quanto fora dos muros da Universidade.
Fonte: Agecom/UFRN