Fundado em 1988, o Programa Por Amor à Vida, projeto de extensão da Diretoria de Qualidade de Vida, Saúde e Segurança no Trabalho (DAS) da UFRN, atua para mudar as trajetórias de vidas e de famílias afetadas pelo uso abusivo de álcool. O Programa realiza atividades apoiando o Grupo de Acometidos pela Doença do Alcoolismo (Gada) e o Grupo de Familiares e Amigos dos Acometidos pela doença do Alcoolismo (AL-Anon).
A iniciativa executa ações de assistência à essas pessoas por meio de reuniões semanais, às segundas-feiras, a partir das 9h, e oferece ao público acompanhamento e palestras de profissionais como psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, assistentes sociais e enfermeiros. A motivação do Por Amor à Vida é promover diálogos e identificação com os participantes para que possam sentir acolhimento e apoio na jornada contra o alto consumo de álcool, além de poderem inserir-se novamente nas atividades laborais e no convívio social.
O impacto na vida dos participantes
“Nós somos um milagre”. “A recuperação é diária”. “É um privilégio estar aqui, numa segunda-feira de manhã, sóbrio”. Essas são algumas das frases que Fátima Maria Carpes Firmino, psicóloga no Programa, tanto escutou nas segundas-feiras em que estava presente nas reuniões do projeto. Ela relata que anotou cada uma para lembrar dos momentos de aprendizado que, segundo ela, foram muitos. “A gente aprende muito participando das reuniões e ouvindo esses relatos”, ressalta.
O grupo de apoio recebe, atualmente, uma média de dez participantes com histórias de alcoolismo e superação e motivam uns aos outros no caminho da sobriedade frequente. “Recuperação só tem começo, não tem fim, pois ela é uma construção diária”, diz Fátima, repetindo a frase dita por um dos integrantes nas reuniões, e continua com a afirmação de outro participante: “A aula nunca termina, o aprendizado é contínuo”.
A psicóloga não esconde a alegria em fazer parte de tantas trajetórias mudadas hoje e relembra a importância de se realizarem ações do mesmo gênero e que tenham como foco apoiar a sociedade. “É muito gratificante, porque eles relatam a relevância que tem esse trabalho na Universidade, o quanto é importante lutar para que esse tipo de atividade continue e tenha apoio de outras instituições”, defende ela.
Brenda Lee Gomes Araújo de Lima, assistente social que também atua no Programa, concorda e relata que participar da iniciativa é sempre estar com a mente aberta a novos aprendizados que são adquiridos a partir dos relatos de quem está caminhando para o lado oposto ao do uso abusivo do álcool. “A minha maior satisfação é quando entra um membro novo e ele continua participando, entendendo a finalidade do grupo”, afirma.
Mas o Programa não é voltado apenas para os servidores da UFRN. Ele também recebe pessoas de outras instituições presentes no Rio Grande do Norte e em Natal, sejam elas públicas ou privadas e, também, todos aqueles que se identificam com os valores do Por Amor à Vida. A iniciativa pretende aumentar, ainda mais, a divulgação das ações desenvolvidas e tem planos de fazer visitas frequentes aos setores da Universidade.
O Por Amor à Vida
Tudo começou quando, ainda em 1988, a DAS realizou uma pesquisa a partir de relatos frequentes de funcionários e familiares sobre alcoolismo, além de apontamentos de chefias dos departamentos acerca do número excessivo de faltas, segundo afirma Ivaneide Herminio Coelho, assistente social e servidora aposentada da UFRN, no relato em que agradeceu pelos 34 anos do Programa em que atua.
Ela explica que, na pesquisa, com a realização de 640 atendimentos, foram observados 145 servidores que tinham sido advertidos por ausências no trabalho, totalizando 2.903 faltas e não cumprimento do expediente na época. Fátima Firmino diz que, em comparação com o começo da iniciativa, o número teve uma grande queda, quando uma outra análise foi desenvolvida depois de três anos de ações contra o alcoolismo. “Diminuiu bastante a ocorrência de advertência por faltas ao trabalho. Em 1989, ocorreram 11 óbitos em decorrência do alcoolismo, mas, em 1991, nenhuma morte foi registrada”, relata.
Na mesma análise realizada em 1991, o número de advertências caiu de 145 para zero. As faltas diminuíram também, de 2.903 para 248. As suspensões tiveram uma queda de 172 para 10 e as internações caíram de 15 para sete. Também ocorreu uma redução das licenças médicas, das demandas de familiares para atendimento do serviço social e redução dos problemas interpessoais.
Nos 35 anos do projeto, a finalidade é diminuir cada vez mais esse número e contribuir para a mudança de vida de pessoas que enfrentam o uso abusivo do álcool. Ivaneide Hermínio Coelho relembra, no relato, toda a gratidão por ver o Programa do qual foi fundadora estar ativo até os dias de hoje e finaliza com um convite para mais participantes na ação, sejam como apoiadores ou pessoas que pretendem superar o alcoolismo. “Sejamos todos nós sementes, para que o futuro seja de menos dor e sofrimento, de maior acolhimento e compreensão e que possamos continuar a fazer a diferença na vida das pessoas”, conclui.
Fonte: Agecom/UFRN