No ano de 2019, foram registrados 67.556 acidentes nas rodovias federais brasileiras, dos quais cerca de 82% resultaram em vítimas (mortos ou feridos). O Nordeste é uma das regiões brasileiras com maior mortalidade no trânsito. Os dados do Painel de Consultas Dinâmicas de Acidentes Rodoviários foram levantados por Emilly Lindolfo de Souza em sua dissertação de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Demografia da UFRN (PPGDem), sob a orientação da professora Luciana Conceição de Lima.
No estudo, a pesquisadora busca entender melhor as consequências da combinação da bebida alcoólica e da direção veicular. Para isso, traçou dois importantes perfis: o demográfico e o de ambientação. Os resultados apontam para que, entre as vítimas fatais em acidentes cuja causa foi a ingestão de álcool, predominam o sexo masculino e a faixa etária dos 18 aos 29 anos. Também que os maiores responsáveis pelas ocorrências são os condutores e que o principal cenário é o interior do estado.
De acordo com o levantamento, as características de sexo e idade não apresentaram mudanças significativas nos padrões estudados. Já em relação ao local do sinistro e o uso do solo (zona urbana ou zona rural), houve variações importantes. Constatou-se que a maior parte dos casos sem vítimas fatais aconteceu em área urbana, com mais letalidade nos acidentes registrados em espaço rural. Além disso, apesar de a região metropolitana concentrar alto número de episódios, em rodovias federais localizadas no interior do estado a quantidade de ocorrências letais no período estudado foi superior.
Há importantes características que também definem os acidentes. Eles acontecem com mais constância no fim de semana, à noite, em dias sem chuva e sem céu nublado, em pista simples e em via de traçado reto, e são, em sua maioria, colisões. Essas características podem ser explicadas por uma gama de fatores, como a maior propensão de consumo de bebida alcoólica em momentos de lazer, a menor visibilidade durante o horário noturno e menos cautela dos motoristas em dias de céu limpo. Além disso, a própria influência do álcool na perda da noção de velocidade, controle da direção e invasão da pista contrária tendem a contribuir para a ocorrência dos sinistros.
A pesquisa não descarta, ainda, a possibilidade de que a concentração de blitzes fiscalizatórias e educativas nas áreas mais urbanizadas possa gerar maior desobediência às normas de trânsito em zonas rurais, onde a presença das forças policiais é menor. Os resultados encontrados apontam, portanto, para uma relação de dependência entre a prevenção e a redução de acidentes e políticas públicas que vão além da capital do estado e seu entorno, atendendo a uma demanda de melhoria da fiscalização do trânsito, de medidas abrangentes de comunicação e educação nos municípios do interior.
Fonte: Agecom/UFRN