Baixa natalidade – Número de filhos por mulher cai na região Nordeste entre 2000 e 2010

Pesquisa da UFRN mostra uma queda no índice de fecundidade na região Nordeste do Brasil, observada principalmente em mulheres com idades entre 20 e 24 anos. O trabalho, resultado da dissertação de mestrado da demógrafa Denise Evelyn Mendonça Pimentel, analisou a característica do comportamento reprodutivo dessa região a partir dos dados do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no período intercensitário entre 2000 e 2010.

Com o título Caracterização do comportamento reprodutivo na Região Nordeste em um contexto de baixa fecundidade, o trabalho, realizado no Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem/UFRN), sob orientação da professora Luana Junqueira Dias Myrrha e co-orientação do professor Wilson Fusco, analisou os aspectos socioeconômicos e demográficos das mulheres nordestinas segundo o número total de filhos a partir de quatro grupos distintos: mulheres com idades entre 20 e 49 anos que não tinham filhos; que possuíam um filho; que tinham dois filhos; e mulheres com três ou mais filhos.

A pesquisa analisou os aspectos socioeconômicos e demográficos das mulheres – Foto: SM

A metodologia aplicada, baseada em três objetivos específicos, buscou responder como acontecia a distribuição de mulheres por grupos quinquenais de idades de acordo com o número de filhos tidos. A intenção foi analisar o que mudou no período da pesquisa em relação ao padrão etário em cada um dos conjuntos analisados, além da diferença na idade média dos grupos; quais eram as características das mulheres por situação conjugal, afiliação religiosa, situação de domicílio, raça, renda per capita e escolaridade; e, por fim, como se deu a distribuição percentual de cada uma das aglomerações investigadas por estado do Nordeste.

O estudo mostrou que a taxa de natalidade das mulheres entre 20 e 49 anos que tinham três ou mais filhos caiu de 40,3% em 2000 para 27,6% em 2010. Nesse período, observou-se ainda o crescimento na participação das mulheres sem filhos (de 24,2% para 28,8%) e com uma ou duas concepções. Os resultados apontaram ainda uma diminuição na fecundidade e adiamento da maternidade nas coortes mais jovens.

Percentual de filhos na zona rural também caiu – Foto: Antonio Rodrigues/Diário do Nordeste

A mudança nesse comportamento é mais acentuada quando se olha para as moradoras urbanas e rurais. Em 2000, 53,4% das mulheres residentes em áreas rurais tinham três filhos ou mais, dez anos depois, esse percentual baixou para 39,7%. No mesmo período, cresceu a proporção de mulheres sem nenhum ou com até dois filhos. Segundo Denise Pimentel, a redução no percentual de mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos com apenas um descendente, tanto nas áreas urbanas quanto nas áreas rurais, pode indicar um início de processo de envelhecimento da estrutura etária da fecundidade.

A mudança no nível de escolaridade também afetou os nascimentos. A pesquisa mostra que, em 2000, uma grande parcela das mulheres de 20 a 49 anos de idade tinha poucos anos de estudo, mas isso mudou na década seguinte, provavelmente em decorrência da expansão do ensino superior ocorrida na região Nordeste. De acordo com a pesquisadora, a dedicação maior do tempo ao processo de escolarização tem sido apontada na literatura como um dos principais fatores para a postergação da maternidade. “O aumento do nível educacional das mulheres nordestinas pode ter contribuído, sim, para a redução do número de filhos nas coortes mais jovens”, reforça Denise.

Prioridade nos estudos influenciam a queda de natalidade – Foto: Helene Santos/Diário do Nordeste

Os resultados apontaram também que, nas famílias com mais de três filhos, é encontrada uma concentração maior da proporção de mulheres com baixa escolaridade, como também pretas, pardas e com menor renda familiar per capita. Por outro lado, as mulheres que possuíam mais de 11 anos de estudo tinham maior representatividade nos grupos com apenas um ou nenhum filho. “Outro dado relevante é a proporção de mulheres entre 20 e 49 anos que estavam em união e que não tinham filhos, o que mostra uma tendência de maior controle de reprodução por parte dos casais”, acrescenta a demógrafa.

Denise analisa que a pesquisa permite aprofundar o conhecimento sobre o padrão de fecundidade na região Nordeste no contexto recente ao buscar discutir, de forma mais detalhada, os padrões de reprodução e como isso pode impactar as taxas de fecundidade. “O estudo retratou ainda como as desigualdades regionais e socioeconômicas, nas quais as mulheres estão inseridas, refletem-se na heterogeneidade do comportamento reprodutivo, contribuindo para identificar alguns fatores que acabam influenciando as mulheres a não terem uma maior autonomia sobre suas escolhas reprodutivas, principalmente as que se encontram em maior vulnerabilidade social”, completa a pesquisadora.

Ouça abaixo, podcast Rasgaí, produzido pelo PPGDem sobre o tema.

Fonte: Agecom/UFRN

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