Anão apaixonado

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Garotas levam a vida inteira no banheiro. Quando vão sair então! Pelo menos, sua irmã era assim. Tantas caras e bocas em frente ao espelho. Tanta maquiagem! Antes disso, era o ir e vir com a roupa que achava que lhe cabia melhor. Enquanto lá da cozinha a mãe reclamava da demora, dos ovos que estavam postos na mesa à sua espera, do café que já estava na garrafa à sua espera, e do fato de que chegaria atrasada de novo na escola. “As coisas na vida não são do jeito que você pensa!” dizia a mãe. Ela sempre escutava os conselhos da mãe. Assentia com a cabeça enquanto sorvia ruidosamente seu café. E no outro dia, tudo de novo: as caras e bocas, a maquiagem em frente ao espelho, as idas e vindas com as roupas que achava que lhe cabia melhor. “Tchau, mãe!” Ela se despedia da mãe com um beijo apressado e saía. “Não tá esquecendo nada?”, dizia a mãe. “Não, mãe! Tchau! Tchau!”

Ótimo!

Ele saiu debaixo dos lençóis com o relógio. Havia tirado da gaveta do cômodo que dividia com sua irmã, do quarto que dividia com a irmã, enquanto ela passava horas no banheiro. Escovou os dentes. Trocou-se rapidamente, e chegou na mesa para tomar café com ares de desconfiança.

Tchau, meu filho, boa aula!” disse a mãe depois que o deixou na entrada da escola e o beijou.

Tchau, mãe…”

Mas ele não precisava daquilo. Tinha 6 anos. Era quase um adulto! Assim que a mãe dobrou a esquina, limpou o rosto.

Era na hora do intervalo que elas se reuniam. Um grupo de três meninas. 11 anos. E toda vez que ele se aproximava, ficavam aos cochichos, rindo “Lá vem o anão!”. Ele tinha olhos para uma delas. “Ai, eu não suporto esse menino! Fica só olhando pra mim toda vez que passa!” dizia a garotinha, enquanto suas amiguinhas riam dessa paixão não correspondida. Elas gostavam mesmo era dos meninos mais velhos, mais maduros, os garotos de 14 anos, que também as tinha como anãs.

Roubar o relógio de sua irmã foi como roubar doce de criança. Agora estava diante de uma grande decisão, e grandes decisões só aos adultos cabe — porque é algo que envolve coragem! — Ele não era o filhinho da mamãe como poderia parecer a muitos. Desde que seu pai foi embora, ele era o homem da casa. Sua mãe é quem disse. “Agora você é o homem da casa”. Portanto, cabia a ele agir como tal! Prendeu a respiração e se aproximou do grupo das três meninas. Chegou até seu grande amor e lhe deu um relógio novinho de presente! A zueira das amigas da garotinha que recebeu o relógio foi tanta que o enrubesceu. Não disse palavra e saiu.

Será que ela havia gostado do presente?

Será que ela sabia o quanta ele pensava nela?

Aê, ganhou um relógio do anão! — disse uma das garotas à menina que havia recebido o presente. — Vai fazer o quê?

Cê é louca, eu nem sei de onde esse menino tirou isso pra me dar! E se for roubado?

De fato

A garotinha deu a sua professora, disse de quem havia recebido, e o relógio voltou para sua dona, não sem antes a mãe do garotinho o deixar dois dias sem sair de casa – o que deixou o garotinho triste, pois não ia poder brincar. Mais triste do que o fato de sua recusa.

Depois de determinar a pena, a mãe fecha a porta atrás de si sorrindo.”

Loucura de amor? Quem nunca!

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