Sonhos no espaço – As meninas da tecnologia e ciência buscam o seu lugar – parte 1

Alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas é um dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas. É o Objetivo 5, dos 17 desafios que buscam, entre outras iniciativas ambiciosas, um mundo com menos discriminação de gênero e mais espaço para mulheres. O ODS 5 também reforça a necessidade de se aumentar o uso de tecnologias de base para meninas, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para que se consiga equidade entre homens e mulheres.

A meta da ONU de busca da igualdade se concretiza como meta quando são adotadas políticas que inspirem meninas a estudar matemática e ciências na fase escolar, ao mesmo tempo em que se combate preconceito contra as futuras profissionais das áreas tecnológicas. Alinhado e reforçando esse pensamento, o ODS 4, que se refere a uma educação inclusiva e equitativa, enfatiza a necessidade de, até 2030, serem eliminadas as disparidades de gênero na educação e garantidas a igualdade de acesso e oportunidades em todos os níveis de ensino e formação profissional. Na UFRN alguns grupos de pesquisa, em sintonia com os ODS, dedicam-se a estudar o tema, ao mesmo tempo que lutam por mais representatividade feminina nas Ciências.

Meninas participam de aulas sobre o setor aeroespacial, física dos foguetes e astronomia – Foto: Lauralisse Oliveira/Habitat Marte

Em 2013, a ONU ainda não tinha lançado a Agenda 2030 e nem os famosos ODS, porém na UFRN tinha início mais uma célula de estudos de gênero feminino – entre várias outras que existiam –, mas que desta vez buscava compreender quais são os fatores que afetam a escolha das meninas na hora de selecionar um curso na Universidade. Por meio de um edital do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), a professora de Engenharia de Produção Mariana Rodrigues de Almeida dedicou-se a pesquisas de gênero para o fortalecimento da área nas engenharias.

“O sonho de realizar projetos específicos para meninas surgiu no período da faculdade, pois percebia o quanto existia uma discrepância entre gêneros nas salas. Nos cursos de Engenharia de Produção e Têxtil, podíamos perceber que essa realidade não era tão grande, mas, caso você cursasse outro curso na área, sentia outra realidade”, relata Mariana. “Eu participei de vários grupos em que apenas eu era a única mulher na sala. O interesse de estudar essa área surgiu principalmente porque sou tão fascinada pela área de engenharia, que me surpreendia por não ter outras colegas para compartilhar”, diz.

Mariana Almeida: É importante para as meninas verem outras jovens falando sobre ciência em um ambiente acolhedor e sem críticas – Foto: Acervo pessoal

A frustração pela falta de colegas mulheres e novamente o apoio oferecido pelo CNPq tornaram possível a formação do grupo Meninas no Espaço, projeto que atendeu inicialmente 15 jovens meninas de diferentes municípios do Rio Grande do Norte. “Em 2018, fiz uma visita ao Habitat Marte, em Caiçara do Rio do Vento, junto ao professor Júlio Resende. Naquele período, o CNPq havia lançado o edital Meninas na Ciência, que me inspirou a juntar interesses e coordenar esse trabalho, que incentiva meninas e jovens para o setor aeroespacial”.

Mariana diz que a Agência Espacial Brasileira e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) lançaram um processo seletivo que a aprovou pelos critérios de experiência e maturidade na execução de projetos na área. “Vamos agora ampliar essa célula para uma maior quantidade de escolas e de jovens meninas na equipe. Em 2022 passei a coordenar o projeto Desenvolvimento de Jovens Meninas para o Setor Aeroespacial, que foi batizado como Meninas no Espaço.

O projeto busca a interiorização da ciência no estado e é organizado com a participação de 12 docentes de diferentes cursos da UFRN, bem como professores externos convidados, que auxiliam com palestras, e mais dez alunas da graduação e cinco da pós-graduação, que participam como mentoras. Para as meninas das escolas atendidas, é importante ver outras jovens falando sobre ciência em um ambiente acolhedor e sem críticas, pois a linguagem e a didática podem auxiliar o ensino.

Mariana explica: “esse curso de capacitação é muito inspirador porque tem uma formação diferente, com atividades exclusivas para meninas no ensino médio, focadas no setor aeroespacial. Essas alunas-mentoras são de diferentes cursos da UFRN: Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica, Escola de Ciência e Tecnologia (C&T), Engenharia Elétrica, Engenharia Ambiental e Física”.

Mapa mostra escolas e municípios atendidos pelo projeto

Após o processo seletivo, serão atendidas 21 escolas, de 16 municípios do interior e da capital do estado. A iniciativa oferece oito módulos de conteúdo, com diferentes temáticas: metodologias ativas para o setor aeroespacial; introdução à física dos foguetes; introdução à astronáutica; introdução aos ODS e a Agenda 2030: as mulheres do espaço; gestão de projetos no setor aeroespacial; engenharia do produto para o setor; linguagens de programação; e experimentação para o lançamento dos foguetes educativos.

Também haverá um módulo extra sobre astronomia e curiosidades do setor. Nessa capacitação, as meninas irão visitar alguns laboratórios da UFRN, como, por exemplo, o Potiguar Rocket Design, coordenado pelo professor George Marinho, e possivelmente a Barreira do Inferno e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A professora acredita que essas meninas poderão se destacar academicamente ou profissionalmente, pois são dedicadas e comprometidas com a pesquisa, o ensino e a extensão. Ela diz que, nas últimas duas décadas, o ambiente das ciências mudou para as mulheres, porém ainda continua predominante masculino. “Acho que, na fase da infância, essas jovens meninas precisam de mais incentivo, com melhores explicações, com casos práticos, que estimulem a sua criatividade e que incentivem os estudos na área de exatas”.

O projeto está aberto para colaboradores, como professores, escolas e alunas da comunidade que tenham interesse em contribuir, pois a coordenação do projeto tem interesse em ampliar parcerias com novos grupos. Nesse caso, basta entrar em contato pelo e-mail meninasnoespaco@gmail.com ou pelo número da coordenação 99419-2373. Caso queira seguir as novidades do projeto, o perfil no Instagram é @meninasnoespaco.

Fonte: Agecom/UFRN

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