Um dos gêneros populares no PC desde meados dos anos 1990 é o de simulador de gerenciamento. Apesar das semelhanças com títulos de estratégia em tempo real como StarCraft, Command & Conquer e Age of Empires, estes jogos focam mais no aspecto do desenvolvimento do que na conquista dos territórios por meio de batalhas.
Quando mais jovem tive o prazer de colocar em prática minhas pífias habilidades de organização, administração e gerenciamento em jogos como SimCity, RollerCoaster Tycoon, Constructor e um em particular pelo qual sempre tive apreço justamente por conta do tema: Pharaoh. Quando um remake do game foi revelado em agosto de 2020, fiquei humildemente feliz em ver aquele velho joguinho no qual gastei muito tempo — um luxo que não tenho atualmente — de volta.
Pharaoh, desenvolvido pela Impressions Games e lançado pela Activision em 1999 |
Agora, com Pharaoh: A New Era, posso voltar a ser a melhor pessoa para fazer a civilização egípcia prosperar em uma verdadeira aula sobre um grandioso capítulo da História. Será que muita coisa mudou de 1999 para cá? É o que veremos na análise a seguir.
Junto das areias, uma civilização nasce
Em Pharaoh: A New Era, somos levados por mais de 4000 anos de história de uma forma interativa e por vezes engajadora. A campanha principal do game proporciona dezenas de horas de jogatina através de missões que, inicialmente, nos ensinam o básico para fazer com que os egípcios prosperem em meio às escaldantes areias do deserto, ainda que sejam agraciados com o reconfortante rio Nilo ao seu redor.
Outras opções interessantes para jogar o game são o modo de cenários, com missões pré-determinadas e o modo livre, no qual sua criatividade é o limite para criar cidades dignas de receber o adjetivo “faraônico”. De todo modo, se você é iniciante, recomendo jogar as primeiras missões da campanha para aprender o básico e não ficar tão perdido já de cara.
Inicialmente, objetivos simples guiam sua trajetória na ascensão da civilização egípcia |
Começando com pequenos povoados e passando por vilas e cidadelas, chegamos ao ponto de construir gigantescas cidades de um dos maiores impérios que a História já presenciou. Mesmo a maior das árvores começou como uma frágil e minúscula semente, e é isso que a primeira leva de missões nos ensina para que possamos progredir no jogo.
Nossa função é alcançar determinados objetivos com base na forma que gerenciamos a cidade. A princípio aprendemos a criar pequenos assentamentos para que os primeiros moradores cheguem e dêem início à suas vidas. Para tal feito, o jogo nos introduz ao conhecimento básico para cada tipo de comunidade: bazares para distribuição de bens de consumo, guildas de caçadores e grupos de trabalho para cuidar do plantio e colheita, serviços públicos (como segurança, infraestrutura e saneamento) e, claro, apreço pelas divindades.
Cada missão exige que se atinja um determinado índice de crescimento da cidade para que a história ande e possamos continuar nosso trabalho e fazer o Egito crescer. Desde objetivos simples como ter um número determinado de habitantes, passando por outros como fazer determinadas moradias se desenvolverem até certo ponto, chegando ao apoteótico momento de construir maravilhas como as imponentes pirâmides e a enigmática esfinge.
Aos poucos, pequenos assentamentos se transformam em povoados cheios de vida |
O desenvolvimento exige que o jogador saiba instalar de forma inteligente os serviços de sua cidade. Uma moradia que dispõe de aspectos como segurança, saúde, cultura, religião e entretenimento se desenvolve e permite que mais moradores venham viver na comunidade que você está criando, aumentando assim as taxas de crescimento do local, que são importantes para permitir que a civilização prospere.
Também é preciso estar sempre atento para as intempéries que surgem no meio do caminho, como as cheias do Nilo que não vão render boas colheitas, desastres naturais, desavenças com outras cidades e até mesmo intervenções divinas caso sua cidade não tenha templos e santuários dedicados aos deuses. Um trabalho às vezes lento, mas que no fim do dia rende uma recompensadora imagem de uma bela cidade criada pelo jogador praticamente do zero.
Modernizando um clássico de forma sutil
Com o privilégio de ter jogado a versão original em meu “Computador do Milhão” no fim do século passado — falando assim até pareço um Matusalém —, antes de começar a falar sobre as melhorias do remake de Pharaoh eu quero deixar registrado que o jogo de 1999 pode ser jogado nos dias de hoje facilmente, pois também está disponível no Steam com a expansão Cleopatra, lançada em 2000.
Mesmo sendo um remake, Pharaoh: A New Era não traz nada que eu possa chamar de excepcional. O que temos aqui é, essencialmente, uma versão melhorada do jogo de 1999, contendo funcionalidades que trazem uma experiência de usuário mais amigável e uma apresentação mais adequada para os padrões atuais. Não há nenhuma funcionalidade online, modos cooperativos ou mesmo placares online, por exemplo.
É possível ajustar algumas opções para deixar o jogo mais fiel a características da época, como permitir que apenas os adultos trabalhem ou que os habitantes respeitem mais regras. |
Graficamente o jogo conta com melhorias que deixam-no mais agradável, mas sem perder a identidade visual que é uma de suas marcas registradas. As animações dos cidadãos estão mais bem-feitas, o design das edificações está mais detalhado e, obviamente, agora ele pode ser jogado em widescreen, suportando resoluções em alta definição.
Mesmo jogando em um PC mais intermediário (Ryzen 5 5500U, GPU integrada, 12GB de RAM DDR4 1600Mhz) pude desfrutar do game em resolução de 1080p sem problemas, com taxas de atualização oscilando entre 50 e 60 quadros por segundo. Mesmo havendo muitos elementos na tela, quando já estava construindo cidades realmente grandes, o gameplay fluiu muito bem durante minhas sessões de jogo.
É gratificante ver sua cidade crescendo e prosperando |
Funcionalidades como poder acelerar e até pausar o tempo que, salvo engano, não existiam na versão original também estão presentes. Essa é uma função comum em jogos atuais do gênero, como Surviving Mars e Cities Skylines. Melhorias nas interfaces de seleção de estruturas também foram feitas, deixando os menus laterais mais discretos e proporcionando um melhor aproveitamento da tela. Mas um preço a ser pago por isso foi a retirada do mini mapa, que era útil para acessar pontos específicos com mais agilidade.
Um ponto alto da experiência de Pharaoh: A New Era foi, sem dúvidas, a produção musical. A versão original já contava com composições que nos transportavam para o clima do Antigo Egito, mas o que a Triskell Interactive (desenvolvedora do remake) fez com esse aspecto do game é um verdadeiro deleite, principalmente para um jogo em que algumas missões podem facilmente durar várias horas.
Em um vídeo que mostra os bastidores do desenvolvimento é possível ver o cuidado e o respeito com a trilha sonora original, trazendo elementos que antes não estavam disponíveis para esta importante peça no conjunto da obra do game. O resultado é uma trilha sonora fascinante que casa perfeitamente com o contexto.
A qualidade do remake é excelente, algo que vai agradar a muitos jogadores adeptos do gênero. Entretanto, o domínio de outro idioma se torna necessário para ter um melhor aproveitamento de sua jornada em Pharaoh: A New Era, já que não há suporte para nosso idioma. Felizmente, tenho um domínio melhor da língua inglesa e não tive muitos problemas nesse ponto.
Pensando em um mercado mais latino-americano, o idioma espanhol já pode ser um respiro para driblar um pouco essa barreira. Falo isso pois em determinados momentos a leitura de algumas instruções se faz necessária para entender o que precisamos para que a cidade cresça. Uma das funcionalidades mais básicas é o clique em estruturas para saber o que elas precisam, ou então nos próprios cidadãos para saber o que estão pensando para que possamos melhorar sua qualidade de vida.
Um novo amanhecer à beira do Nilo
Pharaoh: A New Era é uma ótima adequação de um clássico dos jogos de gerenciamento para os padrões atuais. A qualidade de vida do jogador ao vivenciar mais de 4000 anos de história em uma das maiores civilizações da humanidade é a principal característica deste competente remake graças a melhorias na jogabilidade, gráficos e, especialmente na trilha sonora. Os deuses estão satisfeitos com o retorno desta obra.
Prós
- Campanha e modo de missões proporcionam muitas horas de jogatina;
- Trilha sonora envolvente;
- A experiência de usuário está bem melhor se comparada a do game original de 1999;
Contras
- Nenhuma novidade excepcional, como modos de jogo online ou placares;
- A falta de suporte ao português pode limitar o aproveitamento do game por jogadores que não dominam outro idioma.
Pharaoh: A New Era — PC — Nota: 8.0
Análise de Alexandre Galvão
Fonte: GameBlast