A exploração madeireira é uma das principais responsáveis pela alteração na composição da vegetação, podendo causar, a longo prazo, problemas maiores, como desertificação, desconfiguração de habitat ou extinção de espécies. Nesse cenário, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) têm avaliado, nos últimos anos, ameaças à diversidade genética de espécies arbóreas com importância econômica, mas superexploradas nas florestas nativas. Entre elas está a Mimosa tenuiflora, conhecida popularmente como jurema-preta, árvore nativa do Brasil e de ocorrência natural em áreas de Caatinga.
Pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PPGCFL) da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN), com apoio do Laboratório de Genética e Melhoramento Florestal (LabGeM), avaliou a diversidade genética em 15 populações naturais dessa espécie nativa distribuídas pelo estado do Rio Grande do Norte. O trabalho, fruto da dissertação de Kyvia Pontes Teixeira das Chagas, publicado na revista Genetic Resources and Crop Evolution, observou que todas as populações apresentaram baixos valores de diversidade genética, além de decréscimos populacionais significativos.
Os resultados da pesquisa indicam a necessidade urgente de um manejo adequado da jurema-preta associado a estratégias eficientes de conservação. De acordo com Kyvia, uma alternativa é a domesticação e implantação de florestas plantadas, visando minimizar a pressão de utilização de populações naturais e atender a demanda por produtos. “Além disso, por se tratar de uma espécie com propriedades medicinais, sugere-se o desenvolvimento de pesquisas voltadas para esse potencial e suas aplicações, o que pode facilitar a realização de mais estudos com finalidades conservacionistas”, explica.
Entre os objetivos dos pesquisadores estava sugerir áreas prioritárias para conservação e verificar se há ocorrência de gargalos genéticos populacionais. Isso porque, na região Nordeste, a atividade antrópica ocorre principalmente em áreas de Caatinga visando à extração e produção de lenha para consumo. Esta prática caracteriza o “corte raso” de um grande volume de espécies nativas, ou seja, supressão da vegetação por meio do corte de árvores rente ao solo, prática ilegal quando feita sem autorização dos órgãos ambientais.
A jurema-preta possui alto potencial econômico e ecológico, principalmente para fabricação de cercas, lenha e carvão, bem como a utilização forrageira, melífera e medicinal, o que faz com que a espécie seja explorada de diversas formas e de maneira intensa em toda a região de ocorrência. Por apresentar elevado poder calorífico é, sobretudo, uma das principais fontes de abastecimento dos fornos de cerâmica vermelha.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que os cortes rasos e as demais atividades antrópicas levam à fragmentação de áreas naturais, favorecendo o isolamento de subpopulações e reduzindo a diversidade genética. “Os indivíduos remanescentes sofrem alterações nos padrões de fluxo gênico e têm sua variabilidade e estrutura genética alteradas. Dessa forma, estudos de diversidade genética em populações florestais são necessários para compreender a distribuição da diversidade e as relações com o meio ambiente, podendo ser utilizados como base para futuras pesquisas que envolvam conservação, seleção e melhoramento de espécies”, comenta Kyvia.
De acordo com o professor Fábio Vieira, coordenador do LabGeM e orientador de Kyvia, as pesquisas realizadas no Laboratório têm como foco a conservação genética e o melhoramento das espécies florestais com relevância econômica e ecológica. O espaço de pesquisa recebe alunos de ensino médio, graduação e pós-graduação, além de pesquisadores de outras instituições. “Nossa missão é gerar informações científicas e tecnológicas na área de genética e melhoramento de espécies florestais para o Estado do Rio Grande do Norte e o Nordeste brasileiro, auxiliando na formação de novos cientistas, potenciais multiplicadores dos conhecimentos adquiridos e que possam contribuir efetivamente para a conservação, o uso sustentável e a restauração dos biomas florestais da região, especialmente no semiárido da Caatinga”, contextualiza.
Além da Kyvia, que realizou a pesquisa com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e de seu orientador, o professor Fábio Vieira, também assinam o artigo os pesquisadores Luciana Gomes Pinheiro, Fernanda Moura Fonseca Lucas, Ageu da Silva Monteiro Freire, ex-alunos do UFRN/PPGCFL, e Cristiane Gouvêa Fajardo, bolsista do Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD) da Capes/PPGCFL.
Fonte: Agecom/UFRN