Mobilidade estudantil oferece oportunidade além das fronteiras

Dados da Secretaria de Relações Internacionais (SRI/UFRN) mostram que, entre 2019 e 2022, 168 alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realizaram graduação sanduíche no exterior. Nesta modalidade, os estudantes têm a oportunidade de experienciar parte do curso superior fora da universidade de origem, seja com a possibilidade de permanecer em outra instituição nacional, ou sair do país nativo. Apenas nos últimos quatro anos, 12 países distribuídos pela Europa, América do Norte, América do Sul e Ásia entraram no roteiro dos graduandos. Somados aos aprendizados específicos de cada campo de estudo, estão a oportunidade de conhecer novas culturas, potencializar a prática em idiomas e atuar como representantes da instituição local.

Ao todo, a UFRN apresenta três acordos com instituições da França para o ingresso de estudantes das áreas de Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia Química e Engenharia Elétrica para dupla titulação. O professor Márcio Venício Barbosa,  Secretário de Relações Internacionais da instituição, explica que nesse caso os alunos podem realizar 50% da graduação em ambas universidades para, na conclusão, conseguir dois diplomas. Na chamada “mobilidade”, por sua vez,  é aprovada a realização de até três períodos em outra universidade, seguindo o regulamento da UFRN.

Quando o estudante resolve ingressar em outra instituição federal, o processo é coordenado pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFRN). Já para o exterior, a saída fica a cargo da SRI. Márcio chama atenção para o fato de que, assim como na dupla titulação, a mobilidade exige uma cooperação com outras universidades. Nesse eixo, a UFRN reúne cerca de 200 acordos com instituições de pelo menos 20 países. “Nós não recebemos alunos de universidades que não tenham acordo conosco, da mesma forma como não mandamos os nossos alunos para outras universidades com as quais não temos acordo”, observa.

Sanduíche no exterior é assunto para a SRI – Foto: Divulgação

Entre os países que foram destino dos estudantes nos últimos quatro anos, estão: Espanha, Portugal, Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Finlândia, Canadá, Colômbia, Chile, Peru e Arábia Saudita. Liderando o ranking, 2022 foi o que apresentou maior número de mobilidades para o exterior, com 53 alunos na graduação sanduíche. Na sequência, aparece 2019 (49), 2021 (40) e 2020 (26). Neste último caso, uma das razões para a baixa foram as preocupações advindas com a pandemia da covid-19, contexto que aumentou as medidas sanitárias e restrições nos países para combater o vírus.

Reflexos orçamentários e possibilidades

Apesar da alta quantidade de relações, a graduação sanduíche vem dependendo cada vez mais das condições financeiras dos estudantes. Em um recorte temporal, esse problema começa em 2017, com o fim do Ciências sem Fronteiras, e hoje projeta-se nos cortes orçamentários sofridos pelas universidades federais, que afetou desde o pagamento dos terceirizados até a disponibilidade de bolsas para financiar a pesquisa científica. “As bolsas para mobilidade entraram no final da fila porque tem muitos outros problemas sérios para resolver antes disso. Mas quando tem alguma oportunidade fora da UFRN, nós procuramos divulgar, como é o caso das bolsas do Banco Santander que temos parceria, ou as bolsas da CAPES para algum projeto específico”, ressalta Márcio Venício Barbosa.

Professor Márcio Venício Barbosa, diretor da SRI – Foto: Agecom/UFRN

Ele continua explicando que, caso o Ministério da Educação tenha interesse em lançar um novo programa que amplie as ofertas de bolsas na graduação sanduíche, possivelmente a SRI poderá enviar mais alunos para mobilidade. O docente adverte, contudo,  que ainda não há nada concreto sobre esse assunto –  inclusive nos grupos de trabalho voltados à transição que estão sendo acompanhados pela Secretaria – e será preciso aguardar o ano de 2023 para conhecer os projetos de cada pasta e saber quais rumos serão tomados.

Por hora, além do suporte para os programas disponíveis, a SRI tem buscado auxiliar os alunos prioritários na obtenção de visto e  passaporte para mobilidade. De acordo com o professor, embora a Secretaria não apresenta dados exatos  sobre o perfil socioeconômico dos alunos que têm ingressado nas bolsas para as engenharias, é possível afirmar que vários alunos receberam o suporte. Os critérios para ingresso nesses programas, por sua vez,  não consideram as condições financeiras, mas sim o aproveitamento no curso, proficiência na língua francesa e conhecimentos nas pesquisas a serem realizadas. Já para outros países, dominar o inglês é requisito primordial, tendo em vista que mesmo países não ingleses costumam lecionar no idioma.

O professor reforça, nesse sentido, que as bolsas são pontuais e os alunos precisam estar atentos às divulgações da SRI, seja nas redes sociais ou página oficial da Secretaria,  além de prazos e requisitos das universidades. No caso das oportunidades para dupla titulação nos cursos de engenharia e agricultura, por exemplo, há as da  Brafitec e Brafagril junto à França. A UFRN participa, ainda, da Associação de Universidades de Língua Portuguesa e de uma rede de universidades tecnológicas que também fornecem alguns programas. Todos os acordos estão disponíveis no site oficial da SRI.

“Quando o aluno está em uma universidade estrangeira, por exemplo, ele pode ler o acordo para saber ao que tem direito e, se aquele acordo não está funcionando, é preciso nos avisar para que a gente converse com as universidades”, adverte Márcio Venício Barbosa.  Segundo conta, o processo para alcançar uma mobilidade exige iniciativa, ou seja, o estudante precisa consultar a lista de universidades disponíveis, dialogar com os professores de graduação para saber quais são mais apropriadas para a área em questão, ou mesmo que tenham projetos em cooperação com os docentes.

Uma vez dentro do projeto já experienciado pelo professor, ou a partir do acordo estabelecido pela UFRN, o graduando deve solicitar um processo de mobilidade junto a coordenação do curso. Na sequência, a SRI fica responsável por entrar em contato com as universidades para saber quais componentes curriculares o aluno pode cursar e apresentar essas opções ao coordenador da graduação. Por último, este verifica as disciplinas com equivalência às da instituição para que o aluno possa aproveitá-las ao retornar do exterior.

O ideal é que a mobilidade aconteça entre o terceiro e o penúltimo período do curso, dada a experiência já alcançada pelo estudante nesses estágios e a prioridade de realizar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na universidade de origem. “Depois do terceiro, o aluno já sabe como o curso funciona e consegue traçar um rumo, ou seja, tem um plano dentro daquela área e vai poder escolher tanto a melhor instituição de acordo com o que ela oferece quanto às disciplinas. E voltar antes do último período porque é muito mais complexo quando se tem essa parte de monografia e estágio supervisionado no exterior”, destaca Márcio Venício Barbosa.

Importância institucional e aprendizados

Com a finalização dos processos para alcançar a mobilidade, o aluno entra na fase mais esperada: a chance de vivenciar a graduação em outro país e aprender com uma nova turma de profissionais. Para o Secretário da SRI, os principais incentivos para que o aluno realize a graduação sanduíche são a  possibilidade de aprender com outras culturas, adquirir variadas visões de mundo, buscar soluções para problemas vigentes e servir de influência para outros graduandos. Os reflexos positivos disso vai depender do perfil do estudante que pode ou não apresentar condutas proativas ao longo do curso.

Mobilidade estudantil amplia cultura dos participantes – Foto: Divulgação

O professor Márcio Venício Barbosa relembra, ainda, que a graduação sanduíche detém uma forte relevância institucional. “Cada aluno nosso que sai é uma espécie de embaixador, pois ele leva para outra universidade a nossa formação e isso é observado pelos professores. Durante o Ciências Sem Fronteiras, por exemplo, tínhamos muitos alunos no exterior e sempre havia visita de universidades que vinham propor acordos porque apreciavam a formação que os alunos levavam”, destaca. Nas palavras dele, os frutos dessas relações se projetam não apenas na experiência pessoal do estudante, mas na de colegas, professores e no desenvolvimento da UFRN.

Realidade semelhante foi vivenciada pela jornalista Vitoria Coelho, egressa do curso de jornalismo na UFRN. Aos 25 anos, ela conta que por volta do segundo/terceiro período da graduação, por meio de uma colega de turma que vinha do Rio Grande do Sul, descobriu a possibilidade de realizar a mobilidade. Estimulada pelo sonho antigo de ingressar na Universidade de Brasília (UnB), além das oportunidades que poderiam acompanhar esse movimento, resolveu buscar mais informações. “Foi complicado porque sou de uma família muito humilde, então financeiramente parecia impossível porque em Brasília o custo de vida é muito alto. Foi então que descobri a bolsa do Santander e procurei conhecer as regras”, compartilha.

Apesar de ter conseguido aprovação na mobilidade no terceiro semestre, problemas envolvendo o envio da documentação por parte da coordenação do curso acabaram impedindo que ela realizasse a mobilidade. Sem alternativa, Vitória precisou aguardar o semestre seguinte, em 2018, quando foi selecionada para a bolsa e realizou a mudança para Brasília. Durante a estadia na cidade, passou a receber um auxílio no valor de R$ 600 para cobrir as despesas, mas observa que a moradia só foi garantida no semestre seguinte, uma vez que sua aprovação ocorreu após o fim do prazo para solicitar residência na UnB.

Imersa em uma nova experiência e passadas as burocracias, a jornalista conta que o primeiro ‘choque’ que teve na cidade foram as diferenças culturais e sociais, que funcionaram como barreiras na construção de laços dentro do Campus. “Apenas no final do primeiro período/início do segundo, quando paguei uma disciplina de Audiovisual, que consegui fazer algumas amizades. Nesse aspecto de relacionamento foi um desafio muito grande, mas aprendi a me comunicar de outras formas e busquei acolher outras pessoas que chegavam na mobilidade”, relata.

Se, por um lado, as relações na Universidade foram desafiadoras, por outro, o processo da graduação atendeu a todas as expectativas de Vitória. Nas palavras dela, conhecer outras realidades, profissionais e suas metodologias de ensino foi significativo. Aliado a isso, a aprovação para um estágio na Agência Brasil de Comunicação ainda durante a mobilidade, abriu portas para que pudesse vivenciar o jornalismo dentro de um veículo com alcance nacional. “Foi uma experiência enriquecedora em vários sentidos porque, mesmo falando de Brasil,  o país é muito diverso”, conclui.

Fonte: Agecom/UFRN

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