Estudo da UFRN identificou 18 sub-regiões florísticas baseadas na ocorrência das espécies e quatro sub-regiões baseadas na abundância das espécies no Cerrado e Pantanal. O trabalho, publicado na revista Plant Diversity, apresenta parte dos resultados da tese de doutorado de Karla Silva-Sousa, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGEco), do Centro de Biociências (CB/UFRN), sob orientação do professor Alexandre Souza. As sub-regiões baseadas em ocorrência e abundância são abordagens complementares úteis para o planejamento de conservação das espécies nos biomas investigados.
Os principais objetivos da pesquisa foram mapear grupos de plantas arbóreas no Cerrado e Pantanal e investigar a influência de fatores ambientais, como o regime de chuvas e a variação do solo, além de fatores humanos e históricos para a formação dessas regiões florísticas. “Queríamos saber também se o bioma Pantanal é distinto floristicamente do Cerrado ou se consiste em uma continuidade florística deste último”, conta Karla.
Para realizar o estudo, a equipe utilizou um banco de dados contendo a distribuição geográfica de mais de 1.700 espécies de árvores e de arbustos encontrados no Cerrado-Pantanal. Foram aplicadas técnicas de estatística espacial sobre os dados e mapeamento das sub-regiões. Também foi construído outro banco de dados, contendo informações do ambiente para cada local onde as espécies foram registradas para investigar a influência ambiental para as sub-regiões. Toda a parte de aprendizagem de máquina teve o apoio da Superintendência de Tecnologia da Informação (STI/UFRN), que disponibilizou um computador virtual extremamente potente para permitir as análises.
A pesquisa mostrou ainda que o Pantanal é dominado pelas mesmas espécies encontradas no Cerrado, embora possua espécies raras ou ameaçadas na América do Sul, provavelmente espécies das florestas secas sazonais, do Chaco, Amazônia e Mata Atlântica. Também foi possível observar que a formação dessas sub-regiões está relacionada principalmente a fatores ambientais, como os climáticos e de solo. “A influência climática na distribuição das sub-regiões sugere que a organização espacial da flora arbórea do Cerrado-Pantanal pode sofrer um impacto profundo em um contexto de aquecimento global”, disse Karla Souza.
De acordo com a pesquisadora, a partir do artigo é possível aumentar a compreensão dos padrões espaciais de espécies arbóreas no Cerrado e no Pantanal, podendo ser utilizado para guiar estratégias de conservação nesses biomas ameaçados. O Cerrado é considerado um hotspot de biodiversidade, no entanto, suas áreas protegidas representam apenas 8,3% da área do bioma. Um hotspot é uma região biogeográfica que é, simultaneamente, uma reserva de biodiversidade, mas que pode estar ameaçada de destruição.
“A compreensão das divisões naturais da biodiversidade pode conduzir a estratégias de conservação mais eficazes, que se tornam ainda mais importantes em hotspots de biodiversidade como o Cerrado. Além disso, a identificação de áreas de importância para a conservação necessita frequentemente da informação combinada de modelos de ocorrência e abundância de espécies, como os mapeados em nosso trabalho”, reforça Karla.
Para o futuro, os pesquisadores querem observar se essas regiões compreendem unidades evolutivas, além de mostrar a influência de linhagens de biomas vizinhos no Cerrado e no Pantanal.
Fonte: Agecom/UFRN