O cantor e compositor Erasmo Carlos morreu nesta terça-feira (22) no Hospital Barra Dór, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Segundo informações divulgadas na imprensa, o artista teve que ser internado às pressas. Ele tinha 81 anos. No início do mês, Erasmo Carlos havia recebido alta após passar por um período na UTI, com um quadro de edema.
O início
Seus primeiros passos na música se deram ainda na década de 1950 quando formou o quarteto The Snakes ao lado de Arlênio Lívio, José Roberto China e Edson Trindade. Os três eram ex-integrantes do grupo The Sputniks, no qual haviam tocado junto com Tim Maia e Roberto Carlos.
Foi por volta daquela época que Erasmo se deparou pela primeira vez com aquele que seria um de seus grandes parceiros na música. “Eu estava lá em casa, na Tijuca, e um amigo em comum bateu na porta com o Roberto Carlos. ‘Queria te apresentar um amigo que é cantor’. Já conhecia ele da televisão. Eu colecionava muitas letras de música, fotos de artistas de rock and roll, e ele precisava de uma letra que eu por acaso tinha”, lembrava, ao Fantástico, em 2013.
“Era Hound Dog, de Elvis Presley. Ficamos conversando e rolou um papo legal de rock. Ele falou: ‘Aparece lá pela televisão’. Aí eu comecei a sair do trabalho, ir para lá, só para ver. Eram 15 minutos de programa. Fui ficando amigo da equipe, das dançarinas os músicos. Daqui a pouco já comprava um sanduíche para o Carlos Imperial, conhecia o porteiro, entrava direto. Aí que o Imperial me chamou para ser secretário dele”.
“Com o Roberto Carlos, também, a gente foi convivendo e ficando amigo. Muitas brigas, por exemplo, de turmas, mas que nos aproximaram muito. Aquela coisa de ‘brigamos juntos’, sabe? Dessa amizade de amigo, a gente foi se identificando musicalmente, também. Com meu conjunto vocal, fui fazendo coro para ele. Até o dia em que nós resolvemos fazer uma música, um rock em português, Parei na Contramão”, continuava.
Anos depois, ao lado de Roberto e Wanderléa, Erasmo Carlos foi um dos apresentadores do histórico Jovem Guarda, programa da TV Record exibido entre 1965 e 1968. Em seu palco, passaram grandes nomes da música brasileira, que à época faziam sucesso com o público jovem. Além do trio, destacaram-se nomes como Ronnie Von Wanderley Cardoso, Vanusa, Sérgio Reis, Jerry Adriani, Fred Jorge e grupos como Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis e Golden Boys. Nessa época, compôs o clássico Festa de Arromba.
“Na Jovem Guarda ninguém fumava nem bebia. Só depois experimentei maconha e outras drogas, como ácido, mas só duas ou três vezes”, garantia, em entrevista ao Estadão, em 2009.
Parceria
Fosse na época da Jovem Guarda ou nas décadas seguintes, Erasmo participou da composição de muitos dos sucessos que se popularizaram na voz de Roberto Carlos. Entre eles, Calhambeque, Eu Sou Terrível, Detalhes, O Divã, Além do Horizonte e Cama e Mesa.
Em 1974, a dupla criou uma melodia para uma canção religiosa, mas não conseguiram concluir a música, que acabou engavetada. Três anos depois, Roberto, emocionado com a ida de Erasmo à sua festa de aniversário surpresa, escreveu a letra de Amigo durante viagem a Los Angeles. “Você meu amigo de fé, meu irmão camarada/Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas/Cabeça de homem, mas o coração de menino/Aquele que está do meu lado em qualquer caminhada”, diz a letra, feita em homenagem a Erasmo Carlos.
Sobre ter que lidar com o fato de seu colega, Roberto, ser chamado de “Rei” ao longo dos anos, Erasmo Carlos dizia que não se incomodava. “Eu sou um compositor. O que eu sempre sonhei, a partir do momento que eu gostei de música, foi ser compositor, um criador. Jamais me passa pela cabeça o negócio de ser cantor, sabe? Eu canto por circunstância”.
“Por isso posso dizer, da minha parte, nunca houve o mínimo incômodo de o Roberto Carlos ser o ‘Rei’. Não, eu sou compositor. É isso que eu quero ser, o que eu sempre quis ser. Tudo que eu tenho na minha vida é em função do que eu sou e gosto de ser. Se eu não cantar, eu não me importo. A minha realização não é estar em um palco cantando, é eu estar com meu violão compondo”, explicava em entrevista a Marília Gabriela no GNT, em 2010.
Fato é que nas muitas vezes em que mostrou seu lado cantor, fosse com músicas próprias ou compostas por outros artistas, Erasmo Carlos fez sucesso, como em Mesmo Que Seja Eu, Gente Aberta, É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo, Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo, Sentado à Beira do Caminho, Minha Fama de Mau Mulher (Sexo Frágil) e De Noite na Cama.
Ao longo dos anos, tornou-se referência para inúmeros músicos. E recebeu homenagens, como na canção Tremendão é Tremendão, do grupo Funk’n’Lata. Em 1998, Ivo Meirelles explicava o motivo para a admiração, à Folha de S. Paulo: “Erasmo é autêntico. Não é marketeiro. Por isso o mercado não lhe dá o devido valor e ele está há anos sem gravar”.
Crédito da Foto: Divulgação
Fonte: TRIBUNA DO NORTE