Muitas das coisas que conhecemos hoje dos games começaram há mais de 50 anos, tudo graças à Atari. Desde os primeiros sucessos até a quase derrocada total da indústria, a empresa fundada por Nolan Bushnell e Ted Dabney tem papel vital no desenvolvimento de todo entretenimento virtual.
Para coroar essa história de altos e baixos, nós jogadores fomos agraciados com Atari 50: The Anniversary Celebration, que consegue transcender a aura de coletânea, se tornando um grande “documentário jogável”, indispensável para os fãs da época e para os curiosos de plantão.
Entre muitos altos e baixos
Logo de cara temos à disposição um cardápio de mais de 100 títulos para serem explorados — sendo cinco deles desbloqueáveis —, das seguintes plataformas: Arcade, Atari 2600, Atari 5200, Atari 7800, Atari Lynx, Atari 800 e Atari Jaguar. Todos eles representam a evolução técnica dos consoles desenvolvidos pela empresa, mas isso não quer dizer que eles obtiveram sucesso.
Para quem quiser primeiro saciar sua fome de curiosidades, há cinco linhas do tempo, ricamente ilustradas com artes, manuais, pôsteres, entrevistas (legendadas em inglês), comerciais e a possibilidade de executar os jogos da listagem ali mesmo. Acreditem, dar o play em Asteroids ou Yars’ Revenge após conferir os depoimentos de quem estava envolvido na sua concepção muda completamente a perspectiva de quem está no controle, o que é algo bem interessante.
Vale adicionar mais um detalhe muito charmoso. Assim como cada jogo possuía mais de um modo, que era acionado ao dar reset no console, nós também temos essa escolha do modo de jogo, que pode ser referente à dificuldade, tonalidade da tela ou duração da partida. Além disso, cada um dos escolhidos da lista pode ter seu progresso salvo a qualquer momento, de maneira individual.
O acervo é rico e muito bem explorado, mas por se tratar de uma celebração, alguns nomes expressivos tiveram uma ausência deveras sentida, como Pac-Man, Pitfall!, Keystone Kapers, River Raid, SeaQuest, Moon Patrol e Space Invaders, por exemplo. Sabemos que a maioria deles não seria disponibilizado por questões de direitos, mas ainda assim, foram parte vital da carreira da Atari.
Também não seria de todo ruim jogar um pequeno holofote para o malfadado E.T., que sempre é lembrado, citado, xingado, execrado e culpado, mas nunca incluído.
E se…?
De todos os jogos inclusos nessa festança de aniversário, ainda houve espaço para algumas surpresas. Foram adicionadas algumas reinterpretações de alguns jogos e de protótipos nunca lançados antes.
Chamadas de Atari Reimagined, essas releituras dos clássicos trazem novas perspectivas e até usam da liberdade de expressão para misturar mais de uma referência: finalmente é possível concluir a saga de SwordQuest; podemos experimentar em Yars’ Revenge Enhanced uma transição entre o clássico e o moderno durante a jogatina; VCTR-SCTR presta homenagem aos vetores coloridos de Black Widow, Asteroids, Tempest e Lunar Lander; Haunted House joga uma nova perspectiva tridimensional ao clássico do 2600; e Quadratank retoma as batalhas motorizadas de tanques entre quatro pessoas, com diferentes regras e terrenos.
Já os protótipos são mais tradicionais aos consoles de origem e podemos conferir diversos gêneros que estavam planejado, como esporte e shoot ‘em up, para Arcade e os Ataris 2600 e 5200. Vale gastar algumas horinhas apenas com esses títulos únicos e até então desconhecidos.
Vários fliperamas em um
Desde o pioneiro Pong até o incomum Sprint 8, cada jogo pode ser acompanhado do visual das suas cabines características da época. O mesmo vale para as capas de jogo e artes dos títulos de console. É uma maneira interessante de se compensar visualmente algo que já tem um estilo definido, logo, não apresentaria melhoria gráfica alguma.
Entretanto, a parte da jogabilidade em alguns momentos é afetada, de acordo com as características de cada título. Como a ideia é emular sempre a maneira como tudo era controlado naquela época, em alguns momentos pode haver a necessidade de remapear os botões, para que tudo siga um mesmo padrão, principalmente em alguns Arcades.
Os jogos de Lynx e Jaguar também são um pouco mais complicadinhos, pois seus controles tinham uma quantidade de botões que exigia bastante dos jogadores. Traduzir isso somente com os analógicos foi uma boa saída, mas ainda pode dar uma leve dor de cabeça, pois é bem fácil “esquecer” de usar esse recurso já que nem todos os games desses consoles fazem uso dos botões extras
Diretamente do túnel do tempo
Atari 50: The Anniversary Celebration, consegue transcender a aura de uma mera coletânea, se tornando um grande “documentário jogável”. É uma prova histórica, recomendada para todos que querem conhecer como era o mundo dos games quando “tudo era mato”.
Prós
- Linha do tempo interativa no estilo documentário;
- Mais de 100 jogos disponíveis;
- Inclusão de títulos nunca lançados e outros refeitos especialmente para a coletânea;
- Inclusão dos jogos de Lynx e Jaguar;
- Os visuais de cada cabine arcade são charmosos e nostálgicos.
Contras
- A jogabilidade de alguns jogos pode causar pequenas confusões;
- Não há um padrão de mapeamento de botões para todos os títulos;
- Alguns clássicos ficaram de fora.
Atari 50: The Anniversary Celebration — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS4
Análise de Carlos França Jr.
Fonte: GameBlast