Altos aluguéis e insegurança afastam lojistas da Cidade Alta

Em setembro, segundo dados levantados pela Jucern, 23 estabelecimentos que funcionavam no centro da cidade fecharam as portas - Foto: Adriano Abreu

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O lugar que comporta grandes construções históricas representantes do nascimento da capital potiguar, além de abrigar historicidade, abriga um pedaço da economia de Natal. A Cidade Alta, antes pulsante, hoje sofre os efeitos do tempo. Na principal avenida da cidade, é possível ter um retrato do problema: a grande quantidade de lojas fechadas. Afinal, a que se deve a evasão de lojistas e comerciantes do principal centro comercial da cidade? A TRIBUNA DO NORTE ouviu a população, associação e confederação de lojistas para entender o motivo. De acordo com eles, falta de segurança e estacionamento e preços de aluguel exorbitantes estão entre as razões.

De acordo com levantamento da Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Norte (Jucern), só em 2022, 128 empresas deixaram a Cidade Alta. A junta faz o levantamento a partir do número de CNPJs que são abertos e encerrados em um período de tempo e em uma localidade específica. O mês com maior fechamento foi setembro, com 23. Já novembro, até a conclusão dessa reportagem, já conta com duas empresas fechadas.

Para o presidente da Associação Viva o Centro, Rodrigo Vasconcelos, a saída das grandes lojas do centro da cidade se dá pelos altos preços dos aluguéis. Uma questão imobiliária e não de evasão por si só. “Existem vários pontos fechados? Existem, mas são pontos antigos e caiu muito naquela especulação imobiliária. Temos vários pontos na Rio Branco que estão fechados, mas que os aluguéis são absurdos”, comenta. De acordo com ele, os aluguéis de grandes pontos na avenida principal podem chegar a valores exorbitantes, como o da antiga C&A, no valor de R$ 90 mil.

“Nem que o empresário queira, o investidor queira locar aqueles locais, não tem condições para poder assumir aquilo. Não é a evasão de lojistas da Cidades, mas a impossibilidade de empreendedores irem à Cidade por conta dos altos custos dos aluguéis”, complementa.

Além disso, ele conta que, principalmente depois da pandemia, houve uma mudança no tipo de empreendimento oferecido pela Cidade Alta, que se tornou mais um ponto de prestação de serviços do que de comércio de variedades.

“Nós estamos caminhando muito para um centro de prestação de serviços. Você muito escritório de contabilidade, consultório de odontologia, consultórios médicos. Está deixando de ser um centro comercial de vendas para ser um centro comercial de prestação de serviços. Eu sou empresário da Cidade Alta e se você me perguntar aqui ‘Rodrigo, você quer sair da cidade? Eu digo ‘não quero’. Estou faturando bem mais o que antes da pandemia”, opina. Para crescer em faturamento, ele conta que precisou mudar de estratégia de negócios.

Por fim, o presidente da Viva o Centro diz que mesmo depois da pandemia, os investimentos não diminuíram. “Pelo contrário, houve mais investimentos”, afirma. O presidente da associação cita empreendimentos que chegaram ao centro mesmo depois da pandemia. Lojas Americanas com duas filiais na Cidade Alta, além da Mania de Couro, que é recém-chegada na região.

De acordo com ele, para que a realidade atual seja revertida, o poder público precisa investir em espaços de convivência mais agradáveis na região. Praças, melhorias estruturais, implantação de lixeiras podem representar mudanças efetivas que atraiam a população. “O poder público pode investir bem mais cm a limpeza, com a colocação de lixeiras, coma abertura de mais espaços públicos, como a gente tem o Marco Zero”, afirma o presidente da Viva Centro.

Para o presidente da Confederação Nacional de Lojistas de Natal (CDL), José Lucena, a situação é preocupante e precisa da união do poder público, lojistas e comerciantes. Ele conta que pretende convocar o prefeito de Natal, Álvaro Dias, para tomarem providências, já na próxima semana. “Nós estamos muito preocupados com a Cidade. Inclusive, semana que vem a gente vai convocar o prefeito para ver o que a gente pode fazer porque estamos sentindo que empresas grandes querem sair do centro da cidade”, comenta Lucena.

Para além da importância de mercado, centro de Natal, também tem seu valor histórico, pois foi o bairro que deu origem a capital potiguar. Para José Lucena, é hora de dar as mãos e iniciar esse resgate. Contudo, o movimento só é possível com ação do poder público, em parceria com lojistas, afirma o presidente da CDL. “Tem que ter uma grande união. Poder público, lojistas, entidades de classe. Para fazer movimento para que o centro continue ativo. Temos que achar alguma solução para que o centro reviva”, declara.

A construção de estacionamento, reforço na segurança são pontos destacados por José Lucena para atrair mais pessoas para a centro. Para ele, a situação é preocupante, mas reversível. “Preocupante, mas definitivamente, ainda existe solução para que o centro volte a ser o centro de Natal. Está na hora de darmos as mãos, tanto o CDL, quanto associação comercial, como o viva o centro para que não deixe que isso não aconteça de maneira nenhuma com o centro da cidade”, complementa.

Sebo resiste desde a década de 1970
Embora a quantidade de lojas que deixam o centro seja visível a qualquer visitante que transite, principalmente, também é possível encontrar pontos que se sobrepõem a ação do tempo e das mudanças. Um deles é o Sebo Vermelho, que compõe o Centro de Natal desde 1985. Seu dono, o sebista e editor, Abimael Silva, 59, resiste na região desde a década de 70. Antes de montar o empreendimento, trabalhou em uma loja de discos e em um banco, também na Cidade Alta. Vive na região desde os 13 anos de idade.

O sebista avalia as mudanças da Cidade Alta como falta de atenção do poder público, que falta em garantir a população, um ambiente agradável, em sua opinião. “O porquê, eu diria, primeiro, que há o desinteresse do poder público porque não incentiva nada com relação a estacionamentos. Aqui a noite, tem a questão de arrombamentos. Todas a lojas daqui já foram arrombadas. É exclusivamente o desinteresse do poder público”, completa Abimael.

Para ele, a situação é lamentável e decadência é a palavra que salta algumas vezes durante o discurso. “É lamentável, é lamentável. A Cidade, hoje, está em uma decadência, assim, de assustar. Eu estou dizendo isso porque trabalho na Cidade desde 1977, quando tinha 13 anos. Antigamente, os empresários chegavam querendo comprar um ponto desse, querendo montar uma loja, um empreendimento. Isso há 15 ou 20 anos. Nos últimos 10 anos a Cidade está numa decadência”, completa.

O empresário, Carlos Alberto, 69, lembra que, há anos atrás, o centro era movimentado pela população, atraída pelo comércio. “Antes o movimento era constante. Aqui na João Pessoa, aqui na Rio Branco. Hoje você passa aqui na Rio Branco e conta, você não bate em ninguém. A prova que está sumindo”, relembra. Seu escritório já sobrevive no centro há 30 anos, mas ele afirma que a região está como um deserto, em comparação com anos anteriores. “A cidade está apagada, acabada. A gente pensa que está em um deserto”, finaliza.

Crédito da Foto: Adriano Abreu

Fonte: TRIBUNA DO NORTE

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