A criação de hortas no contexto escolar tem se tornado uma importante estratégia pedagógica na construção de conhecimento a partir de uma abordagem interdisciplinar e experiencial. Pensando nisso, o Núcleo de Educação da Infância (NEI-CAp/UFRN) implementou uma horta pedagógica dentro da escola para que seus educandos participem ativamente desse processo de aprendizagem.
Intitulado Horta Pedagógica: uma proposta interdisciplinar de construção do conhecimento nas infâncias, o projeto de extensão é coordenado pela professora Dominique Sena e a nutricionista Juliana Morais e foi desenvolvido com a intenção de otimizar alguns espaços da escola e aproximar as crianças da natureza. A horta foi criada de forma lúdica e pedagógica para demonstrar às crianças a importância da educação alimentar e da sustentabilidade.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Royal Horticultural Society em parceria com a National Foundation for Educational Research (NFER), institutos que promovem, respectivamente, a horticultura e a educação, as crianças que fazem atividades na horta da escola melhoram o seu desempenho acadêmico, físico e mental quando comparadas aos alunos que não possuem essa experiência no ambiente escolar.
Sandro Cordeiro, professor do NEI, destaca como a horta pedagógica pode ser utilizada como um espaço de múltiplas aprendizagens. “Para se ter noção da abrangência da horta como espaço de aprendizagens, recentemente tivemos uma experiência com a língua inglesa, utilizando o espaço da horta como locus. Portanto, a horta pedagógica contribui para a formação das crianças de diferentes maneiras, a depender dos objetivos e das propostas lançadas para o grupo, numa abordagem inter e transdisciplinar”, explica o docente.
Ao longo dos anos, a horta pedagógica do NEI vem se consolidando como um local importante para o desenvolvimento de diferentes experiências. Por ser um espaço em que as crianças colocam a mão na massa, é possível aprender de maneira concreta novos conceitos, por vezes abstratos, mas que se personificam por meio do cuidado diário e da observação do crescimento das espécies cultivadas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que as crianças consumam por dia cinco porções de frutas, hortaliças e legumes. Ter uma alimentação saudável desde a infância é a melhor forma de garantir qualidade de vida e prevenir inúmeras doenças. Por isso é muito importante o papel dos pais, de responsáveis e da escola no incentivo à realização de boas refeições e adoção de bons hábitos de vida.
Juliana Morais explica como a relação das crianças com alimentos saudáveis foi transformada a partir do contato direto com a horta. “Se a escola acredita e defende uma alimentação saudável, nós precisamos fortalecer isso entre as crianças e seus familiares. Eu não apenas explico o porquê de ser importante comer comida de verdade, mas convidamos as crianças a produzir seu próprio alimento, a acompanhar todo o processo, do preparo do solo à colheita, e daí as crianças aprendem fazendo. Eles são os principais protagonistas do processo de aprendizagem e não apenas meros observadores, ressalta Juliana.
A partir das atividades já desenvolvidas, Sandro destaca a relação das crianças com os alimentos produzidos com as espécies plantadas e colhidas na horta. “É por meio dessa experiência que elas se abrem para provar e apreciar a degustação de alimentos ricos em nutrientes e vitaminas. Isso tem contribuído para a ampliação do repertório alimentar das crianças. É como se o conhecimento das espécies ajudasse a ter maior abertura para o novo. Eles desenvolvem uma relação afetiva com as espécies cultivadas”, finaliza.
Além das crianças do NEI, outras crianças são beneficiadas com esse projeto de extensão. Dominique Sena esclarece que também foi implementada uma horta pedagógica na rede pública municipal de Natal, no Centro de Educação Infantil (CMEI) Vilma Teixeira Dutra, em uma turma de crianças entre 4 e 5 anos de idade.
“Foi organizado um cronograma com formação da equipe do CMEI, contextualizando o que é o projeto da horta pedagógica escolar, momentos de intervenção com as crianças e docentes em sala de aula, organização e escolha dos canteiros, manutenção e construção coletiva do plantio. Com essas experiências, o projeto dialoga com a comunidade externa sobre a importância desse espaço no meio escolar e fortalece temáticas como a educação ambiental, alimentar e nutricional”, explica a docente.
Fonte: Agecom/UFRN