Análise: Various Daylife (Multi) leva a sério a máxima de que dormir não dá XP

Desenvolvido em uma parceria entre o Team Asano da Square Enix e a DokiDoki Groove Works, Various Daylife é um jogo que mistura elementos de RPG e simulação. A ideia dele é representar os esforços cotidianos de um colono desbravando um novo continente junto com novos amigos que ele faz na cidade de Erébia.

A fronteira do novo mundo

Various Daylife se passa no recém-descoberto continente da Antoécia. Como parte da nona expedição, o jogador assume o papel de um dos novos colonos enviados para a região. Lá, ele terá que trabalhar incessantemente no desbravamento deste novo mundo e no desenvolvimento da cidade portuária de Erébia, local em que vive junto aos outros colonos.

Conforme o jogador trabalha e explora a região, irá conhecer vários novos personagens, alguns dos quais poderão ser parceiros na jornada pelo continente. Um bom exemplo disso são Bruno e Willa, que cuidam da guilda, gerenciando as expedições que o jogador pode fazer pelo continente. A secretária Gilda, que repassa trabalhos para você, é outra figura importante e há vários outros personagens carismáticos para conhecer e ajudar com a realização das missões.

Dependendo das ações do jogador, é possível conhecer mais a fundo as histórias de cada um, cujas motivações para estarem lá são simples, mas representam um retrato social curioso desse mundo. Celebrar os seus aniversários, tirar uma hora do dia para um encontro com o personagem, participar de festivais sazonais, todos esses aspectos aparentemente mundanos são parte do que dá vida e intimidade para esse retrato de uma colônia em construção.

Cada um desses personagens também está associado a uma classe inicial que pode ser aprendida pelo protagonista e conta com opções secundárias desbloqueáveis. Assim, o jogador poderá tirar proveito dessas habilidades em batalha e começar a fazer novos trabalhos na cidade.

Vale destacar também que Various Daylife conta com legendas em português do Brasil, tornando-o uma leitura mais simples e agradável. Há inclusive uma escolha de linguagem bastante apropriada, aproveitando-se de elementos coloquiais para reforçar o tom de uma jornada de pessoas comuns.

Trabalhando duro para sobreviver

Em termos do gameplay, Various Daylife é um misto de RPG e simulação que acaba pendendo para o segundo aspecto. O principal elemento do jogo é o gerenciamento das atividades diárias do seu personagem, tendo em vista assegurar o seu constante crescimento pessoal e a capacidade de explorar mais a fundo o continente.

Cada dia do jogo é dividido em dois momentos (diurno e noturno), sendo necessário ficar de olho na quantidade de tempo que cada tarefa gasta. Os afazeres que você recebe em casa são feitos em apenas meio dia, e o mesmo tempo seria consumido por várias atividades na cidade, como passear com um amigo, comer bolo ou um momento de relaxamento nas fontes termais. Já algumas como o treinamento intensivo em magia da Willa ou as expedições pela cidade consomem mais tempo.

Porém, a maior parte do tempo do jogador será ocupada por uma variedade de trabalhos para conseguir dinheiro. Na sua própria casa, há uma lista de tarefas que estão sendo requisitadas pela população local, o que inclui trabalhos físicos, como o extermínio de monstros para proteger as plantações, e trabalhos que exigem mais esforço mental, como atividades secretariais. Dependendo do foco do jogador, atributos como força ou inteligência serão ressaltados.

Cada horário do dia acompanha também um bônus para determinados atributos, o que influencia dramaticamente na melhor escolha de trabalho. Por exemplo, em um determinado momento, o jogador pode ter um bônus que triplica o aprendizado de inteligência e multiplica a força em nove vezes. Ao escolher um trabalho mais focado em esforço físico, o jogador pode ganhar força, mas perderá inteligência e o bônus também multiplica o valor negativo, deixando a penalidade ainda mais pesada.

Escolher bem os trabalhos para garantir o maior benefício possível é a chave para melhorar continuamente o personagem. Vale destacar que cada atributo possui uma espécie de nível próprio e as perdas não podem reduzi-lo, apenas a experiência que já foi acumulada para o próximo nível. Com isso e um pouco de sorte – já que os bônus são aleatórios -, é possível tirar bastante proveito das circunstâncias.

Porém, a realização das tarefas também deixa o protagonista fatigado, reduzindo os seus níveis de vigor e muitas vezes o seu humor. Quanto menores esses índices, maior a propensão à falha, que acontece em dois níveis. O personagem pode ficar sem a recompensa em dinheiro se o “Risco de falha” for alto, mas é ainda mais preocupante o “Risco” alto, já que o personagem pode desmaiar após concluir a atividade. Uma vez forçado a ficar de cama, o jogador perderá a experiência em todos os atributos até que ele se levante.

Uma pausa para o café

Para poder recuperar o vigor e o humor, há várias atividades opcionais na cidade. Uma das melhores opções é gastar dinheiro para convidar um dos seus amigos para a taverna, o mercadinho local ou algum outro ponto relevante da cidade. Isso também serve para melhorar a amizade com esses aliados, liberando golpes especiais para o combate.

Saber a hora de parar de trabalhar e sair um pouco é fundamental para que o trabalho continue rendendo. No fim das contas, isso diz muito sobre o trabalho na vida real também e a forma como o trabalho excessivo acaba levando à exaustão das forças e não valendo tanto quanto um planejamento adequado de deveres e prazeres da vida.

Porém, a organização em torno dessa sequência de “trabalho exaustivo, descanso” com momentos de expedição uma vez que o jogador tenha força suficiente para avançar é um esforço maçante para o jogador também. O grinding e a repetição são exaustivos e é necessário que o jogador esteja preparado para esse tipo de esforço como a atração principal com momentos mundanos de interação com os outros personagens como um dos seus poucos alívios.

Além disso, há vários elementos aleatórios que acabam limitando consideravelmente a capacidade de escolha estratégica do jogador. Por exemplo, algumas tarefas só podem ser realizadas durante o dia ou a noite e a lista de trabalhos é restrita a uma certa quantidade. Para atualizá-las, é necessário esperar a próxima semana ou gastar dinheiro após desbloquear uma função específica na cidade. Graças a essas e outras escolhas, a sensação de que o jogador está à mercê do mercado leva a uma experiência um tanto frustrante.

Expedições, e lá vamos nós!

Um outro momento importante de Various Daylife são as expedições para explorar o continente. Para avançar na história, é necessário visitar a guilda e realizar essas missões. Apesar disso, a sensação geral é a de que esse sistema é apenas um extra, já que o crescimento do protagonista está associado mais ao lado simulador.

Em comparação com RPGs mais tradicionais, as batalhas não rendem experiência e são apenas um obstáculo irritante no caminho. Assim como em Nelke & The Legendary Alchemists (PC/PS4/Switch), temos aqui apenas linhas retas com inimigos que aparecem aleatoriamente ao longo do caminho. Porém, os personagens também vão perdendo HP ao longo do tempo, fazendo com que seja necessário planejar bem algumas paradas durante o trajeto ou até optar por voltar sem concluir a missão para evitar que o protagonista desmaie e sofra as mesmas penalidades de quando isso acontece na cidade.

As batalhas em Various Daylife seguem o esquema tradicional de turnos, sendo importante aproveitar ao máximo as habilidades de cada um. Em particular, o sistema é marcado por um curioso foco em efeitos especiais. A ideia aqui é dar preferência a ataques que causam envenenamento, queimadura, paralisia, adormecimento e várias outras formas de afligir o inimigo.

Uma vez com um inimigo afetado, o jogador tem a chance de trocar para outro efeito com outro ataque especial. Por fim, algumas transições específicas implicam em realizar um ataque especial muito mais poderoso, o que é especialmente útil em chefes. Esse sistema é bem curioso e chama a atenção, mas não consegue ser interessante o suficiente para elevar as expedições a algo não-tedioso e que pelo contexto geral do jogo se beneficiaria de um modo automático.

Além disso, para que a equipe seja forte o suficiente para a expedição, o jogador precisará gastar bastante dinheiro e tempo na cidade em um menu específico de treinamento de aliados. Com isso, a forma como esses personagens não podem evoluir por conta própria nem se beneficiar das batalhas nas expedições (como aconteceria em um RPG normal) se torna uma restrição medíocre disfarçada de elemento estratégico adicional para o planejamento.

Entre o cansaço e a realização

Various Daylife é um curioso misto de RPG e simulação representando os esforços de exploração de um novo continente. Apesar de ter vários problemas que podem tornar a experiência especialmente maçante, o seu trabalho de representar as vidas mundanas de personagens carismáticos que continuam incessantemente a labuta diária com um sorriso no rosto é uma experiência curiosa. Acredito que a obra pode agradar bastante os fãs de títulos de simulação que saberão extrair os seus melhores pontos e relevar a repetição e os elementos negativos do desafio.

Prós

Contras

Various Daylife — PC/PS4/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Análise de Ivanir Ignacchitti

Fonte: GameBlast

Sair da versão mobile