Pesquisa analisa impacto da pandemia no emprego doméstico

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“O  trabalho  doméstico  é  uma  das  ocupações  mais  antigas  e,  no  Brasil,  ainda  carrega  a  herança  das  relações  sociais,  culturais  e  econômicas  remanescentes  da  escravidão”. Assim começa o texto de uma pesquisa, recém-publicada por pesquisadoras da UFRN na Revista da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), sobre os impactos da pandemia da covid-19 no emprego doméstico. O estudo, realizado entre maio e junho de 2020, momento crítico para os casos de incidência e óbito por covid-19, mostra que babás e  cuidadoras  de  idosos em atividade continuaram,  em  sua  maioria,  trabalhando,  enquanto  as  diaristas  foram as mais demitidas.

Esses são os primeiros dados de uma pesquisa mais ampla, que segue em desenvolvimento, cujo objetivo é  compreender  as  contratações  durante  a  pandemia em comparação ao  período  que  antecedeu  o  distanciamento  social, decretado pelas autoridades sanitárias. A pesquisa foi realizada em campo com contratantes de trabalhadores domésticos e coletou 1.857 respostas.

A pesquisadora Luana Junqueira Dias Myrrha, professora do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DCAA/UFRN) e do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem), explica que esse grupo estudado representa o segundo mais frequente entre todas as trabalhadoras brasileiras. “É um grupo bastante expressivo, grande parte responsável por seus domicílios, que sofrere impactos importantes durante a pandemia”, complementa. Além dela, participam do estudo Silvana Nunes de Queiroz, professora da Universidade Regional do Cariri (URCA) e do PPGDem, a professora Ana Patrícia Dias Sales, do Departamento de Ciências Sociais (DCS/UFRN), e a estudante do PPGDem Priscila de Souza Silva.

Elas identificaram ainda que o perfil no trabalho doméstico, em sua maioria, é composto por um grupo que vivenciou grande vulnerabilidade social, econômica e riscos à integridade física e mental durante a pandemia. De acordo com dados do Departamento Intersindical  de  Estatística  e  Estudos  Socioeconômicos  (Dieese) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), apresentados na pesquisa, no ano de 2018, 6,2 milhões de brasileiros tinham como ocupação o trabalho doméstico. Desse total, 92,7% correspondiam a mulheres e 65% delas eram negras. Atrelado a isso, até o fim de 2019, 51% das trabalhadoras domésticas representavam o papel de principais provedoras do sustento familiar.

O estudo constatou também dois fatores importantes nesses grupos. Um deles é o risco à saúde, visto que, em 2019 e 2020, 46% das trabalhadoras domésticas no país tinham  mais de  45  anos, faixa etária em que as comorbidades começam a ser mais presentes. O outro é a importância  da  renda  dessas  mulheres  para  suas  famílias, em sua maioria (66,9%) compostas por marido e filhos.

A manutenção  do profissional no  serviço,  mas  com  alteração  do  transporte,  a necessidade de residir  na  casa  do  patrão ou de pedir demissão foram dinâmicas frequentes observadas durante o levantamento de dados. Durante a primeira onda da covid-19, momento da pesquisa, foi observado que quase metade (49%) das trabalhadoras domésticas contratadas  pelos  respondentes  da  pesquisa  teve  o  direito  de  praticar  o  distanciamento, com os recursos necessários. No entanto, as pesquisadoras desconfiam que essas respostas podem ter incidência de questões morais, uma vez que, por terem sido coletadas dos próprios contratantes, a pergunta se refere a uma relação de trabalho, envolvendo a percepção do que é certo ou errado.

De acordo com a pesquisadora Luana Myrrh, houve situações em que a trabalhadora doméstica passou a residir com os patrões, o que limitou suas vivências com seus familiares e, em alguns casos, as expôs a relações de exploração do seu tempo de trabalho e até mesmo a violências. Além disso, “a necessidade do isolamento social, principalmente em 2020, e a permanência das mulheres no ambiente doméstico, onde geralmente também se encontra o possível agressor, aumentou a exposição à violência e dificultou o pedido de ajuda. A diminuição da renda também reduziu o empoderamento das mulheres em seus lares, o que pode ter contribuído para o aumento da violência doméstica para essas trabalhadoras”, completou.

Imagem: Reprodução

Fonte: Agecom/UFRN

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