Em 2020, ano de sua estreia, a Liga Acadêmica de Fertilidade e Reprodução Assistida (Lafra/UFRN) alcançou quase 4.000 inscritos em seu primeiro simpósio online, atingindo público tanto nacional quanto de outros países da América Latina, Ásia e Europa. O foco da ação foi promover, junto aos participantes gerais e especialistas, a principal finalidade do projeto até este ano: a difusão de conhecimentos ligados a fertilidade, infertilidade e reprodução humana assistida (RHA). Segundo dados do último relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), publicado em 2019, a taxa nacional de fertilização in vitro (FIV), uma das principais técnicas de RHA, foi de 76%. No Nordeste, o índice ficou em 75%, sendo o RN o que apresentou menor incidência: 63%.
Para além dos percentuais, o aumento na procura por procedimentos de reprodução assistida reflete maiores chances de casais e indivíduos com problemas de fertilidade somarem um filho na família. A professora Danielle Barbosa Morais, doutora em Biologia Celular e Estrutural e coordenadora da Lafra, esclarece que muitas pessoas que procuram o projeto acreditam não ter possibilidades de ter um filho por apresentarem determinadas condições, por exemplo a endometriose, afecção causada quando as células do endométrio não são expelidas e seguem para os ovários ou cavidade abdominal. O intuito da iniciativa, nesse sentido, é mobilizar a equipe para orientar sobre as técnicas de RHA, possibilidades de tratamento e outros pontos capazes de auxiliar o paciente.
Em relação a essas técnicas, fora a Fertilização in vitro, realizada a partir da união do espermatozóide com o óvulo em laboratório para inserção no útero da mulher, outra alternativa é a inseminação artificial ou inseminação intrauterina (IIU). “A Inseminação Artificial é escolhida quando a mulher produz os óvulos, mas seu parceiro tem dificuldades na produção do espermatozóide, então o semêm dele pode ser coletado para ser processado em laboratório e depois inserido na mulher para que a fertilização aconteça naturalmente”, explica Danielle Morais.
A docente observa que, no caso da FIV, o trabalho envolve uma equipe multidisciplinar, com profissionais de áreas como embriologia, farmácia, biomedicina e nutrição. Essa mesma intersecção entre conhecimentos é priorizada no trabalho da Lafra. Atualmente, a liga conta com dez estudantes, dentre os quais estão tanto graduandos quanto pós-graduandos das áreas de ciências biológicas, biomedicina, enfermagem e nutrição. O trabalho dos colaboradores envolve ciclos de estudos, encontros periódicos, planejamento de ações em períodos temáticos e assistência a partir de orientações via e-mail e Instagram.
Desde 2020, mais de 100 pacientes foram assistidos pela Lafra. O perfil do público é amplo e contempla majoritariamente mulheres com idade entre 20 e 40 anos. “Há mulheres bem jovens que já têm dificuldade de engravidar porque têm, por exemplo, a síndrome de ovários policísticos ou endometriose. Então elas já são pacientes de reprodução assistida, mas não necessariamente vão precisar realizar as técnicas de fertilização ou inseminação. Às vezes, só com o controle hormonal e acompanhamento do nutricionista, a mulher consegue ter a fertilidade retomada”, observa a professora Danielle Morais.
Embora o alcance do projeto seja elevado, segundo a coordenadora, as pessoas que mais procuram a liga apresentam maior grau de escolaridade e já tiveram algum contato anterior com os temas de RHA e fertilização. O cenário, segundo Danielle, mostra ainda mais a importância do trabalho realizado pelo projeto às populações mais vulneráveis e de baixa renda. Entre as atividades, ela chama atenção para as ações que acontecem em períodos temáticos, como o mês de conscientização do câncer de mama (outubro rosa), problema que afeta a fertilidade.
História e impactos da Lafra na formação de alunos
A Lafra foi formada em 2020 a partir do desejo dos estudantes de Biomedicina, curso ligado ao Centro de Biociências (CB/UFRN), em compreender mais sobre a Reprodução Humana Assistida (RHA). Isso porque, apesar de o tema ser contemplado no componente de Embriologia, a carga horária disponível não permite o aprofundamento das pesquisas. “Os alunos gostaram muito da temática e, por ser uma das principais áreas de atuação do biomédico, tendo em vista o crescimento na procura pelas técnicas de reprodução assistida, eles me procuraram para coordenar a Liga”, explica Danielle Morais.
Com entusiasmo, a professora conta que ficou muito feliz com o convite e o interesse demonstrado pelos alunos. E assim a Lafra começou a dar seus primeiros passos e foi submetida como ação de extensão no Sigaa. Em virtude da pandemia, o 1º Simpósio foi realizado no formato online, mas não deixou de alcançar resultados positivos, dado que a estimativa era alcançar pelo menos 500 inscritos e foi superada com a participação de quase 20.000 pessoas. Além do engajamento, outros dois frutos importantes da iniciativa são sua capacidade de atrair pacientes que precisam de orientação e alunos com desejo de ingressar nas atividades.
“A gente recebe e-mails de pessoas perguntando como podem proceder para realizar a reprodução assistida, qual profissional procurar e onde encontrar esse suporte em determinadas cidades. Então estamos orientando todos que nos têm procurado e ficamos felizes em poder ajudar a sociedade. Este ano estamos voltando aos poucos às atividades presenciais e estamos no início das ações, mas não conseguimos prestar atendimento médico à sociedade, pois não somos médicos”, enfatiza a docente.
A mestranda Beatriz Albuquerque, uma das alunas fundadoras da Lafra, sempre teve interesse no tema da reprodução assistida e conta como a experiência na Liga proporcionou não só o contato com novos saberes, mas também a compreensão sobre o mercado de trabalho ligado à RHA. “Isso foi de grande valor para minha formação e, posteriormente, tive a oportunidade de realizar um estágio obrigatório no Centro de Reprodução Assistida da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC/UFRN), onde consegui aplicar e aperfeiçoar muitos conhecimentos apreendidos na Liga”, compartilha. A MEJC, vale lembrar, faz parte da Rede Hospitalar Ebserh e atende 100 % pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Hoje, aos 23 anos, a estudante cursa o Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da UFRN (PPGBqBM) e reforça, ainda, como a iniciativa proporcionou a vivência do trabalho em equipe, o aprendizado sobre gestão de pessoas e a construção de novos laços. “Participar da Lafra superou as minhas expectativas porque pensei que iria ser importante apenas para a minha formação como Biomédica, mas acabei tendo uma visão ampla sobre reprodução assistida e fertilidade em diferentes áreas do conhecimento. Além disso, a Liga contribuiu para a minha formação pessoal”, complementa.
Fonte: Agecom/UFRN