Entre as inúmeras interrogações que o pensamento humano tem alimentado ao longo do tempo, uma delas diz respeito à existência de vida fora do Sistema Solar. Nos últimos 27 anos, a descoberta de pelo menos cinco mil exoplanetas orbitando os mais diferentes tipos de estrelas tem sido o caminho usado pela Astrofísica para buscar essa resposta. Um consórcio multinacional, liderado pelo Istituto Nazionale di Astrofisica (INAF), da Itália, que conta com a participação da UFRN, é mais um esforço que caminha nesse sentido. O projeto está desenvolvendo um instrumento que permitirá aos astrônomos estudar, entre outras coisas, as atmosferas desses planetas extrassolares em busca de sinais de vida.
Denominado ANDES (acrônimo do inglês para ArmazoNes high Dispersion Echelle Spectrograph), o instrumento será instalado no telescópio de 39 metros do Observatório Europeu Austral, atualmente em construção no Cerro Armazones, localizado no norte do Deserto do Atacama, no Chile. O ANDES será um espectrógrafo de alta resolução, operando simultaneamente no visível e no infravermelho, projetado para realizar estudos extremamente detalhados e precisos de objetos cósmicos individuais.
Além da busca por sinais de vida extraterrestre, esse espectrógrafo também permitirá aos astrônomos investigar a evolução das galáxias, identificar a assinatura das primeiras gerações de estrelas no Universo primordial e determinar se algumas das constantes fundamentais da Física, que regulam a maioria dos processos físicos no Universo, variam de fato com o tempo.
O consórcio para construção do ANDES é constituído por universidades e laboratórios de 14 países, incluindo o Brasil, que participa do projeto sob a liderança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), contando também com a participação do Observatório Nacional (RJ) e do Instituto Mauá de Tecnologia (SP). A participação da UFRN no consórcio ANDES é responsabilidade do Núcleo de Astronomia Observacional e Instrumental do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE), do Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET/UFRN), e do Laboratório de Automação, Controle e Instrumentação (LACI) do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE), do Centro de Tecnologia (CT/UFRN).
A equipe da UFRN que participa do projeto é composta pelos professores Izan de Castro Leão (DFTE/CCET) e Allan de Medeiros Martins (DEE/CT), membros do comitê de gestão, Bruno Leonardo Canto Martins (DFTE/CCET), membro do comitê executivo, e José Renan de Medeiros (DFTE/CCET), membro do comitê diretor do projeto. A assinatura do acordo entre as instituições participantes do consórcio foi realizada pelo reitor José Daniel Diniz Melo no dia 15 de julho. “A participação de pesquisadores da UFRN em um projeto de desenvolvimento científico e tecnológico dessa magnitude, em parceria com instituições do mais elevado prestígio internacional, demonstra o reconhecimento alcançado pela nossa universidade como instituição promotora de avanços das fronteiras do saber”, destacou o reitor da UFRN.
O projeto
O ANDES foi iniciado em 2018 com a fase de definição dos objetivos científicos e das especificações técnicas do instrumento. Atualmente, o projeto está na fase de elaboração de documentação e definição da equipe científica, que será constituída por 120 pesquisadores de 15 países, incluindo professores da UFRN e do Observatório Nacional. Essa fase se estenderá até 2024. Posteriormente, até 2030, acontecerá a fase da construção, propriamente dita, do instrumento, que vai se estender até 2029. “Em 2030 acontecerá a instalação, os testes e o início das operações do espectrômetro”, informou o professor Renan Medeiros.
De acordo com ele, a equipe da UFRN estará presente em todas as fases do desenvolvimento e construção do instrumento, participando da definição dos objetivos científicos, elaboração de documentação, construção de softwares e dos sistemas ópticos, instalação, realização dos testes e na operação inicial do instrumento. “O acordo UFRN – Consórcio ANDES durará até o início do funcionamento do instrumento, com a participação da Equipe da UFRN na exploração científica do tempo garantido de telescópio, que deve se estender até o ano de 2035”, complementa Renan.
A UFRN no topo
O pró-reitor de Pós-graduação da UFRN, Rubens Maribondo, reporta este como o mais importante projeto científico internacional da UFRN. “Projeto que envolve inserção científica e tecnológica, com a participação integrada de pesquisadores da Física e da Engenharia, posicionando a UFRN em um patamar de referência científica internacional na área”, esclarece.
Para ele, os ganhos são enormes, começando pela formação de recursos humanos por meio das teses desenvolvidas no âmbito do projeto e, em médio prazo, pelo fato de os alunos, no futuro, terem à disposição horas no telescópio. “É uma ferramenta muito poderosa de observação, que qualificará e colocará a UFRN na linha de frente na descoberta de novos planetas”, observa o Pró-reitor.
Fonte: ASCOM/UFRN