Apresentando-se como uma verdadeira ode aos platformers tridimensionais da velha guarda, Frogun narra a história de Renata, uma jovem que está à procura de seus pais, renomados arqueólogos que saíram em uma misteriosa incursão. Para isso, ela conta com a ajuda de um gancho em forma de sapo que a concede habilidades úteis para a exploração de ruínas antigas, segmentadas em divertidos estágios lineares. Assim, o título oferece uma experiência clássica que agrada no Switch, exceto por algumas escolhas excêntricas em termos de controles e progressão.
Uma história de arqueólogos
Renata é filha de Lily e Tod Hopps, arqueólogos de grande prestígio em seu campo de pesquisa. Em certa ocasião, a protagonista decidiu acompanhá-los até a região de Beelzebub, conhecida por suas ruínas históricas. Lá, os pais partiram em uma pequena expedição diária e, por conta dos perigos locais, aconselharam a filha a ficar na base de seu acampamento, onde seria mais seguro.
Após três dias sem nenhum sinal de seus genitores, Renata assumiu a dianteira e resolveu procurá-los. Para cumprir essa tarefa, ela vasculhou os equipamentos arqueológicos deixados no acampamento até encontrar um gancho que, na verdade, é um objeto vivo, conhecido como Frogun. Assim chamado por apresentar o formato de um sapo, este elemento será útil para a jornada ao passo que é capaz de dar conselhos e indicações para o progresso, além de conceder habilidades de exploração únicas, como alcançar plataformas, golpear inimigos e coletar itens.
É a partir dessas premissas que o título oferece uma campanha formada por mundos temáticos de estágios lineares, nos quais Renata investiga as ruínas em busca de seus pais. Ainda em relação à história, cabe dizer que o jogo não exibe cenas cinematográficas vistosas ou um desenvolvimento narrativo abrangente, pois o enredo costuma ficar em segundo plano durante boa parte do tempo. Tanto que, se quisermos descobrir mais detalhes sobre os acontecimentos e os ambientes explorados, temos de encontrar notas deixadas pelos pais nas ruínas, que revelam mais detalhes sobre os personagens.
Essa ausência de história, no entanto, não chega a figurar como uma falha da aventura, mas faz com que Frogun seja bastante simples em termos de progressão. Por sinal, temos aqui outra característica singela que também faz lembrar dos platformers do passado, em que o grande destaque ficava para a jogabilidade em si. Como se nota, é justamente isso o que ocorre com a aventura de Renata.
Um gancho para se divertir
Em sua estrutura, Frogun se apresenta como um jogo de plataforma tridimensional que se inspira nos lançamentos da era do Nintendo 64 e PlayStation One, com mascotes como Mario, Crash, Spyro e companhia. Diante de estágios lineares divididos por mundos, os jogadores devem encarar cenários repletos de perigos, como inimigos, penhascos e plataformas, até chegar ao final de cada estágio, que é indicado por um medalhão no formato de inseto. Temos, assim, uma progressão bastante clássica e recorrente no gênero em questão.
Há, todavia, um diferencial que virá a se destacar nas possibilidades de exploração do título: o uso do gancho Frogun, caracterizado por sua forma de sapo, que projeta uma língua que gruda em paredes, objetos e seres vivos. Com esse elemento, capaz de ser guiado de maneira manual ou automática, Renata consegue se aproximar de plataformas distantes e arremessar itens para derrotar inimigos. De imediato, essa característica faz com que a jogabilidade se concentre justamente no aproveitamento do objeto, curiosamente deixando de lado, em muitos momentos, o uso dos saltos, que tradicionalmente figuram entre os comandos mais utilizados em platformers.
Embora divertido, o uso do apetrecho traz alguns problemas para a superfície, os quais ocorrem especificamente por estarmos falando de um jogo tridimensional. Com muitas direções possíveis na hora de se usar a habilidade, é muito fácil da língua do sapo atingir alvos indesejáveis, fazendo com que tanto os controles manuais quanto os automáticos possam causar dores de cabeça com sua imprecisão. Prepare-se, portanto, para eventualmente encarar mortes frustrantes, nas quais o uso do sapo acaba ocasionando um autoextermínio.
Por outro lado, a presença do gancho também merece ser exaltada por conta de sua criatividade, mostrando-se capaz de inovar um gênero que geralmente é conhecido apenas por seus desafios de saltos. Assim, a presença do amigável sapo traz ares de novidade e revigora um jogo que é bastante conservador em suas premissas, especialmente em termos de progressão e também de estética, caracterizada por uma pixel art fofa, cenários vibrantes e uma trilha sonora de agradáveis traços chiptune.
Frogun ainda dispõe de um elevado número de coletáveis, como esmeraldas, moedas, notas de arqueologia e outros complementos que ampliam as possibilidades de exploração dentro dos singelos estágios. Diante dessas características, temos uma experiência capaz de agradar a novatos e veteranos, uma vez que a campanha é divertida de se explorar de maneira descompromissada, mas que ainda assim reserva tarefas extras exigentes, como a própria caça aos coletáveis.
Engolindo sapos em Beelzebub
Para além da instabilidade no uso do gancho, Frogun traz outros problemas que podem tornar a experiência menos agradável, sendo um deles a péssima distribuição de checkpoints nos estágios. Surgem, assim, fases com segmentos excessivamente longos e complexos devido à baixa presença do recurso. Por conseguinte, algumas simples tarefas, como batalhas contra chefões e caça ao coletáveis, se tornam muitas vezes mais severas do que deveriam.
Ainda sobre esse assunto, há uma tarefa em particular que se mostra chata e até mesmo injusta: as fases em que apostamos corrida com um explorador rival, que são similares às competições entre Mario e Koopa Troopa em Super Mario 64 (N64). Aqui, um dos grandes problemas está na conjuntura de que, ao encostarmos no oponente, prontamente perdemos pontos de HP, o que dificulta consideravelmente o progresso. Ainda por cima, também é comum encontrarmos pequenos glitches dentro dos desafios de corridas, como os que fazem o adversário ficar trancado em estruturas a ponto de interromper a nossa passagem.
Enquanto isso, preciso dizer que nos primeiros minutos de jogatina senti uma certa estranheza com as propriedades físicas do jogo. Com movimentos pesados e mais lentos que os padrões no gênero dos platformers, Frogun opera de maneira incomum e traz uma proposta de movimentação bastante singular. Assim, leva certo tempo para se habituar aos padrões de saltos e esquivas, mas nada que irá comprometer integralmente os animados momentos de exploração nas ruínas arqueológicas.
A arte da arqueologia através de plataformas
Em sua campanha, Frogun oferece uma experiência que irá agradar principalmente aos fãs dos saudosos platformers tridimensionais da era 64-bit. Embora alguns desafios possam ser frustrantes em função de escolhas inadequadas de gameplay, ainda há diversos pontos agradáveis que resultam em trechos de exploração divertidos e repletos de conteúdo. Com isso, cria-se uma aventura que consegue ser, ao mesmo tempo, clássica e singular, algo que ocorre por conta da presença do nosso adorado companheiro anfíbio.
Prós
Aventura de plataforma tridimensional com desafios clássicos e interessantes;
Grande número de coletáveis e conquistas secundárias;
O uso do gancho traz ares singulares ao jogo;
Estética retrô, capaz de criar cenários vibrantes;
A história sobre arqueólogos conta com uma temática carismática.
Contras
Problemas de jogabilidade na hora de se utilizar o sapo, como a falta de precisão na mira automática;
A física do jogo é mais pesada e lenta do que os padrões do gênero dos platformers;
Checkpoints distribuídos de maneira desbalanceada;
Certos desafios se mostram irritantes, em especial as disputas de corrida.
Lúcio Amaral é jornalista e advogado pós-graduado em Direito e Processo Trabalhista. Certificado de Estudos Aprofundados em Psicanálise. Ganhador do II Prêmio de Rádio e Jornalismo em Saúde e Segurança do Trabalho, promovido pelo MPT em 2008.