Em seu segundo ano após ser adquirida pela Electronic Arts, a Codemasters apresenta o jogo oficial da principal categoria do automobilismo esportivo mundial de uma forma bastante refinada, direto ao ponto e com poucas mudanças técnicas em relação a suas duas últimas edições. Na análise de hoje, vamos conferir como F1 22 é um produto de alta qualidade, competência e fidelidade para os fãs da velocidade, sejam eles os que gostam apenas de assistir aos Grandes Prêmios no domingo de manhã ou os que respiram Fórmula 1 diariamente.
Para pilotos amadores e profissionais
Em
2020, tive o privilégio de produzir meu primeiro texto de análise de um simulador de pilotagem. Apesar de ser um amante da Fórmula 1, uma das coisas que não me atraíam para sua contraparte digital era justamente o fato de não ter uma jogabilidade mais casual. Um dos pontos que me agradou e me ajudou a manter uma fidelidade com os games recentes da categoria é a possibilidade de ajustar o nível de simulação para que eu possa me divertir ao sentar atrás do volante de uma dessas poderosas máquinas.
Em F1 22 a Codemasters manteve essa pegada, permitindo que qualquer pessoa possa ajustar o nível de simulação e fidelidade com a física da pilotagem para que possa se divertir casualmente ou competir de forma profissional nos torneios online ou presenciais do game. Essa forma de acessibilidade é um fator que contribui fortemente para atrair mais pessoas ao jogo e permitir que mesmo alguém que nunca teve contato com um simulador de corrida possa, pelo menos, se divertir enquanto joga.
O simulador permite que o jogador ajuste a nível de detalhes todos os aspectos físicos e mecânicos da pilotagem, desde a troca automática de marchas, a ativação do impulso de ultrapassagem e a ativação do sistema de redução de arrasto (DRS) dos carros até a assistência da tração dos pneus, ajuste da potência dos freios, auxílio na largada ou entrada e saída dos boxes ao realizar um pit stop durante a corrida.
A fidelidade se estende também ao tempo de duração de um fim de semana de Grande Prêmio, permitindo que uma etapa possa ser reproduzida fielmente com todas as três etapas de treino livre, etapa de qualificação e tempo da corrida com a mesma quantidade de voltas e duração de um GP real, e podem ser ajustados proporcionalmente em 50%, 25% ou até reduzir a prova principal para apenas 5 voltas de duração. Dessa forma, é possível correr todas as 22 etapas da temporada em uma tarde se você quiser, ou menos etapas se preferir.
A novidade maior nesse ponto fica por conta dos inovadores designs dos carros da temporada 2022 e o inédito circuito de Miami, nos Estados Unidos. Em 2022, a Fórmula 1 contaria com um novo recorde de 23 Grandes Prêmios, mas por conta da guerra na Ucrânia, o Grande Prêmio de Sochi, na Rússia, foi retirado do cronograma. O GP da China também ficou de fora por causa das restrições causadas pela pandemia, sendo substituído pelo GP de Emilia Romagna, no circuito de Ímola, na Itália, e também está ausente da versão digital deste ano.
As corridas de Sprint também somam às novidades deste ano no jogo. A modalidade foi introduzida no regulamento do ano passado e é uma corrida extra durante o fim de semana de Grande Prêmio que substitui a etapa qualificatória, que ocorre no dia anterior ao da corrida principal. Uma prova curta com um terço da duração do Grande Prêmio é realizada, e o resultado da prova define o grid de largada do domingo. Em 2022, a etapa acontece nos GPs de Emilia Romagna, Áustria e Brasil.
A fidelidade não fica restrita apenas à física e às regras, se estendendo também à apresentação. F1 22 traz, assim como suas edições anteriores, uma reprodução bem fiel a uma transmissão pela televisão. Devidamente localizado para nosso idioma, isso torna ainda mais imersiva nossa interação com o game. A apresentação da pista, do grid de largada, imagens das equipes fazendo os últimos ajustes nos carros nos boxes e na pista, narração, comentários, replays e vídeos dos melhores momentos da corrida: tudo caprichosamente reproduzido para nos transportar para um domingo de GP.
O glamour da Fórmula 1
Deixando de lado o drama do modo história apresentado na edição de 2021, F1 22 traz como novidade um aspecto mais social e glamoroso deste universo da elite do automobilismo. O F1 Life é um modo social em que o jogador cria um avatar para visitar as casas de outros jogadores e, claro, permite que visitantes visitem seu cafofo de luxo para ver sua coleção de troféus, carros e requinte de seu lar.
Adicionando a esta novidade, estão os super carros, obtidos por meio de fichas que são coletadas ao cumprir desafios diários e semanais, como pilotar por uma certa distância, vencer corridas, realizar ultrapassagens ou outras atividades, como provas de habilidade com estes carros, a outra novidade da edição deste ano. Os carros obtidos são usados para decorar os diferentes ambientes de sua casa no F1 Life.
O F1 Life tem caráter estritamente social e não afeta, por exemplo, aspectos para quem vai querer jogar de forma competitiva no ambiente online. Fazendo uma comparação bem grosseira, é como o Metaverso do Facebook, ou seja, no fim das contas é bem inútil e deve agregar apenas para quem realmente gosta desse universo e, talvez, estimular a interação social entre os membros da comunidade do game. O que eu duvido que aconteça, sinceramente.
Entre a mesa de trabalho e o volante
Felizmente, um dos principais modos do game continua sendo o maior chamariz para quem pretende investir tempo em F1 22: a carreira. Podendo ser jogado por até dois jogadores localmente, o modo permite que o jogador crie uma equipe nova para se juntar às outras dez já existentes na temporada para competir pelo título mundial de pilotos e construtores. A dinâmica é a mesma de 2020 e 2021, com o jogador contratando uma empresa para fornecer os motores, um patrocinador principal para gerar receita para os primeiros investimentos, um segundo piloto e criando a identidade visual da equipe.
Feito isso, o jogador viverá intensas 10 temporadas entre acirrados pegas nas pistas ao redor do mundo enquanto administra o orçamento da equipe, gerencia os recursos, realiza contatos comerciais, resolve problemas de última hora com funcionários e faz a fama de sua equipe para criar sua história na Fórmula 1.
Antes de cada temporada, o jogador pode ajustar detalhes da simulação, como o tempo de duração das etapas, o nível de dificuldade do jogo, a frequência e a gravidade dos problemas que podem surgir durante o ano e, se quiser, selecionar quantas e quais etapas deseja competir naquela temporada. Feito isso, essas alterações só podem ser reajustadas no fim do ano, depois que o campeonato terminar.
Com o início de uma nova temporada, alterações no regulamento trazem novas oportunidades ou dores de cabeça para o chefe de equipe, ou seja, você. Por isso, é bom ficar atento ao emprego de seus recursos e gerenciamento de seu orçamento, pois a famosa “caixinha de surpresas” não se limita ao futebol. As regras do novo ano podem restringir o desenvolvimento de algum tipo de componente do carro, exigir que o consumo de pneus da equipe seja mais moderado, ou até limitar o orçamento das equipes durante a temporada. É sempre bom estar preparado para tudo.
Entrada do Safety Car Virtual
A verdade é que F1 22 continua sendo uma pedida certa para quem quer continuar acelerando no mundo da Fórmula 1. Tudo de bom que o título ofereceu nos últimos dois anos continua disponível para quem busca uma experiência prazerosa e fiel na elite do automobilismo, seja incorporando seu piloto favorito ou simplesmente pela adrenalina de guiar os bólidos mais poderosos do planeta.
Há ainda diferentes experiências que você pode ter dependendo de onde vai jogar. No PC, uma das plataformas onde o jogo vem ganhando mais força, a principal novidade fica por conta do suporte ao VR. No PlayStation 5, a experiência fica diferenciada graças ao controle DualSense. A vibração do controle, principalmente ao passar com o carro nas zebras das curvas, está bem mais fiel. Isso sem falar do peso dos freios graças aos motores dos gatilhos.
Tanto ele quanto o Xbox Series X também são favorecidos com a qualidade gráfica superior, principalmente em dias de chuva, que sempre foi um problema nos consoles da geração passada. O modo performance dos consoles consegue segurar bem o tranco para não tirar nossa atenção do volante com quedas de quadros em trechos com muitos detalhes. O som, principalmente jogando com um headset, também faz bonito com uma engenharia que transmite muito bem a sensação de pilotar a mais de 300 km/h.
Entretanto, ainda é uma experiência pouco convidativa durante esse período de lançamento por causa do preço. Colocando na ponta do lápis, a edição de 2021 ainda é uma boa pedida justamente por ter um modo história que agrega valor ao pacote. O jogo do ano passado, inclusive, está incluso no catálogo do EA Play. Então se você principalmente está conhecendo esse tipo de jogo agora, quer experimentar um bom jogo de Fórmula 1 sem gastar muito, recomendo assinar o serviço e jogar a edição do ano passado. Aí é só esperar uma promoção da edição 2022 para pegar uma versão mais atualizada.
Até mesmo o layout dos menus e estrutura do modo carreira é muito semelhante, passando uma sensação de repetição com os jogos anteriores. É um problema recorrente em jogos de esporte, então não dá pra escapar. É o tipo de jogo para quem realmente é fã e não vai se incomodar com esses detalhes, não que ele seja ruim. Pessoalmente eu adoro tirar umas horinhas para dar umas voltas Spa-Francorchamps ou em Suzuka. Poucos jogos trazem representações tão fiéis destas localidades, e para quem está sempre acompanhando as corridas, acho legal me colocar no lugar do piloto e tentar acertar onde ele errou.
O que eu realmente achei desnecessário, — pra não dizer, sem sentido — até mais que o F1 Life, foram as sessões com os super carros. Tanto em um modo dedicado quanto no modo carreira há desafios para cumprir usando esses veículos e essa é uma atividade que não agrega em nada no pacote. Esses desafios são como algumas das provas para tirar as licenças em Gran Turismo. São tomadas de tempo, desafios de drift, circuitos com obstáculos e outros, com o único objetivo de liberar carros para expor no F1 Life, caso alguém venha visitar para olhar.
Para mim, essa adição define bem o bom e velho termo “encher linguiça” do nosso rico vocabulário. Na edição de 2020, pelo menos, esses desafios eram feitos com carros que fizeram história na Fórmula 1, como a Ferrari de Michael Schumacher ou a famosa McLaren de Ayrton Senna, quando foi campeão do mundo em 1988. Esses desafios, pelo menos, tiveram um contexto para estarem presentes no jogo, ao contrário do dispensável desafio de super carros deste ano. Deixem esse tipo de coisa no Gran Turismo pois faz mais sentido lá.
As microtransações, algo que eu continuo repudiando quando disponíveis em jogos pagos, também estão presentes. De novo! O passe do pódio, que funciona de forma idêntica a um passe de batalha de jogos como Apex Legends — também da própria EA, só que gratuito — ou Fortnite, liberam macacões, capacetes, estilos de pintura, poses de pódio e outros elementos de caráter cosmético. Ao comprar o passe VIP, recompensas exclusivas são liberadas ao subir de nível.
Como o caráter é puramente estético, não afetam a experiência de quem pretende jogar de forma competitiva, mas ainda vejo como uma prática bem safada da EA de fazer mais uns trocados, como no FUT do FIFA. Enfim, está lá pra quem gosta, e pode pagar.
No alto do pódio, mas sem o Tema da Vitória
F1 22 continua sendo uma referência no gênero de simulação de corridas com uma experiência fidedigna do clima, pilotagem e adrenalina da elite do automobilismo esportivo. Apesar de trazer mais atualizações do que inovações, ainda é uma ótima recomendação para quem é fã de corridas de carros, especialmente da Fórmula 1. Não deixa a desejar em relação às edições do anos anteriores, mas corre o risco de ser ultrapassado em 2023 caso não traga algo que deixe o jogador mais engajado em investir tempo e dinheiro pilotando no game da EA.
Prós
- Jogabilidade customizável e acessível continua sendo uma marca registrada da franquia;
- Alta gama de ajustes da simulação para agradar diferentes perfis de jogadores;
- Melhorias significativas nos gráficos e som;
- Modo carreira ainda é o ponto alto da experiência;
- Diversos modos de jogo solo, multiplayer local e online;
- Suporte ao VR no PC.
Contras
- Sem o modo história, que funcionava como uma interessante ferramenta para introduzir novos jogadores;
- Interfaces de usuário muito semelhantes aos games anteriores passam uma sensação de jogo reciclado;
- O F1 Life é raso, desinteressante e pouco engajador;
- Desafios com os super carros não possuem contexto com a proposta do game e são dispensáveis.
F1 22 — PC/PS5/PS4/XSX/XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Alexandre Galvão
Fonte: GameBlast