Em janeiro deste ano, tive a honra de analisar a aguardada versão de PC de Monster Hunter Rise aqui para o GameBlast. Após uma estreia para lá de bem sucedida no Nintendo Switch, o mais recente título da série Monster Hunter foi adaptado magistralmente para os computadores e recordo-me de ter escrito à época que ali estava um dos melhores RPGs de ação dos últimos anos — uma opinião que mantenho firmemente, agora com ainda mais horas de jogo.
Naturalmente, portanto, me cerquei de expectativa quanto à chegada de Monster Hunter Rise: Sunbreak, a expansão paga anunciada ainda no ano passado para Monster Hunter Rise. Chamada de “massiva” pela própria Capcom, Sunbreak prometeu novos monstros, a introdução do Ranque Mestre e até mesmo novas adições à já ótima gameplay do título base. Mas com tanto conteúdo de qualidade já disponível no jogo original, será que este DLC justifica sua existência? Confira a seguir em nossa análise.
Só para os veteranos
A primeira coisa que deve ser esclarecida, logo aqui no início, é que Monster Hunter Rise: Sunbreak não é uma expansão desenvolvida para iniciantes no jogo. De fato, você só conseguirá acessar o conteúdo aqui citado após ter alcançado o Rank 8 de caçador na área de encontro da Vila Kamura.
Na prática, obter o Rank 8 é algo que deve levar em torno de 50 horas de gameplay, a depender da sua habilidade e do quanto você se envolverá com side quests e caçadas não obrigatórias (seja para divertimento, confecção de armaduras ou qualquer outro motivo).
Portanto, se em alguns outros jogos os DLCs podem ser acessados livremente em qualquer etapa da história que o jogador se encontre, não é o caso aqui: Sunbreak deve ser percebido como uma adição substancial ao post game de Rise. E se inicialmente essa escolha criativa por parte dos desenvolvedores pode levantar alguns questionamentos (e sobrancelhas), logo ela se justifica mediante a estreia de alguns dos monstros e confrontos mais difíceis de toda a série.
Aliás, eu diria que uma das piores coisas que um jogador de Rise poderia fazer seria “correr” para o Rank 8 para acessar o conteúdo de Sunbreak, uma vez que o tenha adquirido. Posto que em Monster Hunter não existem níveis ou um sistema de experiência como em outros RPGs japoneses, a sua progressão dentro do jogo está direta e brilhantemente ligada à ascensão de suas habilidades como caçador e jogador.
Aprender a confeccionar e usar itens, a usar do ambiente ao seu redor, a lidar com monstros mais agressivos e encontrar janelas de ataque e oportunidades de combo… “queimar etapas” não irá lhe forjar para o que está disponível aqui, portanto prepare-se devidamente!
Meu novo mundo
Sunbreak se passa na província de Elgado, distante da pequena vila Kamura onde ocorrem os acontecimentos de Monster Hunter Rise. Assim que você cumprir os requerimentos para poder acessar o novo conteúdo, a mercadora Rondine lhe avisará que recebeu uma carta do local com notícias perturbadoras: monstros locais começaram a invadir territórios vizinhos, pondo em risco todo o equilíbrio natural que existe.
De fato, um desses monstros foi avistado já em territórios de Kamura e é assim que você terá o seu primeiro contato com uma das criaturas da expansão: o siri gigante Hermitaur Daimyo, que figurou em grande parte do material promocional de lançamento.
Derrotar Daimyo desencadeia toda uma narrativa que te levará ao porto de Elgado, onde a sua presença será de grande ajuda para estudar e compreender o que tem levado as criaturas da região a agir de forma tão violenta e misteriosa. Assim como nos casos de Magnamalo, Ibushi e Narwa no jogo base, há a suspeita de que um monstro misterioso — Malzeno — esteja ligado ao desequilíbrio do ecossistema.
Se em minha análise de Monster Hunter Rise eu havia citado que infelizmente a história ainda não era um ponto forte para a franquia, essa queixa ainda existe aqui. Porém, é interessante notar que existem esforços nesse sentido por parte dos desenvolvedores. Como a maioria dos residentes de Kamura, os personagens de Elgado são carismáticos, tornando os poucos momentos de interação entre as caçadas algo prazeroso e agradável.
Ainda falta muito para que a série da Capcom tenha, de fato, uma narrativa consistente, mas, sem entrar no mérito de spoilers, é legal ver como os habitantes da nova localidade parecem reconhecer, cada um a seu modo, os seus feitos no jogo base. Eu estaria mentindo se dissesse que tudo isso não ajuda na imersão e a entrar no clima de que você é realmente um estrangeiro que é convocado como um raio de esperança em meio a uma crise preocupante. Ponto positivo, afinal.
Ranque dos mestres
Ao adentrar Elgado, você automaticamente desbloqueará o Ranque Mestre, que abarca missões mais difíceis e complexas que o usual Ranque Elevado da Área de Encontro. Conforme for cumprindo os objetivos das missões-chave, você irá progredir a história de Sunbreak e o seu Ranque pessoal também aumentará, lhe permitindo participar de missões mais difíceis tanto online quanto offline.
Se esse sistema já é bem conhecido pelos fãs da saga, preciso registrar aqui aquela que é a minha única crítica contundente de fato a Sunbreak: apesar da relativa grande quantidade de novos monstros, você se verá caçando monstros como Kulu-Ya-Ku, Arzuros e Ludroth Real para subir de nível no Ranque Mestre — até o pobre Grande Izuchi tem uma missão dedicada a ele.
Tudo bem que esses monstros (e seus respectivos sets) estarão mais fortes que nunca e até com novos movimentos em seus arsenais, mas obrigatoriamente caçar as mesmas criaturas do jogo base não é exatamente o que eu tinha em mente quando imaginei o início de Sunbreak. Sendo honesto, temos aqui uma decisão questionável de progressão que termina por minar a sensação de novidade da expansão, ao menos até os novos monstros começarem a aparecer com mais frequência.
E por falar nas estrelas do show, são mais de 15 novas adições entre criaturas totalmente novas, como Lunagaron e Garangolm, e versões repaginadas de monstros populares, como Bishaten e Somnacanth. Seguindo o exemplo das variações Alfa do jogo base, prepare-se para confrontos que mudam radicalmente toda a experiência vivida e acumulada até então.
Para além do loop viciante de gameplay da série, que envolve se preparar, caçar e confeccionar antes de recomeçar a mesma sequência com um alvo mais difícil, o que chama a atenção novamente são como essas criaturas virtuais parecem, de fato, seres vivos. Peguemos por exemplo o já citado Hermitaur Daimyo, junto com seu companheiro, Shogun Ceanataur: seus movimentos erráticos que desencadeiam sequências mortais e praticamente imprevisíveis estão intrinsecamente ligados às suas origens crustáceas.
É uma experiência totalmente diferente de combater um Rathian ou um Rakna-Kadaki, e são adições como essas que fazem de Sunbreak um conteúdo especial para caçadores que já triunfaram sobre o jogo base e buscam novos desafios. Conhecer cada um desses monstros, seus comportamentos, fraquezas e até áreas preferidas dentro de um habitat é algo realmente entusiasmante e que tomará horas e horas da sua vida caso você aprecie o tema. No fim, todas essas criaturas, predadoras ou não, querem sobreviver tanto quanto você, e é secretamente isso que torna cada embate tão memorável.
Mas não que sejam “só” os monstros como novidade aqui: há a inclusão de dois novos biomas (Selva e Forte); caçadas “colaborativas”, nas quais você terá a ajuda de alguns dos NPCs da história; novas habilidades de troca; opção de registrar e alternar entre conjuntos de habilidades; e até novos tipos de vida nativa, como cabinsetos especiais e uma certa aranha bem legal de se usar.
Sendo sincero, a quantidade de adições aqui disponível realmente impressiona para uma expansão, e, como se ainda não fosse o bastante, há a promessa de mais conteúdo sendo disponibilizado de forma gratuita em atualizações futuras. A primeira dessas atualizações, planejada já para agosto, adicionará à expansão os novos Bazelgeuse Vulcânico e Nargacuga Luzente, dentre outras criaturas. Também estão planejados mais um bioma e novos monstros até meados de 2023.
Colírio animal
No que tange à performance do jogo no PC, Sunbreak não muda muito em relação a Rise, o que é algo muito positivo tendo em vista a bela otimização do jogo original. Como este é um jogo com origem no Switch, a maioria das configurações modernas de hardware será capaz de rodá-lo sem problemas. Caso você tenha uma máquina um pouco mais robusta, vale a pena tentar inclusive o 4K nativo — o resultado é um verdadeiro espetáculo visual, que, guardadas as proporções, não deve em nada a Monster Hunter World (Multi).
Também cabe mencionar a chegada da ferramenta de upscaling DLSS, mais opções de vibração para os controles e configurações ultrawide adicionais. É bem legal ver uma adaptação sendo tratada com carinho, recebendo novos recursos mesmo certo tempo após o seu lançamento.
A única nota negativa nesse quesito fica a respeito da ausência de cross-play e cross-progression. Com o grande sucesso de Rise nas duas plataformas em que se encontra disponível, seria muito interessante ver as comunidades unidas em uma só, especialmente agora que há paridade de conteúdo e atualizações. Fica então registrada (novamente) a sugestão.
Missão concluída!
É sempre uma tarefa árdua quando o objetivo é acrescentar novidades a algo que já é bom e completo originalmente. Não obstante, Monster Hunter Rise: Sunbreak é bem-sucedido em sua missão e justifica a sua existência enquanto expansão paga por meio de monstros divertidos, caçadas difíceis, novos biomas e muito conteúdo a ser explorado sozinho ou no modo multijogador.
Quando se trata de um conteúdo adicional pago, a questão mestra é sempre a mesma: “vale a pena?” — e aqui não é diferente. Porém, suspeito que o fato de Sunbreak ser uma adição ao post game implica que cada jogador poderá responder para si mesmo essa questão com base no que vivenciou no título original.
Aqueles que, assim como eu, mergulharam fundo em, repito, um dos melhores RPGs de ação dos últimos anos, encontrarão aqui horas e mais horas de diversão genuína, um monstro vencido após o outro. Problemas de progressão iniciais à parte, Sunbreak complementa o que já era ótimo, estendendo a vida útil de um daqueles jogos raros, que em sua complexidade e abundância de recursos são capazes de prender o público por anos. Recomendado.
Prós
Adição do Ranque Mestre traz caçadas desafiadoras até mesmo para veteranos da franquia;
Monstros novos provêm variedade ao elenco original;
Novas habilidades de troca criam inúmeras possibilidades de combos e investidas;
Companhia ocasional de NPCs mostra possibilidades interessantes para o futuro da série;
Mantém a mesma pegada viciante do título base;
Horas de conteúdo a ser explorado tanto sozinho quanto no multijogador.
Contras
Missões obrigatórias com monstros comuns minam, inicialmente, a sensação de novidade da expansão;
História ainda pode ser melhor trabalhada;
Ausência de cross-play e cross-progression com a versão de Switch.
Monster Hunter Rise: Sunbreak — PC/Switch — Nota: 9.0 Versão utilizada para análise: PC
Lúcio Amaral é jornalista e advogado pós-graduado em Direito e Processo Trabalhista. Certificado de Estudos Aprofundados em Psicanálise. Ganhador do II Prêmio de Rádio e Jornalismo em Saúde e Segurança do Trabalho, promovido pelo MPT em 2008.