Andrea Felix tem dificuldade com as palavras. Falar sobre o próprio filho a faz entrar em um espaço cheio de emoções. O pequeno Oséias, de 8 anos, possui dificuldades típicas de aprendizagem na fala, na concentração e no desenvolvimento da leitura e escrita. Ele é uma das muitas crianças acompanhadas pelo Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA/UFRN) que auxilia no desenvolvimento de escolares com dificuldades de aprendizagem. Para Andrea, foi fundamental perceber a dificuldade de seu filho e imprescindível a ajuda do projeto.
Alunos com dificuldades de aprendizagem que chegam ao final do ensino básico com sérios problemas de leitura e escrita, ou quase não alfabetizados, representam 50% das crianças brasileiras, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). Pensando nisso, a psicopedagoga Ivone Braga Albino, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Natal (SME) e outras instituições, idealizou o projeto APOIAR: prática psicopedagógica como contribuição ao enfrentamento das dificuldades e transtornos de aprendizagem, favorecendo escolares no município de Natal. A iniciativa busca ofertar uma ação voltada a esse público, visando minimizar os danos que esses alunos estão expostos, com o apoio das escolas em que eles estão inseridos.
Em sua 4ª edição, o projeto retoma suas atividades presenciais, após os dois anos de pandemia, em parceria com as escolas municipais Djalma Maranhão, Bernardo Nascimento, Nossa Senhora da Apresentação e em uma quarta escola que será definida posteriormente. A ação permite que os alunos vivenciem situações cognitivas no próprio processo de pensamento, na construção do conhecimento e na busca da solução dos problemas de aprendizagem. Isso colabora para o afastamento do fracasso escolar e faz o aluno redescobrir o prazer em aprender.
O Apoiar acolhe crianças com dificuldades de aprendizagem de padrões típicos e atípicos, levando em consideração a influência do ambiente, família, escola, cultura e sociedade. A equipe executora considera a existência de fatores que podem prejudicar a vida escolar desses alunos, sendo preciso, portanto, conhecimento e capacidade de expressão das singularidades de cada um para favorecer suas aprendizagens. A iniciativa também oferta ações formativas aos professores e demais funcionários das escolas participantes, havendo, assim, uma formação continuada.
Além da pedagoga responsável, a ação conta com o apoio de profissionais externos, outros departamentos da UFRN, estudantes de graduação e de pós-graduação. Também colaboram com o Apoiar instituições de reabilitação infantil, em um trabalho multidisciplinar que é, constantemente, buscado pelo setor psicopedagógico da Universidade. No geral, participam do projeto profissionais das áreas da saúde, educação, psicopedagogia, pedagogia, fonoaudiologia, psicologia e outros.
“Como coordenadora do projeto, nesses quatro anos de edição, tento fazer com que a universidade, por meio do meu trabalho de psicopedagoga, faça cumprir o seu papel de contribuir, no âmbito da Educação Básica, com a realidade social, por intermédio de ações de caráter educativo, cultural, científico, tecnológico e de outras áreas envolvidas no processo de aprendizagem de escolares que estão em estado de vulnerabilidade social e também com um quadro de fracasso escolar”, afirma a coordenadora Ivone Braga.
Com esse projeto de extensão, a universidade, segundo Ivone, tenta retomar a teoria do déficit cultural, que vem servindo como justificativa para o fracasso escolar, principalmente na alfabetização desses alunos oriundos de meios sociais desfavorecidos. Contudo, também analisa que essa não é a única justificativa, outros fatores contribuem para esse cenário e precisam ser avaliados. Ela ainda apontou que o projeto continua sendo analisado pelos gestores das escolas e pelas assessoras da Secretaria Municipal de Educação (SME), as quais enxergam a ação como relevante para a comunidade escolar.
Fonte: Agecom/UFRN