Aclamado pela crítica, A pior pessoa do mundo traz a essência ímpar repleto de sutileza e reviravolta, sendo um filme é digno à sua indicação ao Oscar da qual recebeu, aonde entrega-se todas as emoções possíveis a quem assiste. Em seu melhor roteiro original e melhor filme internacional – categorias das quais a Academia o nomeio para cerimônia deste ano – são títulos que se encaixam bem para o resultado da produção.
A escolha do diretor Joachim Trier de narrar o filme em um prólogo, 12 capítulos e um epílogo, foi muito importante para o longa porque cria no espectador uma delicada e leve experiência de entender cada detalhe do longa sem nenhuma didática e explicações, aonde Trier consegue escancarar todas as aflições e anseios dos personagens, inclusive as hipocrisias de quem assiste.
A história gira em torno de Julie, vivida com maestria pela atriz premiada Renate Reinsve que transmite naturalidade até nas cenas mais profundas. A personagem carrega consigo uma personalidade complexa e muito bem construída com todas as inseguranças de uma mulher na sociedade, ainda que seja o alívio cômico do filme. Autêntica, a protagonista se mostra indecisa e inconstante passando por pressões corriqueiras da idade próxima aos 30, como a gravidez e a obrigatoriedade de uma ocupação concreta, já que ao longo de sua trajetória questões como essas não pareceram prioridades. É interessante acompanhar aos poucos o desdobramento das características da personagem que deixa claro os traumas que a fizeram impulsiva como é.
Os personagens secundários que compõe a vida de Julie também trazem um desenvolvimento muito característico. Aksel (Anders Danielsen Lie) é o homem mais velho que conquista com sua inteligência e a faz duvidar de tudo que já fez, flerta o tempo todo com suas próprias inseguranças e manipula muito bem as frases para incentivar a força da protagonista, que é grande, mas nunca maior que a dele. A composição das cenas, brinca com a imersão do público no filme que se aproxima de Aksel no início, mas quando Julie bebe do desejo avassalador do adultério, se afasta, já que sua prepotência fica cada vez mais clara em diálogos propositalmente longos e até maçantes.
A trama em volta das relações está sempre representando como as personalidades dos pretendentes se completam, fazendo com que o mesmo público cansado da arrogância de Aksel, torça pela traição e se arrependa com empatia quando em momentos difíceis o personagem supre expectativas inesperadas.
A fotografia é genial e carrega parte do reconhecimento do filme já que cenas fortes têm ainda mais peso quando a luz diminui e o enquadramento deixa subentendido o propósito do corte. O jogo de câmeras também é muito importante no longa e a representação da metáfora de ter o mundo todo parado para figurar sua história de amor, é um exemplo que remete exatamente a intenção do diretor de demonstrar a intensidade que a cena carrega.
Assim, o filme mexe com as emoções de um jeito muito curioso e cria uma sensação de ser pego nas próprias contradições. O feminismo também está integrado de maneira leve e engraçada que mais cativa do que propõe reflexão. Em resumo, transitando entre drama e comédia de identificação, a produção é inteligente, vale o ingresso e a experiência!
A pior pessoa do mundo, é o novo filme norueguês distribuído nacionalmente pela Diamond Films, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 24 de março.