Resíduo com valor agregado

A utilização inicial do vidro pela humanidade remonta aos tempos babilônicos, cerca de 7.000 a.c. A sua popularização, contudo, acontece algum tempo depois, no Egito Antigo, em datas em torno de 1.500 a.c. Essa época é marcadamente de grande influência da civilização egípcia, o que traz como efeito colateral a sua difusão para outros povos.

Esse panorama avançou e, na sociedade moderna, o vidro é um material essencial, basta olharmos ao nosso redor. Esse contexto atual faz emergir outra preocupação: os resíduos da sua produção, provenientes de vários momentos, como retalhos que sobram durante o recorte das peças, quebras no decorrer do processo ou materiais com qualidade inadequada para aquele produto específico.

Pensando nisso, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu e recebeu o patenteamento de um material poroso que transforma um resíduo em um produto de maior valor agregado. Denominado LPM-3, o material tem uma estrutura zeolítica do tipo MFI, o que significa a conjunção de três características principais: a presença de aluminosilicatos (materiais com alumínio, silício e oxigênio) na sua constituição, uma estrutura porosa bem definida e com tamanho de poros bem definidos. Essas propriedades fazem com que o produto tenha porosidade e estrutura bem definidas.

Sigla LPM, utilizada na identificação das patentes, vem de Laboratório de Peneiras Moleculares, local onde os estudos têm parte de seu desenvolvimento – Foto: Artur de Souza

Segundo Sibele Berenice Castellã Pergher, cientista que coordenou o desenvolvimento da patente, essas condições fazem com que esses materiais funcionem como peneiras moleculares, permitindo a seleção de moléculas pelo tamanho. O material patenteado poderá ser empregado em diferentes segmentos da indústria química, em processos como catálise, separação e adsorção. A professora do Instituto de Química da UFRN pontua também que materiais com a estrutura MFI já existem e são comercializados, contudo, não a partir do resíduo de pó de vidro.

Nesse ponto cabe um parênteses. Indústrias que utilizam o vidro como matéria-prima ou como embalagem para seus produtos sempre geram resíduos de vidro durante o processo. Apenas no Brasil, são produzidas cerca de um milhão de toneladas de resíduo de vidro por ano. De todo esse resíduo produzido, apenas 45% é reciclado. Esse resíduo reciclado tende a voltar para a indústria de vidro, produzindo materiais mais frágeis e com maior probabilidade de trincas.

Indústrias que utilizam o vidro como matéria-prima ou como embalagem para seus produtos sempre geram resíduos de vidro durante o processo. Esses resíduos gerados decorrem de perdas que, perdas por produtos descartados ou inadequados para irem ao mercado e outras possibilidades que levam estes resíduos ao descarte. O Brasil produz mais de 980 mil toneladas de resíduo de vidro por ano. De todo esse resíduo produzido, apenas 45 % desse vidro é reciclado. Esse resíduo reciclado tende a voltar para a indústria de vidro, produzindo materiais mais frágeis e com maior probabilidade de trincas.

Sibele Pergher coordena o LPM, cujos estudos já renderam quase 20 depósitos de pedidos de patente – Foto: Artur de Souza

Atualmente, a produção de zeólitas não é econômica, devido à pureza necessária dos reagentes, além do tratamento térmico a temperaturas superiores a 500ºC, processo de alto gasto energético. Uma das áreas de pesquisa promissoras é na utilização de novas matérias-primas que diminuam o preço e proporcionem os mesmos elementos necessários para a obtenção das zeólitas. “Percebemos aqui uma oportunidade interessante para o setor produtivo, razão pela qual o produto, o LPM-3, é já uma das causas da criação da start-up ZeoGlass”, frisa Sibele Pergher.

A invenção conta com a parceria da professora Dulce Maria de Araújo Melo, bem como dos alunos de doutorado Paloma Vinaches Melguizo e José Antônio Barros Leal Reis Alves, que no momento atuam na pesquisa e docência em outras universidades. Pergher explica que José Antonio já havia trabalhado com pó de vidro para síntese de um outro material – estudo que rendeu uma publicação científica. A partir daí, resolveram, com Paloma, trabalhar na síntese de novos materiais que, como fruto, resultaram nessa patente. “Depois, também tivemos publicação de artigos científicos e outra patente, a LPM4, empregando o resíduo de pó de vidro, que esperamos que também nos seja concedida a carta patente. A importância dessa patente, bem como de outras que estamos desenvolvendo no laboratório, é contribuir com a preservação do meio ambiente através de estratégias inteligentes de aproveitamento de resíduos, visando à produção e à comercialização de novos produtos”, colocou.

Em vídeo, Sibele falou um pouco mais sobre o produto, desenvolvimento e sobre a start-up

Vitrine Tecnológica

A UFRN mantém uma vitrine tecnológica com todos os pedidos de patentes e as concessões já realizadas, bem como com os programas de computador que receberam registro do INPI. A lista está disponível para acesso e consulta no site da Agência de Inovação (AGIR) (www.agir.ufrn.br), mesmo local em que os interessados obtêm informações a respeito do processo de licenciamento.

Dentro da Universidade, a Agência é a unidade responsável pela proteção e gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador. As notificações de invenção, passo inicial de todo o processo, são feitas por meio do Sigaa, na aba pesquisa. A equipe da unidade oferece suporte para análise preliminar do pedido, auxilia na escrita do depósito, indica necessidade de possíveis alterações e realiza os trâmites burocráticos, tal qual pagamentos das taxas.

Fonte: AGECOM/UFRN

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